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sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Luz da vida

Dores brilham estrelas na escuridão,
iluminando sonhos perdidos no tempo.

Viver é sonhar,
semear a luz do novo tempo,
onde se possa sempre colher alegria.

Tudo tem nada,
uns pensam ser
para viver,
sempre,
querendo mais ter.

Dores lembram olhares,
fechados na escuridão
de sementes híbridas.

A vida é híbrida,
o tempo parece sem fim,
glutões e orgulhosos prevalecem,
a estupidez predomina,
filhos destratam seus pais
que não mais choram.

O tempo vem e vai,
deixando apenas as estrelas
das dores iluminando
novos caminhos e horizontes.



segunda-feira, fevereiro 12, 2007

10 anos sem Renato Russo

Quase duas horas de volta no tempo. Foi isso o que senti durante a apresentação da peça "Renato Russo", monólogo apresentado por Bruce Gomlevsky e dirigido por Mauro Mendonça Filho. Com todas as cadeiras ocupadas e muitas extras o Centro Cultural Banco do Brasil - CCBB, de Brasília, mais uma vez, mostrou um grande expetáculo. Conseguir o ingresso foi uma maratona. Foi preciso enfrentar grandes filas, depois de ter que chegar às 7 da matina para conseguir comprar. E todos ingressos da semana eram vendidos em um único dia ainda pela manhã. As filas eram enormes, inclusive com distribuição de senhas. Muita gente saudosa e ansiosa por ver esse grande show.

O ator Bruce Gomlevsky, com uma apresentação impecável, representou Renato Russo por quase duas horas. O compositor foi mostrado desde a infância, quando viveu, aos 8 anos, em Nova Yorque, até seus útlimos dias de vida. Ainda criança o cantor adquiriu o interesse pela música. Adolescente, depois de um acidente, foi obrigado a viver por dois anos em uma cadeira de rodas. Preso em seu quarto curtia muito rock. Sua solidão lhe trouxe uma grande empatia com Bob Dylan, eu grande inspirador. Sempre foi muito ousado e questionador. Sua juventude, em Brasília, foi muito conturbada. A capital federal foi, e ainda é, um centro energético de uma juventude privilegiada e também contestadora, muitos sem saber a causa, porém, como o criador do Aborto Elétrico, o Trovador Solitário e da Legião Urbana, muitos tem claro o que buscam. E Renato entregou-se completamente a música.

Suas composições foram cantadas durante a apresentação, fazendo o público acompanhar com muita empolgação e envolvimento as canções apresentadas. Lágrimas correram. Relembrar velhos sucessos da Legião Urbana foi voltar no tempo. O tempo em que se lutava pelas eleições diretas para presidente do Brasil, o afastamento de Collor e os grandes shows fazendo a juventude ficar completamente esperançosa e sonhadora. Tempos passados, tempos modernos passados no tempo.

Interessante que em 1988 fui candidato a vereador, na cidade de Ananindeua, Pará, pelo PSB, partido que presidia. Fiz toda a campanha tocando "Que país é esse?". Tentava sensibilizar as pessoas com a canção da Legião. Muito rock e questionamento. Não fui eleito, o país continuou o mesmo, com "sujeira pra todo lado" e logo depois perderíamos Renato Russo.

Durante o show no CCBB pode-se ver também todas as crises existenciais que o cantor viveu. A sua saída do Brasíl depois do show em Brasília, quando brigou com o público, siginificou um importante marco em sua trajetória pessoal e profissional. Foi viver em Nova Yorque, onde viveu seu grande relacionamento amoroso. Voltou ao Brasil depois de ter o seu dinheiro confiscado pelo governo Collor e a mãe de seu filho ter falecido.

São dez anos sem Renato Russo. Dez anos de saudades desse grande poeta mobilizador e questionador do sistema. Mesmo sendo Renato, assim como Cazuza, filho da burguesia, um privilegiado, compôs e cantou o novo, o sonho de um mundo novo, "quem me dera acreditar que todas as pessoas fossem felizes", já dizia.

Um show imperdível. Valeu a pena enfrentar horas na fila para assistir.