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domingo, setembro 01, 2013

Combater a escuridão



Por Pedro César Batista

Durante encontro com populares debatendo a questão ambiental, onde apontava como uma das causas dos danos provocados à natureza o consumo exacerbado, um estudante da UnB saiu com a seguinte preciosidade: “não me vejo sem ser capitalista”. O jovem, com no máximo 20 anos de idade, mora na periferia de Brasília, é filho de família remediada e a sua opinião, consciente ou não, me provocou maiores preocupações com o futuro do planeta e da existência da espécie humana.

O Brasil, no final do mês de agosto de 2013, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ultrapassou os 200 milhões de habitantes, os quais em quase a sua totalidade recebem as informações de alguns veículos de comunicação, sendo que o mais poderoso, a Rede Globo, chega a atingir 99% do território nacional, sendo em muitos lugares a única fonte de informação e acesso a programas culturais. Quantos milhões desses brasileiros têm como única fonte de acesso ao mundo apenas a telinha, do canal de televisão citado ou dos outros que não chegam a meia dúzia?

Necessariamente isso provoca uma hegemonia no pensamento, fazendo com que se reproduzem inúmeros conceitos e discursos propalados, pasteurizando o pensamente como se este fosse uma rocha e não uma ventania, capaz de se transformar a cada novo instante o olhar e o pensar da sociedade e do individuo.

Essa homogeneização do pensar faz com que a liberdade e o indivíduo se tornem conceitos sagrados, tanto quanto os deuses propalados pelos religiosos. A conjugação desses conceitos, para Hannah Arend, possibilitaria a existência de “um mundo politicamente organizado no qual cada homem livre poderia inserir-se por palavras e feitos”. Isto dito significa que o prioritário deve ser a garantia da individualidade livre e que tivesse assegurada não apenas o pensar, mas a garantia do poder ter e ser.

O pensamento se tornou completamente dominado, com o controle na informação, na educação, nos valores éticos e morais, o qual se cristalizou no pensar elaborado e propalado pela poderosa comunicação controlada mundialmente. Para partes significativas da população a história da humanidade acabou, não havendo a possibilidade de se sonhar ou acreditar que ainda haverá um tempo que os conceitos propalados pelas corporações, grandes acionistas e poderosos será transformado, possibilitando a criação de uma nova relação social, onde o consumo, a acumulação e a busca desesperada para ter acesso ao status quo deixe de existir.

Infelizmente se observa que jovens, como o citado no início deste texto, existem em grande quantidade. Mesmo sem conhecerem o processo histórico, em face da manipulação da mídia e do poder econômico, controlador de governos, escolas, universidades e pensamentos, possuem uma arrogância das crianças burguesas, que tem os criados para atender seus desejos.

Assim como os danos ambientais são fruto da lógica capitalista, com o consumo desenfreado, o egoísmo exacerbado e a acumulação de riquezas criminosas, também há os jovens, trabalhadores, homens e mulheres que ainda ousam sonhar e combater a exploração e a maldade criada em mentes de jovens que não têm a liberdade de ser solidários, apenas sendo seres medíocres e tolos que reproduzem, sem pensar nem questionar, nada que o capital e suas correias de transmissão propalam.

O tempo é como o vento, assim como o pensar, caminha com uma velocidade histórica que transforma a espécie humana em simples alimento aos sonhos, que podem ser o de seguir a marcha suicida imposta pelo capital ou a ousadia dos que ainda têm utopias, mesmo correndo o risco de sofrerem as agressões de jovens alimentados com os mais vis desejos e que acreditam que poderão ser senhores dos negócios.

Esse tempo de descrença e violência vem de muito tempo, fazendo que os mais fracos e alienados se tornem apenas um tijolo da opressão e exploração, servindo aqueles que de fato detêm o controle de mentes e sonhos. Para romper esse tempo é preciso conquistar a liberdade de eliminar a imposição do único pensar, o qual não passa de um vampiro, sugando o amanhã e a solidariedade. Porém, sempre é tempo de levar o fogo aos que vivem na escuridão, como fez Prometeu.

terça-feira, julho 02, 2013

Cinco décimos



I

A porteira se abriu,
germinou outro tempo,
fez a chuva florir sorrisos.
A manhã ainda não havia chegado.
Tudo começou com um choro.
Deslocamentos e sonhos vieram,
determinaram os passos,
a busca trouxe a mata densa,
com seus cheiros e cores,
flores brancas, amarelas, multicores,
o leite das árvores como alimento,
o urro das onças como espanto,
o canto dos pássaros como inspiração,
goiabeiras, cajueiros e sombras
para saborear a vida e as descobertas.

