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quinta-feira, setembro 15, 2022

Ainda haverá tempo?



Onde deixei meus passos?
Não miro mais flores,
um agreste cheio de espinhos,
olhares assustados olham-se nos espelhos.

Uma prolongada noite persiste.

Meu coração ainda pulsa,
minhas veias seguem latejantes,
sou sangue por todo o corpo,
não apenas nos olhos.

Onde ficaram meus sorrisos,
a alegria do encontro, do amanhecer?

Um silêncio ensurdecedor grita em meus pulmões,
será saudade do trago que não dou,
tristeza pelos rios assoreados,
apagamento de sentimentos verdadeiros?

Ainda viverei o canto da dignidade,
sentirei o aroma de jasmim, o orvalho da massaranduba, o frescor do cuidado?
Onde andam as trincheiras,
transformadas em redes virtuais?
Amizades se transformaram em curtidas (se muito).

A terra secou,
sementes deram outros frutos.

Ainda viverei o luar?
Ainda será tempo de florescer?

Pedro César Batista

quarta-feira, abril 20, 2022

Brasília, flor nascente

Sonho de Bonifácio,
no meio do cerrado unir o Brasil.
Projetos ousados de JK, Niemeyer e Lúcio Costa.
Acreditaram na utopia.

Candangos de todos os cantos
acreditaram no paraíso enquanto caiam,
como pássaros sem asas de suas obras.
Padioleiros nem deixavam o corpo esfriar.
Quantas ilusões concretadas?
Dizem:
os mortos do Pacheco,
- muitas versões -
permanecem sob cimento.

Curvas e ipês,
todas as cores,
brilho e céu encantador.

Em largas avenidas máquinas poderosas circulam.
Nos faróis, pedintes imploram e vendem almas.
Barracas e barracos
brotam como cogumelos ao amanhecer.
Precisam de tudo.
Sede e fome.

Melhor qualidade de vida,
desejo comum,
destroçados por pás mecânicas,
esmagando acampamentos.

Altos funcionários,
altos salários,
luxuosas mansões com seus carrões.
Burocratas não tem ideologia.
Discursos, poesias, tribunas e púlpitos,
todos os tipos e gostos.

Brasília,
campeã nacional em desigualdades,
cantada por todos,
miseráveis e poderosos.

Pobres defendem o fascista.
Cidade de direita, reacionária, conservadora,
com um discurso identitário,
libertário e opressivo.

Vale ter,
crachá, títulos, ações na Bolsa.

O paraíso desejado,
projetado em pranchetas,
não foi esquecido,
nem deixado de lado.

Em frente ao Museu do Índio,
uma foice sustenta teu construtor,
tal um martelo.

És sexagenária, com mais dois anos,
uma recém nascida no tempo histórico.
Não decepcionarás teus criadores,
com suas mãos calosas,
crianças correndo no barro vermelho empoeirado,
enquanto levantavas monumentos, prédios e abria túneis.

Teu tempo, Brasília,
ainda nem começou,
haverá o dia que serás uma flor do cerrado,
vermelha como teu barro,
justa como teu luar,
onde todos poderão amar.

Pedro César Batista

quinta-feira, novembro 18, 2021

Amanhã



Ontem pensei que hoje seria o amanhã.
Ainda não aconteceu.
A verdade da mentira segue oficial.

Assassinos históricos,
Torturadores impunes,
Escravocratas sem pudor,
Louvam em púlpitos,
Falam em nome da liberdade,
Deuses e seus milionários ganhos.

Ainda acredito no ontem.

Zumbi ousou fazer um novo Estado,
Dar dignidade ao seu povo.

Babeuf foi fuzilado propagando o hoje,
Que ontem Lenin mostrou ao mundo.

Dezenas de homens públicos,
Assassinaram Marighella em uma tocaia,
Apenas por lutar pela utopia.

Olga deixou Anita,
Prestes venceu todas as batalhas,
A mais longa marcha,
Que segue espalhando horizonte.

Acredito em exemplos.
Discursos precisam corresponder aos atos.
Fora disso,
Basta a demagogia burguesa.

Acredito em abraços fortes,
Olhares brilhantes,
Corações pulsantes.

Pátria ou morte,
Fidel e Che seguem ensinando.

Amanhã não será de três caras,
Nem da dor da fome ou falta de teto.

Amanhã faremos outro mundo,
Somos este jeito de fazer,
Somos ação por pão e amor.

Germinar o amanhã
Como saborear um beijo,
Festejar o povo na rua,
Consciente e organizado,
Disposto a vencer a morte.

Nada de sorte,
Semeadura e colheita.
Acredito que o ontem colherá o amanhã.

Hoje é ontem e amanhã.

Pedro César Batista

quarta-feira, abril 21, 2021

Virgulando



Virgulei, tornei-me Virgolino.
Mesmo ainda com dois olhos que não são cegos,
a continua ajuda de duas lentes, vejo mais e mais.

Sigo virgulando, convivendo entre cactos, aroeiras e angicos,
Calangos e cobras, sou sobrevivente.
Sou vírgula, sirvo a um mesmo rumo.

Nem é noite,
só o tempo é sombrio,
um calor que esfria,
uma claridade que alumia sem dó.

Algumas horas sou reticências, aprendo mais.
Evito ser exclamação, gosto de desvendar enigmas,
ser interrogação encanta, nunca assusta.
As dúvidas fortalecem.
Certezas sempre se questionam,
obrigam-me recomeços,
constroem pontos e virgula,
contrapontos e desencantos.

Virgular para fortalecer o comando,
consignas justas e envolventes.

