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quarta-feira, dezembro 30, 2015

Há muita poesia para germinar.



Por Pedro César Batista


Um novo ano se aproxima. O ano que fica deixará ensinamentos sobre a necessidade de se conhecer a história do desenvolvimento humano e da sociedade. Reafirma-se a necessidade de se saber de onde viemos, como aqui chegamos e ter claro para onde desejamos ir. Em algumas horas entraremos no 16º ano do século XXI, meu 52º ano de aprendizados e descobertas, mais de meio século de vida e sonhos.

Na adolescência acompanhei os estertores da ditadura de 1964. Presenciei a polícia com seus cães nos atacar porque queríamos democracia. Quantas vezes a polícia esteve em nossa casa para intimidar e ameaçar. Conheci o arbítrio, com invasões de domicílios, prisões arbitrárias, espancamentos, torturas e mortes. Certa vez fui agredido fisicamente pelo delegado Mário Malato, dentro do DOPS, após ser preso devido uma greve, enquanto outros companheiros eram brutalmente espancados.

A luta do povo levou a mudanças, as quais foram conquistadas e legitimadas pela Constituição de 88, que trouxe um arcabouço jurídico assegurando a liberdade, direitos e o direito a participação na definição dos rumos do país. Trouxe uma democracia que manteve o controle nas mãos de poucos, apesar de assegurar a liberdade de se organizar, manifestar e pensar. O voto não mexeu com nenhuma estrutura.

Dias depois da promulgação da Constituição a UDR, comandada por Ronaldo Caiado, matou meu irmão, João Batista. A UDR, organização paramilitar, impediu importantes avanços durante o processo constituinte, além de ter assassinado centenas de defensores da reforma agrária. Assassinos e torturadores, no lugar de serem punidos, tornaram-se parlamentares, seguiram impunes.

Ainda assim, companheiros chegaram ao governo, mudanças ocorreram, nenhuma estrutural, consolidando a liberdade, apesar do mercado e dos EUA seguirem controlando sonhos, desejos e almas. Cada vez mais sutis e poderosos. A Guerra da Quarta Geração segue em curso, destruindo nações, propagando mentiras e arregimentando seguidores. A luta de classes não deixou de existir, apenas adquiriu novos formatos.

Os novos tempos trouxeram novos paradigmas, propagados e sustentados pela mídia, igrejas e a educação, baseados no individualismo e no desconhecimento do passado da história, provocando uma ruptura com o tempo de desenvolvimento social que nos permitiu chegar aos dias atuais. Predomina, em muitos casos, o imediatismo, hedonista e dissimulado, criado pela sociedade de consumo, unicamente voltado para a satisfação de interesses privados e conservadores.

Se em 2015 vivemos o surrealismo de jovens defendendo a volta dos militares e a propagação avassaladora de mentiras históricas, torna-se premente retomar o fio do tempo, dar-lhe uma direção que priorize a continuidade do desenvolvimento das liberdades, do respeito e da dignidade humana. 2016 será um ano de intensos combates, dos quais não fugiremos, somente reforçaremos nossas trincheiras, nossos ideais e sonhos. O tempo segue, há muitas sementes para espalhar, muitas luas para vivenciar e muita poesia para germinar.



sábado, dezembro 19, 2015

Vibrar



Ah, o olhar!!
Sem ferrolhos
Nem portas
Espaceando pelo luar
Aguçando o amanhã.
Ah, o mar!!!
Sem fronteiras
Nem porteiras
Nem propriedades.
Ah, o pulsar!
Coração vermelho
Corajoso
Audacioso
Vibrar sem susto.
Amanhã
Raiara o sol
Fará chispas
Incendiará o mofo
Traças sem graça fugirão.
Ah, abrir os olhos!
Ver
Aprender a cantar
Colher rosas vermelhas.
Ah, caminhar!!!!

PCB

Inexorável

Nada sei do amanhã
Apenas que é inexorável
Nada sei da mentira
Somente que predomina 
Ainda assim venta
Sonhos e resistências
De todos os tempos
Em todos os mares
Em todos os cantos
Janelas se abrem
Sementes se espalham e se espelham
Olhares refletem batalhas
Flores coloridas
Rosas vermelhas despontam
Castelos se desmoronam
casebres se erguem
Cabanos ressuscitam em cada olhar
fogueiras se acendem
Nada sei do tempo
importa recolher lenha
fazer labareda
espalhar acalentos
cantos e o novo
que desponta
como o desabrochar de uma flor.
pcb