II

O chão batido da casa,
coberta de madeira,
assegurava o calor e segurança,
que todos deveriam ter.
O calor do fogão a lenha
aquecia os corpos,
alimentado pelas caças, aves
e tudo colhido da terra,
que desvirginada,
perfumava os desejos
de uma criança na floresta.

III

Nas noites estreladas,
pirilampos dançavam,
saltitantes apontavam estrelas cadentes,
cometas desconhecidos,
os planetas distantes,
entre as luzes
da lamparina piscando.

IV

Ver a cidade se formando,
primeiras classes,
Pra frente Brasil,
a seleção canarinho foi campeã.
Soldados amontoados em caminhões,
verdes confundem-se com as árvores
e circulam para matar.
Levam armas assassinas oficiais.
O Araguaia pegava fogo,
jovens erguiam sonhos,
resistindo a dor e a morte,
institucionalizadas.
Na pequena vila,
a beira da estrada,
vejo tudo acontecer.

V

Belém apresenta suas luzes e cores,
novas descobertas descortinadas,
sons, avenidas e mangueiras,
servindo seus frutos com a ventania.
Ver - o - peso, a baia, praias e livros.
O homem de gravata de bolinhas,
primeiro filme no Olímpia.
Jogo de bola nas várzeas da Cidade Velha,
paqueras em Batista Campos,
os bailes de carnaval no Forte do Castelo,
os banhos nos igarapés de Benfica.
O mormaço da Presidente Vargas
alimenta noites e caminhos.

VI

Ocupar as ruas,
muros transformam-se em tribunas,
lousas revolucionárias coletivas.
A tremedeira do primeiro discurso.
Anistia ampla, geral e irrestrita,
queremos nossos combatentes livres,
abaixo a ditadura,
meia passagem aos estudantes.
Minhas primeiras passeatas,
a prisão no quartel,
a cavalaria avança e atacamos
com poemas e palavras de ordem
estudar, organizar e resistir.
A aurora despontava nas alamedas
da história construída com coragem e luta.

VII

O sangue prosseguiu a encharcar a terra,
Com um tiro encomendado,
Acertou Gabriel Pimenta,
Outras mortes, muitas mortes se avultam.
Uma nova república nasce envelhecida e carcomida,
Mentindo em nome do povo,
Que luta e combate pelo novo homem e pelo novo mundo.
Nada importa para os matadores,
A carnificina segue seu séquito cínico,
Protegida pelo Estado.

VIII

Como um rio em período chuvoso
Matam meus heróis por defenderem o povo,
Formam-se corredeiras em meio a frágil democracia,
Inundando as alamedas de dores e resistência.
Vem uma estação na ilha de Camilo,
Aprender com o povo e Fidel combatendo,
Forjando outro amanhã
No coração da manhã ensolarada do Caribe.
A Frente Brasil Popular é golpeada,
Logo o marajá é caçado do poder,
A Globo segue manipulando
Mentes e manhãs
Sem nenhum escrúpulo.

IX

Nada apaga as dores,
Seguir a ventania,
Semeando furacões,
Explodindo corações,
Erguendo corpos,
Rompendo trovões,
Grilhões e letargias.
Agora há duas flores
Para adubar e cuidar.
Um tempo maduro,
Terra sem porteiras,
Hortas coletivas,
Casas suspensas
Esvoaçando sonhos.

X

Passa o tempo,
Sem pressa,
Manhãs preguiçosas,
Rompendo a escuridão,
Seguindo caminhos desbravados
Encharcados de nomes e combates.
Nem parece muito,
Tudo foi um piscar de olhos.
Vem mais ainda,
Outro meio século.
Vem fazer o fogo,
Fagulhas da vida propagar.
Jorrar cantigas
Com o povo nas ruas,
Romper cercas,
Aniquilar o sistema podre,
Brindando ao novo que chega.

