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sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Seguindo o tempo

Gota do tempo me fez tempestade.
Semeio ventania,
escuto murmúrios dos pássaros
nos cantos d'alma
sem vento, nem saber.

O que sou?

Luzes me cegam,
embrutecem meu olhar.
Nem te vejo
na solidão que sou
cantando flores
enquanto contas moedas.

Vento?

A história ilumina
semeada de sangue e desejos.

O que fazer?

Vou esperar a cguva passar,
as flores desabrocharem,
as aves me mostrarem o rumo
e continuar seguindo
o destino do tempo.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Berlim homenageia os 100 anos de Olga Benario Prestes

de Carlos Albuquerque
da Deutsche Welle, na Alemanha



Juntamente com Anita Prestes, filha de Olga Benario e Luís Carlos Prestes, a galeria berlinense inaugura "pedra de tropeço" em homenagem aos 100 anos da revolucionária alemã de origem judaica, vítima do Holocausto.

Olga Benario Prestes estaria completando 100 anos nesta terça-feira (12/02). Como ponto alto das homenagens que presta ao seu centenário, a Galeria Olga Benario de Berlim inaugura "pedra de tropeço" em frente ao último endereço que a revolucionária ocupou na capital alemã.

A "pedra de tropeço" em homenagem à Olga Benario, instalada na calçada da Innstrasse 24, no bairro berlinense de Neukölln, será inaugurada por sua filha, a professora Anita Prestes, que nasceu em Berlim quando sua mãe estava na prisão feminina de Barnimstrasse.

"Pedras de tropeço" são pequenas placas de latão cravadas nas calçadas dos prédios onde moraram vítimas do Holocausto. Nelas, estão escritos o nome, data de nascimento, data de deportação e uma referência ao local e data de morte da vítima. A idéia partiu do artista alemão Gunter Demnig. Hoje, já existem mais de 13,5 mil marcos deste tipo espalhados por quatro países europeus.

Ação cinematográfica
Olga Benario nasceu em Munique, em 12 de fevereiro de 1908. No início dos anos de 1920, os arquivos policiais da República de Weimar já a classificavam como "agitadora comunista". Juntamente com seu parceiro, o comunista Otto Braun, ela se mudou aos 17 anos para Berlim-Neukölln, onde se tornou membro ativo da Juventude Comunista.

Olga Benario e Otto Braun ocuparam um apartamento na Innstrasse 24 em Neukölln, tradicional bairro proletário berlinense. Foi neste endereço que foram presos. Logo libertada, Olga organizou a ação espetacular que resgatou seu companheiro Otto Braun da prisão de Moabit.

Em abril de 1928, Olga e camaradas de Otto Braun disfarçados de estudantes de Direito invadiram a sala de audiências para onde Braun era levado. Subjugaram os policiais e libertaram o preso. Após a operação, Olga e Braun fugiram para Moscou, onde Olga trabalhava para o movimento trabalhista internacional.

Intentona Comunista
Com Luís Carlos Prestes, Olga Benario partiu de Moscou para o Rio de Janeiro, em 1935. Durante a viagem, os dois se apaixonaram e tornaram-se um casal, vindo a organizar a Intentona Comunista de 1935.

Após a fracassada tentativa, Olga e Prestes foram presos e, apesar de protestos internacionais, ela foi entregue, em 1936, grávida de sua filha, à Gestapo pela ditadura varguista.

Em setembro do mesmo ano, Olga foi enviada à Alemanha. Em 27 de novembro de 1936, nascia Anita Prestes na maternidade da prisão feminina berlinense da Barnimstrasse. No começo de 1938, Olga foi separada de sua filha e enviada para o campo de concentração feminino de Lichtenburg.

OIga Benario Prestes teve ainda que passar três anos no campo de concentração de Ravensbrück, antes de ser enviada para a câmara de gás em Bernburg, em 1942. O endereço da Innstrasse 24, em Neukölln, foi sua última morada como cidadã livre na Alemanha.

Em 12 de fevereiro de 1984 a Associação dos Perseguidos pelo Regime Nazista/Associação dos Antifascistas (VVN/VDA) fundou a Galeria Olga Benario em Berlim-Neukölln. A galeria informa que três motivos justificaram a escolha do nome de Olga: por ser mulher, por ter uma relação próxima com o bairro de Neukölln e por ser uma internacionalista.

A galeria foi inaugurada com uma exposição sobre a vida de Olga Benario, que, para além da lembrança como revolucionária comunista, vem se tornando, nos últimos anos, um exemplo de coragem feminina para muitos alemães.