Ser Virgolino, levar a parabelo sempre carregada,
com ela embaixo da rede estendida,
no peito enquanto o chão é meu leito,
pronto para abrir fogo.
No escuro ver a claridade,
uma pontaria certeira,
sem confundir o alvo.

Sou Virgolino, sempre virgulando,
sem medo de pontos finais.

Pedro César Batista Pedro César Batista

domingo, janeiro 31, 2021

Imensidão



A falta abunda.

Ausência de alteridade
- nem importa a idade,
abraços nos olhares,
acalento em todos os ventos.

Sobeja a falta de afetos.

Arrogantes e individualistas
propagam-se com orgulho,
sem esconder fazem barulho.
Seguidores de assassinos,
falam em nome de um Deus.
Quem se diz diferente,
em seu desespero por status,
não tem pureza nem justiça.

Reina uma solidão.

Não é escuridão,
são luzes intensas,
sem nenhum brilho,
sem nenhum calor,
sem nenhum amor.

Falta ar,
o solo se distância,
reina um vazio.

Por todos os lados,
sobra desamor.

Pedro César Batista

Arte: José Carlos Costa (Tricontinetal - Brasil)

sábado, janeiro 30, 2021

Encarnado


Letras marginais disformes,
Lapidam encontros em utopias,
Formar canteiros de fuzis cantantes.


Declamam poemas sem susto nem pressa,
Desencontros em quadras sem rima.
Não querem anúncios em redes nada sociais,
Cobiçam colorir céus com todas as cores.

Querem espalhar acordes nos muros,
Não aprender a cantar,
Nem soletrar o sepulcro do mercado,
No desemprego que não desencanta,
Nem apaga a solidão,
Insistente em cada olhar,
Em cada tecla que crê ser única.

Palavras como chispas,
Espalham-se sem fronteiras.
Enfrentam pontos sem ponto desapontadas,
Uma teia que não se forma.

O Bem-te-vi briga pela pétala vermelha
Não desiste.
O vento lhe ajuda.

A chuva parece chegar,
Cartas manifestos histórias,
Querem brotar.

Insistem em espelhar brilhos,
Sem espelhos,
Nem desesperança.
Sem ilusão.

O horizonte encarnado
Me chama me clama.
Encanta cada letra.

Pedro César Batista

domingo, janeiro 24, 2021

Pedro César Batista lança Sobrevivência e resistência. Tempo de pandemia e utopia

Sobrevivência e resistência: Tempo de pandemia e utopia, o 16º livro do jornalista, escritor e poeta Pedro César Batista, reúne uma coletânea de artigos escritos a partir de 15 e março, começo da pandemia da Covid-19 e será lançado dia 29 de janeiro, durante a edição do Fórum Social Mundial de 2021, que acontecerá entre os dias 23 e 31 de janeiro.

Os textos analisam a indiferença da sociedade diante da necropolítica do governo federal, que tem causado a perda de milhares de vidas. Apesar disto, o que se vê é a falta de alteridade com a dor das vítimas e uma ausência de disposição por parte das forças de esquerda no enfrentamento à política governamental, liderada por um ex-capitão, expulso do exército. O chefe do Planalto lidera uma facção das Forças Armadas, especialmente alguns generais, da ativa e reserva, que negam o coronavírus, a ciência e propagam a Covid-19, a principal causa das mais de 210 mil mortes no Brasil.

Como explicar a desmobilização, apatia e desarticulação das forças de esquerda com centenas de milhares de mortes, a retirada dos Direitos Sociais, a destruição do Meio Ambiente, o desmonte e a entrega do Patrimônio Nacional ao capital internacional? Estes pontos permeiam os textos de Pedro.



Nunca foi do desconhecimento público os crimes do ex-deputado Bolsonaro, os quais se tornaram mais frequentes e duros após a sua eleição para a Presidência, entretanto, como explicar que em dentro do Estado Democrático de Direito, mesmo com pouco tempo de duração, uma pessoa com tantos crimes fosse eleita para o cargo mais importante do país.

Qual o papel desempenhado pelas das forças de esquerda no atual momento histórico? Devem atuar em busca de uma nova composição com as elites, aceitar todas as contrarreformas que retiraram direitos da classe trabalhadora? Organizar-se somente em busca de um bom resultado eleitoral em 2022? Buscar hegemonia no campo popular e democrático, sem atuar para construir uma unidade estratégica com um programa efetivamente popular e de esquerda?

Não é um livro não é para acadêmicos, apesar que pode lhes interessar, já que os artigos tratam do distanciamento dos debates teóricos e das direções de esquerda das bases populares, a falta de formação ideológica da militância, o desconhecimento e negação das experiências revolucionárias no processo civilizacional, especialmente na atual fase em que os setores indentitários buscam o protagonismo, negando a luta de classes.

Sobrevivência e resistência: Tempo de pandemia e utopia é um conjunto de artigos que serve à militância e para gente do povo, que precisa realizar esse debate sobre a ruptura com o capitalismo, única forma de avançar na construção da dignidade humana.

O autor começou a publicar há mais de 40 anos, mesmo tempo que se dedica a militância por democracia, justiça social e a dignidade humana. O conjunto de sua obra é formado por poesia, contos, romance e pesquisas jornalísticas.

Serviço

Lançamento - 29 de janeiro, às 18h, no Fórum Social Mundial 2021, com debate virtual com os prefaciadores, Marcos Fabrício Lopes da Silva, Doutor e professor em Literatura e José Lima da Silva Filho, advogado e romancista, autor de Tocaieiro Sanguinário e o autor, Pedro César Batista.

Editora ArtLetras
Preço: R$ 20,00 (E-book)

Informações:
pcbatis@gmail.com
61 98322 9805

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