Pedro César Batista - 29 de junho de 2013

quarta-feira, junho 05, 2013

Venta forte



Derrubar fronteiras,
cantar a intifada planetária,
uma intermitência contínua,
até aniquilar o medo,
enterrar a desesperança
e erigir um novo horizonte
com oliveiras carregadas,
resistência sem susto,
o sorriso se espalhando.

Quantos árabes ainda morrerão?

Quantos guaranis, pataxós, mundurucus será preciso enterrar?

Quantas crianças ainda precisarão morrer?

Nem as mentiras da TV ou dos sermões
deterá o vento,
com suas tempestades
sangrando almas e corpos
com punhos erguidos.

(pcb)

Fim de tarde



Por detrás da Esplanada,
em plena tarde de domingo,
a criança tenta apanhar goiaba,
outra vem pedir moedas.

Sua mãe lava roupas,
em uma torneira no fundo do ministério.

Um bebe espera no carrinho.

Os cabelos longos da menina,
com o olhar de sobrevivente,
avança sem destemor,
acostumada com a dor e a fome,
para pedir.

Sua infância foi aniquilada,
cata coisas, comidas e resiste.

A menina da goiabeira,
como uma guerreira anuncia a defesa,
fala firme como fosse ser agredida,
pronta para atacar.

A mãe continua esfregando as roupas,
as crianças acalmam,
ainda acreditam na vida,
enquanto as goiabas verdes saciam a fome.

© Pedro César Batista - 2013
Foto minha.

aquecer

Passos da história,
ondas em movimento,
avançar sobre rochas,
seguir um novo tempo,
aquecer utopias,
semear indignação,
resistência fazer brotar nos olhares,
em braços abraçados
pela vida e por manhãs
ensolaradas distribuir flores,
de todas as cores,
em cada canto do amanhã.

(pcb)

Terra pensa


Nem sabe o sol que a lua o espera ,
sedente e cheia de desejos.

Nem imagina a terra,
o prazer da semente em germinar.

Cantando a ventania acredita espalhar esperança,
perfumar os olhares e amainar os sentimentos.

Ainda assim as crianças permanecem logo ali,
espalhadas pelos faróis pedindo moedas.

(pcb)

segunda-feira, maio 13, 2013

Falso positivo



Forte guerreiro,
Animado para (re) começar,
Sempre (re) construir a luta,
(Re) Fazer a resistência,
(Re) Animar a esperança.

Falso positivo comprovado,
Ainda estás jovem,
Sem nada atrapalhando a circulação
De sonhos, do sangue e do ar
Que leva o perfume do amanhã.

Cantas a manhã como se fosse criança,
Cantas a luz como se fosse o sol,
Cantas a vida como uma mãe,
Cantas a luta como mar
Avançando sobre o tempo e a terra.

Forte guerreiro,
Derrubaste os meus,
Um em Abade, outro em Peruíbe,
Sem avisar,
Fizeste um vazio aparecer,
Então vens assustar-me,
Ameaçando parar o baile da vida.

Muito ainda se entregará,
Fará dos sonhos anima de Fênix,
Inspirando labaredas para semear,
Semear em tua cor,
Vermelha,
As flores e suas sementes.

(PCB)

segunda-feira, abril 29, 2013

Pedro César Batista lança Relatos sobre o amor na Feira Pan – Amazônica do Livro



O escritor e jornalista Pedro César Batista lançará em primeira mão durante a Feira Pan – Amazônica, no dia 4 de maio, às 18h, no Estande do autor Paraense o livro Relatos sobre o amor.

O livro, que é o 15º título do autor, é uma coletânea de contos – relatos sobre situações relacionadas ao cotidiano das pessoas comuns, tratando de relacionamentos, buscas e crises existenciais provocadas por encontros e desencontros.

Segundo o jornalista Guido Heleno no livro Relatos sobre amor “os ambientes e personagens alteram-se, com extrema realidade, incorporando o dia a dia de muitos, de tantos – crianças, jovens, adultos, idosos, homens e mulheres – mas com a linguagem literária adequada”.