Talvez por isto, os temas das exposições da galeria se expandiram para solidariedade internacional, imigrantes e asilo, movimento feminista, sindicatos, entre outros.

Em comemoração aos 100 anos da revolucionária e aos seus 24 anos de existência, a Galeria Olga Benario convidou Anita Prestes, filha de Olga Benario e Luís Carlos Prestes, para inaugurar a "pedra de tropeço" na calçada do último endereço berlinense de sua mãe, Olga Benario Prestes.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Medo e dor.

Preocupa-me o comportamento de muitos jovens e adolescentes neste tempo que vivemos. O individualismo, o egoísmo, o imediatismo, o consumismo e uma busca pelo sucesso a qualquer preço me traz uma sensação de medo e uma dor desconhecida.

Tenho conhecimento de muitos casos de adolescentes e jovens que não se preocupam em conhecer a sua história ou da humanidade, nem se preocupam com o futuro e nem demonstram querer transformar o presente. Não gostam de conversar, discutir ou falar sobre os assuntos que não sejam relacinados ao seu tempo.

As escolas que deveriam servir como pólo orientador da importância da história da humanidade, formam jovens única e exclusivamente voltados para atender os interesses do sistema, especialmente do mercado. As escolas educam jovens alienados em determinadas áreas, sem uma visão global de sociedade, nem de mundo. Repassam conhecimentos específicos e limitados. Conhecimentos transversais que passam a impressão de conhecimentos gerais. Termina formando jovens pedantes e arrogantes, com uma visão equivocada, imediatista e estreita.

Os valores predominantes são a ascensão social e econômica, buscando para isso atender os interesses do capital. São formados jovens com comportamento altamento individualista e egoísta. Vários instrumentos são utilizados para que a juventude reproduza esses valores, indo desde às religiões aos jogos eletrônicos. A internet, inportante instrumento do mundo moderno, deixa seus usuários cada vez mais voltados para si. Essas pessoas vivem um mundo virtual, deixando de lado a relação presencial com amigos, colegas e familiares. Muitos nem mesmo se interessam mais em viver as relações reais, trocam esta pela ilusão, pelo virtual. Prevalece o interesse pela satisfação imediata, instantânea.

Isso tudo faz aprofundar os valores do individualismo. Os interesses coletivos, sejam familiares ou de uma comunidade são deixados de lado. Vale apenas aquilo que interessa ao usuário, aos interesses do indivíduo. Muitos passam a viver única e exclusivamente apenas para si, como se o mundo fosse apenas seu. O que importa são seus interesses e projetos individuais. Os seus amigos, familiares, colegas e os demais habitantes do planeta nunca são levados em consideração. Junta-se a isso o hedonismo do presente, que se sustenta na busca pelo poder, alcançado, segundo os valores atuais, com o acesso a riqueza. Assim se terá felicidade, podendo comprar o que se desejar, especialmente aquilo que é de marca e propagado pela mídia.

Para se chegar a essa realidade tem que ser rápido. O tempo é o mesmo da internet. Assim é a alimentação, são os relacionamentos, são os projetos, são os sonhos. A influência da mídia é poderosa. Até crianças passam a escolher a marca que desejam usar. Jovens vivem com essa finalidade. Tudo é muito rápido e superficial. Principalmente as relações, das familiares às exteriores existentes na sociedade.

Imaginar que esses adolescentes e jovens serão os dirigentes do Estado e do mundo amanhã deixa-me com medo. Se a realidade atual mostra a existência de dois terços da população do planeta passando necessidades, o que ocorrerá amanhã, quando o mundo será dirigido pelos adolescentes de hoje, os quais são imediatista e individualistas? Isto me assusta. Ao mesmo tempo me deixa com dor de estômago diante da impotência em nada pode fazer.

Assim mesmo continuo acreditando que é possível semear valores e comportamentos, onde a solidariedade e o respeito à vida e aos outros, especialmente aos mais velhos prevalesça. Os mais velhos ainda poderão ensinar um mundo onde a fraternidade, a curiosidade, a ousadia e a busca da justiça determine os passos, contrapondo-se ao desespero pela ascensão econômica desejada por esses jovens.

É preciso uma ação coletiva para resgatar a esperança e a busca pela descoberta das lutas por um mundo mais justo e fraterno aos mais novos, sob pena de cada vez mais aumentar o fosse entre os poderosos e a maioria da população planetária. Não vamos perder tempo. Ainda é possível agir.

PS. Felizmente minhas filhas, Marlua e Mariana, não se enquadram no retrato de jovens e adolecentes apresentado acima.