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quarta-feira, janeiro 16, 2008

Memória - Rosa Luxemburgo












(Ernesto Germano – janeiro/2008)


Final de tarde em Berlim. A data é 15 de janeiro de 1919 e a Alemanha havia sido derrotada em uma guerra contra a qual uma voz feminina de coragem inigualável havia se levantado. Anos antes de iniciada a guerra, Rosa Luxemburgo havia denunciado seus prenúncios e alertado os trabalhadores para o risco de uma guerra imperialista como a que se aproximava. Com Lenin, Rosa dirigiu-se à Internacional pedindo que cada um dos membros, em seus países, lutassem contra a guerra. E foi traída por alguns dos seus próprios companheiros que, sob o falso manto do nacionalismo, acabaram apoiando a aventura dos grandes capitalistas da época.


Rosa, “a vermelha”. Rosa, a voz do socialismo alemão mais conseqüente, lutadora ao lado do operariado. Mais que isto, Rosa precursora das lutas feministas e antimilitaristas, a Rosa que odiava todas as guerras e as denunciava como manobras do imperialismo mundial.


Terminada a guerra, Rosa dirige-se aos poderosos cobrando as vidas perdidas e os prejuízos à sociedade. E não vacila em apoiar o levante dos operários de Berlim, estando à frente das mobilizações. E, quando a polícia e as tropas alemãs se voltam contra os trabalhadores, sufocando o levante, Rosa volta com sua palavra certeira: “A ordem reina em Berlim! Ah! Estúpidos e insensatos verdugos! Não vês que vossa ordem está erigida sobre areia?”


Era demais! O panfleto intitulado “A ordem reina em Berlim”, datado de 14 de janeiro, foi seu último escrito(2). Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, seu grande companheiro de lutas no seio do movimento e dentro do partido, são presos e conduzidos ao Hotel Eden, no centro de Berlim. Soldados da recém criada “tropa de assalto” ficam responsáveis pela “guarda” dos dois revolucionários que deveriam ser conduzidos à prisão onde aguardariam julgamento.


Mas manter vivos dois lutadores do povo, dois líderes do movimento, e ainda permitir que se defendessem publicamente era muito arriscado. Na noite do dia 15 de janeiro, no saguão do hotel, uma mulher de 48 anos apenas, apesar dos cabelos já bem grisalhos, é conduzida aos empurrões e tapas pelos soldados em direção à carruagem que supostamente a levariam para a prisão. Karl Liebknech já havia sido espancado pelos soldados, à vista de todos, e Rosa recebe uma coronhada no rosto antes de ser jogada dentro do veículo.


Mas os dois lutadores não chegaram à prisão. Karl é fuzilado e jogado para fora da carruagem em movimento. Pouco depois, sobre uma ponte de um canal, a carruagem faz uma parada e soldados lançam um corpo às águas. O soldado Otto Runge, seguindo ordens do tenente Vogel, assassina Rosa Luxemburgo à coronhada, esmagando-lhe o crânio.


Como era início do inverno, Rosa Luxemburgo só foi encontrada meses depois, durante o degelo. O tenente Vogel e o soldado são “anistiados” no dia 10 de janeiro de 1921.

(fonte: Boletim NPC, de 15 a 31 de janeiro 2008)