Para o Guido Heleno “Pedro César Batista é desses escritores atentos, para os quais a vida em sociedade não é apenas seguir rotinas e roteiros. Seu olhar crítico, consubstanciado na vivência rica em participação e lutas, permite a ele exercer o talento de escritor, seja em verso ou em prosa, com louvável e reconhecida qualidade literária”.

O autor editou livros de poesias, biografias e um romance. Relatos sobre amor é sua estréia com um olhar novo e uma nova proposta na literatura, trazendo por meio de relatos da vida cotidiana a pluralidade, do mundo atual, sentimentos e paixões em 13 contos, a maioria sobre a alma feminina e suas buscas.

O primeiro lançamento de Relatos sobre o amor ocorrerá na Feira do Livro – Pan – Amazônica do Livro de Belém. Estão marcados novos lançamentos para Brasília (25.05), São José do Rio Preto (SP), em junho e em agosto no Rio de Janeiro, Salvador e Santos.

Serviço:

4 de maio de 2013, sábado, 18h.
Estande do Escritor Paraense
Feira Pan – Amazônica do Livro
Belém – Pará
Informações:
pcbatis@gmail.com
(61) 8322 9805
pedrocesarbatista.blogspot.com

sábado, abril 27, 2013

In - certeza



Onde andará Atena que não vem?

Viver como Penélope,
Satisfazer a dor para alimentar o amor,
A espera de Odisseu é o caminho?

Quem sabe Zeus desistiu da justiça?

Ou então as flores foram arrastadas pelas ondas,
Deixando apenas as memórias vazias?

Onde andará o sonho?

Calipso ainda tenta sequestrar a esperança?

A fúria de Poseidon alimenta o medo,
Um medo tão grande como suas águas geladas e furiosas.

Onde andará Atena que não vem?

Dançar conforme a música não faz bem,
É preciso fazer Penélope ter seu amado.

É preciso dar a Odisseu a paz dos guerreiros.

© Pedro César Batista - 2013

segunda-feira, abril 22, 2013

Bússola

Meu coração é minha bússola,
não tem receio em erguer os punhos,
combater a morte,
nem semear rosas e sonhos.

Pcb

Domingo



Domingo bate a máquina,
estender as roupas,
esquentar a panela
fazer pressão no fogo,
no coração que amolece.

Domingo sem frio,
para se aquecer,
sem chuva
para se queimar,
sem lua para poetisar.

PCB
Finda março,
abril vem para trazer o novo,
sementes brotarão,
o fogo fará a dor virar cinzas.
É necessário voar,
fazer tempestade,
desabrochar o novo.

(pcb)
,

Soltam-se as estrelas,
navegam em balões coloridos,
sustentam-se em seus horizontes.

Flutuam sobre o descaso,
sem se assustarem com o dia.
Soltam-se as partículas do encontro.
Flutuam em meio da terra,
abandonada e firmes.

(pcb)

Brasília central



Cidade com as cores das borboletas,
com o traço das aves libertas,
com a terra cor de sangue,
encharcada pelo suor dos seus construtores,
candangos e poetas de obras levantadas no cerrado.

Nem sou teu filho,
nem tua cria,
nem teu amante,
nem teu amor,
somente aprendo com tua diversidade,
ser lagarto em teus sonhos,
nas lutas de teu povo,
no grito de teu ventre,
que germina a esperança e um novo tempo.

Voo em tuas asas,
esperando pousar em um tempo,
onde tuas belezas e encantos sejam coletivas,
onde tua forma de borboleta
seja o céu assim todas as manhãs.

(pcb)

quinta-feira, abril 18, 2013

Escuridão



Cada olhar mira a alvorada,
Ambiciona arrebatar o vento ensolarado,
Difundir o canto dos pássaros apaixonados,
Sem temor se não deteriorar as palavras,
Nem assombrar o tempo.

Será que ainda saberemos aliciar o amor,
Ou semear girassóis?

Quem sabe nada aprenderemos,
Nem consideraremos as dores e martírios alheios.

Jamais dançaremos ao anoitecer.

O clamor será silencioso,
Nada refletirá,
Nem destroçará a solidão.

As palavras esmagadas,
Tentaram germinar e não crescerão,
As páginas permanecerão em branco,
Manchadas por café.

