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domingo, fevereiro 21, 2010

Controle remoto



Passos rumos ao sol,
Molham-se em lágrimas às escuras
Diante de pedras caminhantes
Fugindo do calor
Tão frias que se tornaram.

Olhares que não vêem,
Observam o lado,
Nem parece sexta-feira,
Os tamborins ainda tocam
Espalhando fagulhas na escuridão.

Mãos estão trêmulas
Abraços desapertados
Frouxos não levantam vôo,
Rastejam na esplanada.

Gritos são sufocados,
Aparelhos de TV dominam,
Medos despontam
De controles remotos
Em cabeças, mentes e corações.

O sol quer ver flores,
Flutuar a beira-mar
Em corpos sepultados
Para semear manhãs.

Passos encharcados na escuridão
Brilham contra o vento,
Querem o tempo que não quer chegar
Risos nascendo em flores pelas avenidas.

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Pouso noturno





A noite é uma fornalha,
O sangue fervilha em busca do mar,
Que me chama em movimentos
Universais de flores, rochas e ventania.

Quem não me quer?
Quem não ouve meus reclamos?
Quem me deixa sozinho à beira da estrada?

Meus passos travam pesados como planetas,
Circulam em universos sem deixar lágrimas borbulharem
na luz cósmica transformada em semente de alegria.

Tropeçar faz animar as nuvens em seu vôo,
As águas ficam mais puras e ensaguinoladas
Repletas de gritos de êxtase sufocados.

As estrelas pululam nas entranhas da floresta,
Vagalumes festejam o breu da existência
Cheia de cantos, desencantos e encantos.

A noite chamusca a dor do abandono,
Da descrença e das sementes murchas
Em crianças vendidas em bordéis na esplanada.

O sangue precisa navegar,
Voar alto,
Ser gaivota
Pousando na areia.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Cinema Invictus, rumo à vida.






Ver os filmes de Clint Eastwood anima a alma. Consegue reproduzir personagens da vida real com a verdadeira magnitude humana. Em Invictus mostra a capacidade de Nelson Mandela mudar a realidade, mobilizando o esporte e deixando uma semente de nação. O filme não ecoa apenas os gritos dentro do campo de rugby, ilumina os gritos da história de resistência do povo sul-africano e o coração do primeiro presidente negro desse país.

Em Gran Torino, Eastwood transforma um veterano da guerra da Coréia, antipático e solitário, que não fala com os vizinhos migrantes do Laos, em amigo e defensor dos moradores da rua. Toda a rudez e agressividade podem virar ternura e fraternidade. Já em Menina de Ouro, assim como em Gran Torino, a morte aparece levando os protagonistas. Antes de atravessarem o rio da vida, a essência dos protagonista, seus sonhos, conquistas e dores brotam das telas.

Invictus é a história real, recente e viva de um povo que derrotou o apartheid. Mandela, depois de 27 anos preso em uma cela de 12 metros, tornou-se presidente da África do Sul. Transformou o tempo, as relações humanas, políticas e almas com a maestria dos deuses. “Sou capitão da minha alma”, escreveu no poema inspirador da conquista que o filme retrata.

Imobilizador, ainda posso dizer sobre os filmes de Eastwood. Não me lembro de alguma vez, após assistir uma de suas películas, tenha tido pressa para levantar da poltrona e sair da sala. Com muita simplicidade, em Invictus, Morgan Freeman faz o papel do presidente que acabou com o apartheid. Sabe-se que ali é uma representação, assim mesmo, viaja-se na alma da história desse homem único. O mesmo pode-se afirmar dos protagonistas de outros filmes. O diretor tem conseguido mostrar que ainda viveremos a humanidade, como dizia Milton Santos.