Páginas

sábado, junho 10, 2017

Opacidade



As cortinas se fecham.
Luzes continuam acesas.

Olhares ávidos se ofuscam,
Querem mais e mais e mais.

Um vício insaciável.

Nem chegou ainda o dia.

O palco permanece resplandecente,
Tanto quanto a lua,
Sem luz própria.

Espelho.

Cada reflexo um umbigo.

Saramago mostrou a epidemia.

Os cães ladram,
Veem e se assustam.

Quando a cortina se levantará?
Quando se verá o outro?
Ver-se no outro.

Uma escuridão sem fim.

Pedro César Batista

terça-feira, fevereiro 07, 2017

Flutuar em sonhos e sonos letárgicos,
alicerçados em passos de um novo tempo
encantado e cantado nas avenidas da história
encontrada, desencontrada e conquistada
em abraços, braços e passos seguindo.
Sem ilusão,
cantar a solidão do mercado
suicida do vento,
cantador em lábios vermelhos e em vozes brancas, negras, amarelas,
espalhadas sobre o mar,
emaranhado de cores, olhares e luzes,
acendendo a vereda de um tempo
que insiste em desabrochar nos cantos,
de sonhos semeados na memória que persiste.
Insiste em voar pelos continentes, pelos ouvidos entrar,
tornando-se rochedos nas multidões que resistem.
Flutuar em um tempo que ainda não nasceu.

batendo a porta


Não será o medo nas ruas,
nem o cinismo de vendedores de sonhos cinzentos,
nem a dor explodindo em cabeças,
a seca em olhares com brilhos artificiais.

Há uma semente que não morre, resiste e desabrocha,
provoca a claridade em céus, afugenta a escuridão
e espalha flores vermelhas.

A rouquidão da alegria enfeitiça o tempo,
provoca gargalhadas em manhãs que
estão a bater nas portas.


Cortinas do tempo



Um dia o tempo passará e as cortinas se fecharão.
O sabor do fel se transformará em girassol
e a imagem cinzenta ficará translúcida.
O palco será a avenida da colheita,
semeada pela entrega e o cuidado com os sonhos.
Então abraços e sorrisos se encontrarão em manhãs ensolaradas.