A opacidade do som ensurdecerá os semblantes,
Que contemplaram o lado
E tentarão dissimular abraçando o horizonte,
Com rochedos ecoando para o alto.

Não sabemos a direção,
Não importam os sulcos da história
Alagados em sangue e lágrimas,
Movidos pelo impulsos fluímos
Ladeados com a obscuridade.

Os motins dos sonhos se fecham,
Levantam fortalezas em cabos cibernéticos,
Reproduzidos em telas na palma da mão,
Que vibra buscando flores,
Sem saber cultivar o coração.

Uma vermelhidão apodera-se da íris,
Marcas cartelizadas ajuízam fantasias,
Cobiçadas por uma sede sem fim.

© Pedro César Batista – 2013

terça-feira, abril 16, 2013

Relatos sobre o amor



O livro Relatos sobre o amor fala dos (des) encontros, satisfação e vivências nos relacionamentos.

Destaca-se no livro a voz feminina com suas dores, superações, conquistas e experiências no mundo patriarcal.

O livro Relatos sobre o amor, de Pedro César Batista, envereda principalmente no universo feminino, ao apresentar uma combinação da angustia e a satisfação da conquista da liberdade e de rebeldia que algumas mulheres conseguiram obter com suas marcas indeléveis, apesar do machismo, ousaram enfrentar o patriarcado.

Integrado por 13 contos – relatos, onde prevalece a voz feminina, o autor destaca nos textos homens e mulheres com suas práticas comuns e revolucionárias, sempre reproduzindo uma busca pelo seu par, levando a encontros, provocando a solidão e o prazer, com as idiossincrasias da pós-modernidade, marcadas, ainda, pela moral judaico – cristã.

A assessora de imprensa paraense, Ana Lúcia Araújo, que vive há 20 anos em Portugal, diz sobre o autor que “Encontra no texto a coerência e a frontalidade que se espera de quem parece se propor como “um olho a mais” em cada um dos seus leitores. Um olho que não fecha, que está sempre vigilante”. Diz ainda que Pedro “escreve sobre a vida, sobre a morte, sobre o amor entre as pessoas, a amizade, a natureza, com a revolta e a calma que devem alimentar constantemente todas as histórias e mudanças. Leio-o e penso no quanto foi difícil fazermos a lição do Che e endurecermos sem perder a ternura. Ele vai conseguindo”.

Wanessa Dias, professora de língua portuguesa, destaca no prefácio que “há nos relatos ora uma satisfação momentânea do gozo, ora encantos e o sofrer deles e por eles, quando o tempo, por isso, não é capaz de fazer desaparecer os bel-prazeres um dia conhecidos e, por vezes, sonhados. Não são, por isso, caminhos meramente refeitos ou acúmulos de episódios e lamúrias num enredo bem estruturado”.

Relatos sobre o amor é o 15º livro do autor, que publicou seu primeiro título Tudo tem, em 1979, ainda no mimeógrafo. Nesse tempo enveredou em diversos mundos das letras, escreveu biografias, um romance e dedica-se à poesia. Seu livro anterior, Candeeiro do tempo (Verbis – 2010), é uma coletânea que reúne poemas de três décadas. Realizou lançamentos em Portugal e em Nova Iorque (EUA), na ONU, além de diversas capitais e cidades brasileiras. Quando iniciou seu trabalho teve as dificuldades inerentes ao tempo da ditadura, que serviu apenas para alimentar a sua letra de resistência e sua militância por vida e libertação.

Serviço:

Relatos sobre o amor será lançado em 04 de maio de 2013, sábado, às 18h, no Estande do Autor Paraense, na Feira Pan – Amazônica do Livro, em Belém (PA).

Relatos sobre amor

Autor: Pedro César Batista
Thesaurus Editora
Brasília – DF - 2013
132 p.
R$ 20,00

Informações:
pcbatis@gmail.com

Ainda



Quantos gritos retornam às gargantas,
sem sair do umbigo de quem quer espelho?

Quantas vozes se perdem no som do vento,
sem formar tempestade,
nem se deixar virar arco íris nas manhãs?

Quantas crianças ainda batem o pé,
sem perceberem que o tempo passou,
fazendo-as adultas em suas idades quase senil?

