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terça-feira, fevereiro 19, 2013



Folhas verdes,
não são vermelhas,
nem amarelas,
nem furta-cor,
nem sem dor,
não saem da árvore
nem se importam
com a força da ventania.

Pcb

Despertar



Arde o sangue,
repulsa do fogo
que queima a fé,
assusta o olhar,
deixa as palpebras despertas,
como brasas
acordando a noite.

Pcb

No duro



Como pergunta,
os olhos observam,
a vida, o espaço.

Meus braços
procuram te conquistar,
na terra,
na flor.

Com olhos novos,
olhar o futuro,
no duro
acreditar.

Pedro César Batista - 1997

Sacra - menta



Cheiro de terra sacra,
quase menta,
santa (im) pura.

Gosto de tucupi,
jambú paralisante
na cuia.

Quente e ardente
na ponte do Galo,
Sacra - menta,
pura - santa.

Cheiro de terra
com seus santos,
leva o andor
nas águas barrentas
do Guajará.

@ Pedro César Batista

Igualdade x Liberdade

Aos nossos filhos

Por Pedro César Batista

É bastante antiga a discussão sobre o que é mais importante, se a igualdade ou a liberdade. Os defensores de cada uma das posições usam os mais variados argumentos. Desde a busca pela explicação da existência humana, com os religiosos dando sua versão, ou com a fundamentação liberal de que cada ser deve se preocupar em ser produtivo e capaz de estar inserido e com sucesso no mercado. Os mais diversos argumentos são utilizados para privilegiar a liberdade. A pós modernidade trouxe a certeza de que se precisa apenas viver o momento, o passado e o futuro não importam. A igualdade é um retrocesso, alguns chegam a dizer.

Cresce a defesa da liberdade, fundamentada no direito de consumir, usufruir os bens descartáveis produzidos pela revolução tecnológica, de vivenciar cada vez mais as oportunidades que fortalecem o individuo em detrimento da comuna, dos grupos sociais, especialmente os mais fragilizados econômica e intelectualmente. A liberdade propalada é do tamanho do poder aquisitivo de quem poderá usufruí-la, compra-la em lojas de magazine em luxuosos Shoppings Centers.

O Estado que deveria servir a toda à sociedade, especialmente aos mais necessitados, cada vez se torna mais excludente em suas ações, mais eficaz no atendimento aos interesses dos que controlam a riqueza, o conhecimento e à política. Os governantes, independente de partidos, transformam-se em serviçais dos valores do sistema que se sustenta no individualismo e consumo.

O personagem representado por Maria de Medeiros, na peça Aos nossos filhos, de Laura Castro, afirma durante um diálogo para a sua filha: “Hoje vocês podem escolher, no passado, nem isso podíamos”. Usou o argumento para mostrar que os que lutaram contra a ditadura e foram obrigados a enfrentar as piores adversidades, tais como a tortura e a morte, não tinha outro caminho, a não ser o da luta renhida e dura. Enquanto a juventude da atualidade preocupa-se predominantemente pelas questões da individualidade, em detrimento da busca de um sonho coletivo.

Claro que esse comportamento não se limita a juventude, assim como os que ainda combatem os conceitos propalados pelo liberalismo são de todas as idades. O que importa não é a faixa etária, mas a necessidade de se romper os valores que se sustentam no lucro e no consumo. É preciso resgatar a história, os sonhos e a utopia em um mundo onde todos tenham a igualdade de oportunidades de acesso ao conhecimento, à dignidade e aos sonhos.

O texto da peça Aos nossos filhos mostra o que conquistamos e entregamos aos jovens da atualidade, apesar de estar literalmente tudo dominado pelos valores liberais, pode-se viver a liberdade do debate e das discussões, sem o medo do “desaparecimento”. Diante desse quadro qual será a herança deixada aos meus netos, bisnetos e tataranetos. O que virá?

Espasmos



Solenemente o paciente vira cliente,
O supérfluo se torna necessidade,
O norte se perde em escadas rolantes.

Um ar radioativo invade almas,
Contadas por contas bancárias,
Gerando tumores malignos em cifras.

Vale tudo pelo instante,
Ser feliz em cores radiantes,
Não importa se em fumaça
Feita em latas e cabeças vazias.

Festeja-se a escuridão,
Dentro de aparelhos entubados
Que não levam ao mundo de Alice
Ou ao planeta de Saint-Exupéry.

Descobrir novamente o novo,
Dar asas ao povo,
Sem se abater em fadiga
Dos passos cansados pela desilusão.

@ Pedro César Batista – 2013
Meu coração é minha bússola,
não tem receio em erguer os punhos,
combater a morte,
nem semear rosas e sonhos.

Pcb

Flores vermelhas





Marchas enfrentaram o passado,
Muros registraram sonhos,
Abraços desencontrados nas noites
Seguiram caminhos diversos,
Filhos agora deixam os pais em pé.

Amigos de combate no poder,
Velhos camaradas defendendo o Estado,
Sem transformar a estrutura,
Carcomida pelas traças do capital.

Palavras confundem-se ao entardecer.

Organizações gerenciam o sistema,
Líderes se esbanjam em banquetes,
Vozes solitárias se dizem coletiva.

Dores romperam a escuridão da mentira,
Propagaram flores de todas as cores,
Ainda vermelhas e sem desbotar,
Nascidas em corações pulsantes.

Caminhar sem medo da traição,
Nem da solidão do sonho,
Nem aspirando salários pagos pela Justiça,
Onde poucos sorvem a felicidade.

Tentar ler olhares sinceros,
Viver abraços fortes e longos,
Sorrisos acreditando que nada foi em vão.

Seguir as flores que enfrentam
Ervas daninhas e sorriem ao amanhecer.

@ Pedro César Batista

sábado, fevereiro 02, 2013

Leve longa chuva



Passos anotam a história,
Deixam quadros indeléveis
Pendurados na parede do tempo.

Abraços são encharcados em sangue,
Misturam-se a terra
Que recebe sementes estéreis,
Desbotando desgostos e prantos.

O menino de dentes apodrecidos
Prossegue pedindo trocados,
Carece cheirar a fumaça que lhe anima,
Fazendo-lhe crer que ainda vive.

Sonhos viraram preleções oficiais,
Escritas sem alma em máquinas frias.

Encargos viraram cargos,
Espaços de poder para ter
Serviçais dóceis e submissos.

A chuva leve longa persiste,
O homem parado no farol
Continua correndo entre os carros,
Insiste,
Gesticula dramaticamente,
Olha nas janelas,
Que permanecem fechadas
Com motoristas assustados.

Ideais vêm e vão como o mar,
Continuam chocando-se em rochas
Amedrontadas que mais se enrijecem.

A voz macia da jovem bela jornalista,
Espelhando o medo no olhar,
Propaga o medo antes da novela
E incentiva comprar sonhos em Shopping Center.

O homem continua entre os carros,
Bate nas janelas
Que não se abrem.

Ele persiste.

@ Pedro César Batista - 2013