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terça-feira, julho 03, 2007

Tentação















Passo o tempo
vendo a rua,
canto a lua,
sem dono,
sem grana,
sem documento.

Ando ao relento,
árido no olhar,
seco d'água.

Passo o vento,
vendo o olhar,
canto sem vida,
entrépido calmo,
lento passo,
cantando dor.

Partículas cósmicas,
sons terráqueos,
corações braseiros,
almas carnívoras.

Passo o olhar,
vendo o vento,
canto o tempo,
um passo lento.

Levado ao vento
esvoaçando-se mar,
espumas brancas,
cabelos molhados,
corpos sedentos,
esquálidos ao sol.

Passo vendo
vento tempo,
sem parar,
levando estrelas.

Soleiras à mostra
de olheiras verdes,
cansadas do tempo.

Nada rio,
vendo orvalho,
dormindo nas manhãs,
colhendo paixões,
sempre ávidos,
vendo o vento
sentado ao sol.


44

Quem diria,
aqui cheguei.

Imaginava um caminho mais curto,
onde somente o prazer predominasse.
Tinha um sonho que era pequeno,
acabando cedo.

O tempo fez tudo diferente.
O prazer foi mais intenso,
tanto quanto a dor,
os sorrisos e os choros.
O sol esquentou mais
enquanto a lua permitia
o canto ficar mais encantado.
As estrelas da mesma forma que surgiam,
caiam em desbragada alegria
enquanto os apaixonados faziam pedidos.

As flores que nem conhecia
adentravam em minha alma
deixando sulcos
que talvez
o tempo nunca apague.

Sementes antes híbridas,
brotaram sonhos coletivos.

O tempo passou deixando mais forte
a força de germinar sempre.
Os olhares ficaram mais brilhantes,
as palpebras mais pesadas
de esperança que a dor se vá
deixando em seu lugar
a disposição de sementes boas
brotando nas manhãs.

O tempo enriquece tanto
que nada acabará,
será eterna a fé na luta
do povo que resiste em defesa da vida.

Tudo remoçou o olhar da vida
mais desejada e cantada
nas noites de solidão
e contando estrelas que se foram...

Aqui cheguei
e mais longe irei,
enquanto as flores mais força
adquirem nos sonhos das crianças,
desejosas por um abraço e um beijo,
enquanto pedem esmola
no farol da rodoviária
(de Brasília).
O tempo germina a rebeldia
que fará a vida ser
para todos,
não somente desejos,
não somente sonhos,
mas sempre o amanhã
que virá e fará
a felicidade ser coletiva.

Quem diria,
o tempo passou 44 anos
e um sonho de décadas
permanece:
semear a confiança
na vida,
nas flores,
nas estrelas,
na lua cheia,
no povo conquistando
o amanhã.

Aqui cheguei,
longe,
muito mais longe,
cantarei.