Quantas palavras são espalhadas,
sem saírem das molduras de egos alucinados?

Ainda assim os besouros, pesados, barulhentos,
resistem e voam,
sem medo das alturas.

Ainda assim as manhãs espalham a luz da lua,
que não quer ir para outras terras,
desejando reunir as vozes, os sonhos e abraços,
fazendo um céu vermelho sobre o mar.

Ainda assim há vozes....

(pcb)

quarta-feira, abril 10, 2013

Desbotada



Palavras pálidas,
desbotadas buscam o brilho do calor,
distante e (des) coladas no vento
que não é um rio de flores,
nem aração para o cuidado.

Furta cor manchadas,
sem sangue nem pele,
áridas e tristes
dissimuladas em sonhos eletrônicos,
sem o barulho da chuva no telhado.

Pálidas por prazer
debocham das dores,
com monossílabos em nome próprio
regurgitam seu novo tempo.

pcb

domingo, março 31, 2013

Dalcídio, o homem do Marajó



Por Guido Heleno

A verdade é que o Brasil não conhece o Brasil. Não me refiro apenas às suas paisagens, recantos turísticos, monumentos, cidades, praias e montanhas. Falo principalmente em relação à cultura, à literatura. Até hoje, salvo raríssimas exceções, estando em meio a escritores, pessoas que gostam de ler, ouso perguntar: você já leu Dalcício Jurandir? A resposta é sempre a mesma: quem? É novo? É de onde? Escreve sobre o que, mesmo? Quando estou com paciência explico que se trata do maior escritor da amazônia, que escreveu mais de dez romances ambientados no Extremo Norte. Complemento informando que é um escritor que nasceu na vila Ponta de Pedras, no Pará e fez da Ilha de Marajó o cenário principal na ambientação de personagens marcantes de seus romances. Na verdade, o principal é ele mesmo, o menino de família humilde, vivendo em um ambiente inóspito.

Dalcício Jurandir surgiu para a literatura nacional em l940, quando participou de um concurso literário promovido pela revista Dom Casmurro e Editora Vecchi obtendo o primeiro lugar com seu romance “Chove nos campos de Cachoeira”. No júri, dentre outros, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Oswald de Andrade e Álvaro Moreira. E por pouco o livro não é inscrito no concurso. Relata Dalcídio que a única forma dos originais chegarem dentro do prazo era despachando via Panair do Brasil. Mas viu que não tinha dinheiro suficiente para enviar os textos, mesmo da forma mais barata, sem recibo. Frustrado por não poder participar do concurso, lamentava o fato quando encontrou dois amigos pintores, que ao saber da razão da tristeza de Dalcício Jurandir, doaram a quantia que faltava. A correria e persistência do autor valeram e meia hora antes do avião levantar voo, os originais foram despachados.

Em 1947 publica pela José Olympio Editora seu segundo livro “Marajó”, sendo aclamado pela crítica que considerou a obra um importante documento etnográfico e sociológico, um texto literário de valor, principalmente por focar uma parte do Brasil totalmente desconhecida pela maioria dos brasileiros. Atualmente, passadas tantas décadas, pode ser que a Ilha do Marajó seja um pouco mais conhecida por seus aspectos turísticos. Mas a literatura do Dalcídio Jurandir continua não fazendo parte da leitura das maioria dos leitores, mesmo da chamada intelectualidade. Pode ser que no Pará, em Belém, devido aos vestibulares, os textos do Dalcídio sejam um pouco mais lidos. E só por isso. Triste realidade!

O primeiro livro do Dalcício Jurandir que li foi justamente seu primeiro livro “Chove nos campos de Cachoeira”. Foi uma leitura que mexeu muito comigo, que despertou em mim uma vontade compulsiva de continuar lendo seus livros, de saber mais, de ler mais o autor. Assim, pouco a pouco, consegui reunir quase todas as obras do autor. Vontade de transformar ao menos um desses livros em roteiro de cinema, de procurar produtores, diretores, vender a ideia. Vontades que não morrem, mas não avançam, não se concretizam. Falta de condições, de pique, de tempo. Ao menos tenho a alegria de saber que, desde 2003, na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, existe um espaço, o Instituto Dalcídio Jurandir. Lá, graças à doação dos filhos do romancista, além dos originais de diversos de seus livros, estão correspondências trocadas com Jorge Amado, Graciliano Ramos e com o pintor Cândido Portinari, assim como todo o seu acervo particular, com mais de 750 livros de sua biblioteca.

