Páginas

quinta-feira, janeiro 21, 2016

Autorretrato social



sou sem rosto
morador sem teto
colocado na marginalidade
homossexual discriminado
mulher violentada
criança faminta

sou sem cores
jovem desempregado
sou assassinado
pela polícia covarde

sou da África,
fui sequestrado
fizeram-me escravo

sou operário
sou lavadeira da beira do rio
sou boia fria

sou as mãos
sou os pés
sou o trabalho

sou do campo
sem-terra
planto comida
que falta em meu prato

sou diarista
lavo banheiros
limpo chão
cozinho e sirvo

respiro fogo
minha pele não tem cor
cheira mal
durmo sob marquise

sou discurso
sou promessa
sou número

sou sem rosto
sou condenado
sou descartável
sou sem cores


quarta-feira, janeiro 06, 2016

Quem sou.




Sou negro, um jovem negro. Mais um.
Sou índio, uma criança indígena. Mais uma.
Sou palestino, uma criança palestina. Resistindo.
Sou mulher, uma jovem mulher. Combatente.
Sou trabalhador, desempregado. Organizado.
Sou da periferia, do mato, da aldeia. Sou da colmeia.
Sou quilombo, conquisto o amanhã. O novo.
Vivo em cabanas, ergo o sol. Faço vida.
Semeio e colho alimentos,
Pesco em todos os mares,
Alimento o mundo.
Minha voz não sai na mídia,
Minha voz é sufocada, resiste,
Embala o fogo da vida. Grita, sem medo.
Enfrento as balas da polícia,
As mentiras dos poderosos,
Preconceitos dos moralistas religiosos.
Sou o povo,
Cantando sem medo de sicários,
Capaz de fazer esperança na dor. Florir sorrisos.
Sou o olhar que não se esconde,
O abraço que não se afrouxa,
O passo que não vacila. Marcha, firme.
Venho dos morros,
Das favelas e dos acampamentos. Levanto utopias.
Venho do amanhã,
Quando o ontem nada mais será que um quadro,
Um triste e velho quadro pendurado na parede,
Encardida pelas lágrimas de tanto sorrir
E bailar para a lua. Vermelha e cheia.
Sou o povo que não se curva,
Sou a vida que não morre,
Disposto a derramar o sangue,
Fazer flores onde a terra ainda está árida.
Sou o fogo que não se apaga. Sou labareda.