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segunda-feira, outubro 30, 2006

Espero estar errado!

Não votei em nenhum dos dois candidatos a presidência do Brasil na eleição de ontem. Entre ter que pagar uma multa e votar, escolhi comparecer a sessão eleitoral e anular meu voto. Nenhuma proposta apresentada me convenceu. Pelo contrário, ambas, segundo meu entendimento, eram parte de um mesmo projeto.

Ainda ontem, devido os avanços da tecnologia, ficamos sabendo a esmagadora vitória obtida pelo presidente Lula. Foi reeleito e consagrado com uma votação expressiva. Em seu discurso após o resultado, afirmou que optará pelos pobres, mas governará para todos. Como fazer isso?

A população mais pobre e a pequena burguesia votaram maciçamente no candidato petista. Os primeiros, entre os quais os 11 milhões que já recebem a Bolsa Família, acreditando que Lula governa para eles já que abaixou o preço do arroz (!). Os segundos sonhando um dia viver o mundo que o governo lulista propicia os mais abastados. Assim como o governo anterior, o atual também possibilita que os mais ricos fiquem cada vez mais ricos. Enquanto distribuem migalhas para o povo, dedicam o recheio aos mais poderosos. Acredito que a economia é como um cobertor. Para cobrir todos alguém terá que ficar descoberto.

Como penso que os dois candidatos que disputaram o segundo turno eram parte de um mesmo projeto não votei em nenhum. E quando o presidente reeleito afirma que continuará governando para todos e privilegiará agora os mais humildes, penso que isso será muito difícil. Claro, espero estar errado e o presidente certo. Também desejo um país melhor, principalmente uma política que assegure para todas as crianças o sorriso estampado no rosto, bem alimentadas e podendo estudar e sonhar com um mundo diferente. Espero que esteja errado e o presidente Lula certo, possibilitando que o sonho de uma sociedade mais justa retorne às mentes do povo brasileiro (não apenas a diminuição do preço do arroz).

segunda-feira, outubro 23, 2006

Voto nulo porque ainda acredito na mudança.
















A política deveria nos dar uma consciência acima da maioria dos cidadãos. Ela nos dá informações que nos permite, aparentemente, ter mais clareza que aqueles que não se interessam por esse tema.

Será que um cidadão que está apenas preocupado em assegurar o cumprimento de suas obrigações para garantir o seu sustento e não se interessa pelo que os dirigentes de seu país fazem não está interessado em política? Bertold Brecht em seu famoso poema Analfabeto Político responsabilizou pelas mazelas que a sociedade vive todos aqueles que "batem no peito dizendo que odeiam política". Será que de fato essas pessoas são responsáveis pelas manobras e falcatruas que os dirigentes públicos cometem?

Dia 29 de outubro anularei meu voto. Nunca me enquadrei no estilo definido por Brecht, pelo contrário, desde a juventude estive integrado aos movimentos. Ainda garoto participei da luta pela anistia e o fim da ditadura. Foram quase três décadas de dedicação à politica. Dei meu sangue, minha juventude e meus sonhos. E onde chegamos depois que foi eleito, pela primeira vez na história nacional, um operário para presidente da república?

A política transformou-se em um grande negócio onde os líderes, inclusive alguns oriundos das lutas do povo e do movimento sindical, tornaram-se empresários da política. Seus parceiros, seus familiares, seus grupos assaltam descaradamente o Estado em benefício próprio. Pior ainda é que são tão cínicos que vão aos MCS e afirmam que está tudo bem.

Acredito que a política ainda é o caminho da mudança. No entanto a estrutura atual, com partidos-empresas, líderes-vendidos-traidores, demagogos de todas as espécies não dá para votar. O voto nulo é um caminho, neste momento, para protestar contra tudo isso. P. ex. Lula e Alkimim defendem a mesma política econômica e interesses e se dizem diferente. E ainda há gente que acredita nisso.

Se a sociedade não reinventar a política, construindo canais onde cada cidadão, seja o operário que luta por sua sobrevivência, o intelectual, o profissional liberal, o desempregado, ou seja, todos os homens e mulheres possam de forma direta decidir os destinos nada mudará. É preciso repensar a forma de fazer política, como está não sairemos da lama em que nos meteram.

O risco é que não havendo uma mudança caminhamos para a barbárie onde o terror se instale e a sociedade não mais possa assegurar a civilidade nas relações humanas. Ainda é tempo.

quinta-feira, outubro 19, 2006

O NOVO PT

Há muito tempo o PT abandonou sua origem operária, sua história de lutas e as suas propostas para transformar a sociedade. No início dos anos 90 foram expulsos do partido alguns grupos mais a esquerda, depois outros, até a saída do grupo, mais recentemente, que formou o PSOL. A organização de base, os grupos de estudo e ações de base foram abandonadas ao longo desse tempo, terminando por ser um partido formado por burocratas e cabos eleitorais contratados em períodos eleitorais.

O slogan da campanha de reeleição do presidente Lula "Não troque o certo pelo duvidoso" traz um fato novo e preocupante. Com essa consigna o partido assume uma posição conservadora e, pode-se até dizer, reacionária, ao reproduzir o velho discurso que propaga o medo do novo. A natureza sempre se renova quando faz algum tipo de troca, as pessoas sempre crescem e aprendem quando descobrem algo novo e as experiências novas na busca da solidariedade, fraternidade e justiça social sempre foram bem-vindas. O que não seria da humanidade se não existissem os ousados que sempre se arriscam para descobrir aquilo que aparentemente é duvidoso. Pedro Kilkery, poeta baiano do final do século XIX disse "olhos novos para o novo" e sempre é importante olharmos o novo com atenção e curiosidade.

Não estou afirmando que o candidato do PSDB seja o novo, pois ambos, Lula e Alkimim, defendem a mesma plataforma econômica e política, o que quer dizer que os dois representam o velho. No entanto um partido que nasceu do seio da luta democrática, das lutas sindicais e da luta do povo, sustentar-se com um discurso conservador e incentivando o medo é muito perigoso. O mimetismo petista tem sido assustador.

O que virá em seguida de um partido que retrocede tanto é preocupante. A sua história tem sido de expulsões, autoritarismo e conchavos com setores que sempre exploraram o povo. Graças a esses acordos conseguiu eleger, em 2002, o seu candidato a presidente. No entanto não esperávamos que mudasse tanto, negando suas bandeiras, sua história e lutas desenvolvidas e aliando-se ao que há de pior na política nacional.

Oxalá o senador Cristovan Buarque esteja errado quando afirmou que o lado autoritário petista predominará caso o presidente Lula seja reeleito. Apesar de tudo estarei com minha consciência tranquila, não votarei em nenhum dos dois candidatos a reeleição, anularei meu voto e continuarei a semear sonhos e esperança na construção de uma sociedade mais fraterna e justa. Que nome terá não sei, mas com certeza não será o capitalismo criminoso que coopta pseudos líderes de trabalhadores.