Por ser do Partido Comunista Brasileiro e por suas ideias, Dalcídio foi preso duas vezes, passando meses encarcerado. Certamente perdeu várias oportunidades devido a seus ideais, mas nunca esmoreceu. Trabalhou em jornais, escreveu, revisou. Atuou na área de ensino e como servidor público. Mas orgulhava-se de ter conseguido ser o primeiro a se aposentar, inda pelo INPS, como escritor autônomo, isso em 1971. A maior premiação literária aconteceu em 1972, quando ganhou o Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra, um justo reconhecimento da Academia Brasileira de Letras. Mas ficou nisso. No entanto, o maior e melhor prêmio que o Dalcídio Jurandir gostaria de receber é ser lido. O “Chove nos campos de Cachoeira” foi o livro que recebeu um número maior de edições, acho que à sétima. Quem sabe não seja esta a mais recomendada para leitor que seseja ingressar no universo do autor. Se encontrar, seja em bibliotecas, livrarias ou sebos, procure ler “Marajó”, “Chão dos lobos”, “Três casas e um rio”, Belém do Grão-Pará”, o que achar do Dalcídio. Sei que não se arrependerá.

Que País é este que permite que um escritor tão importante, com uma notável e original produção literária, continue em segundo plano, para não dizer no limbo: não lido, não comentado? Dalcídio se foi em 1979. Mesmo pouco lida, sua obra não passará. Algo me diz que um dia, que seja breve, ela alcance a popularidade e o sucesso que bem merece. Em uma saudação, Jorge Amado comentou o seguinte sobre Dalcídio Jurandir: “Trabalhando o barro do princípio do mundo, do grande rio, a floresta e o povo das barrancas, dos povoados, das ilhas, da ilha de Marajó, ele o faz com a dignidade de um verdadeiro escritor, pleno de sutileza e de ternura na análise e no levantamento da humanidade paraense, amazônica, da criança e dos adultos, da vida por vezes quase tímida ante o mundo extraordinário onde ela se afirma."

Tenho dito!

segunda-feira, março 18, 2013



As águas caem,
lavam o vento,
espalham partículas de esperança
aos olhares secos.

(Cachoeira de Tororó - DF)

PCB

Tempo de resistir



Desdenhe de meus sonhos,
Pense que professarei teu proselitismo,
Esperas que serei mais um em teu inventário,
Daqueles que juntados te produzirão mais força?

Desdenhe de nossas batalhas,
Acredite que nos contentaremos com migalhas,
Aceitando tragar em tua mão suja e fétida,
Como se fossemos criaturas rastejantes?

O sangue de quem te enfrentou alagou a história,
Cantamos os mortos do povo,
Espalhamos a resistência nas noites e manhãs,
Encarando tuas mentiras, balas e poder.

Desdenhe enquanto ainda podes,
Logo serás estrume sob o chão,
Fecundando novos – velhos sonhos,
Abraçados às estrelas romper teus egos,
Destruir tua tirania alicerçada na usura.

Desdenhe e cante enquanto ainda podes,
Não tardará a romper trovões e fissuras
Capazes de espalhar abraços e sorrisos,
Capazes de espalhar a vida e a dignidade.

Desdenhe, logo chegará a tua hora.

© Pedro César Batista - 2013

sexta-feira, março 08, 2013

Fogo!!!



Ao 8 de março – Dia Internacional das Mulheres

No cadência do cheiro do cangote, dos punhos armados, dos colos maternos, com alegria e coragem germina a existência.

Sem temor da vida,
incendiada em piras
das línguas encíclicas,
de moral putrefata
irrompe o alvorecer,
eclode Petúnias e Amores perfeito,
multi cores
átomos explodindo.

Olhares esverdeados,
vermelhos sonhos,
Alcança às nuvens
minando o fogo
alforriando Prometeu
destronando Zeus.

Sem recusar suas estações,
seus clamores,
os silêncios de suas vozes,
lançam a esperança.

@Pedro César Batista - 2013

terça-feira, fevereiro 19, 2013



Folhas verdes,
não são vermelhas,
nem amarelas,
nem furta-cor,
nem sem dor,
não saem da árvore
nem se importam
com a força da ventania.

Pcb

Despertar



Arde o sangue,
repulsa do fogo
que queima a fé,
assusta o olhar,
deixa as palpebras despertas,
como brasas
acordando a noite.

Pcb

No duro



Como pergunta,
os olhos observam,
a vida, o espaço.

Meus braços
procuram te conquistar,
na terra,
na flor.

Com olhos novos,
olhar o futuro,
no duro
acreditar.

Pedro César Batista - 1997

Sacra - menta



Cheiro de terra sacra,
quase menta,
santa (im) pura.

Gosto de tucupi,
jambú paralisante
na cuia.

Quente e ardente
na ponte do Galo,
Sacra - menta,
pura - santa.

Cheiro de terra
com seus santos,
leva o andor
nas águas barrentas
do Guajará.

@ Pedro César Batista

Igualdade x Liberdade

Aos nossos filhos

Por Pedro César Batista

É bastante antiga a discussão sobre o que é mais importante, se a igualdade ou a liberdade. Os defensores de cada uma das posições usam os mais variados argumentos. Desde a busca pela explicação da existência humana, com os religiosos dando sua versão, ou com a fundamentação liberal de que cada ser deve se preocupar em ser produtivo e capaz de estar inserido e com sucesso no mercado. Os mais diversos argumentos são utilizados para privilegiar a liberdade. A pós modernidade trouxe a certeza de que se precisa apenas viver o momento, o passado e o futuro não importam. A igualdade é um retrocesso, alguns chegam a dizer.

Cresce a defesa da liberdade, fundamentada no direito de consumir, usufruir os bens descartáveis produzidos pela revolução tecnológica, de vivenciar cada vez mais as oportunidades que fortalecem o individuo em detrimento da comuna, dos grupos sociais, especialmente os mais fragilizados econômica e intelectualmente. A liberdade propalada é do tamanho do poder aquisitivo de quem poderá usufruí-la, compra-la em lojas de magazine em luxuosos Shoppings Centers.

O Estado que deveria servir a toda à sociedade, especialmente aos mais necessitados, cada vez se torna mais excludente em suas ações, mais eficaz no atendimento aos interesses dos que controlam a riqueza, o conhecimento e à política. Os governantes, independente de partidos, transformam-se em serviçais dos valores do sistema que se sustenta no individualismo e consumo.

O personagem representado por Maria de Medeiros, na peça Aos nossos filhos, de Laura Castro, afirma durante um diálogo para a sua filha: “Hoje vocês podem escolher, no passado, nem isso podíamos”. Usou o argumento para mostrar que os que lutaram contra a ditadura e foram obrigados a enfrentar as piores adversidades, tais como a tortura e a morte, não tinha outro caminho, a não ser o da luta renhida e dura. Enquanto a juventude da atualidade preocupa-se predominantemente pelas questões da individualidade, em detrimento da busca de um sonho coletivo.

Claro que esse comportamento não se limita a juventude, assim como os que ainda combatem os conceitos propalados pelo liberalismo são de todas as idades. O que importa não é a faixa etária, mas a necessidade de se romper os valores que se sustentam no lucro e no consumo. É preciso resgatar a história, os sonhos e a utopia em um mundo onde todos tenham a igualdade de oportunidades de acesso ao conhecimento, à dignidade e aos sonhos.

O texto da peça Aos nossos filhos mostra o que conquistamos e entregamos aos jovens da atualidade, apesar de estar literalmente tudo dominado pelos valores liberais, pode-se viver a liberdade do debate e das discussões, sem o medo do “desaparecimento”. Diante desse quadro qual será a herança deixada aos meus netos, bisnetos e tataranetos. O que virá?

Espasmos



Solenemente o paciente vira cliente,
O supérfluo se torna necessidade,
O norte se perde em escadas rolantes.

Um ar radioativo invade almas,
Contadas por contas bancárias,
Gerando tumores malignos em cifras.

Vale tudo pelo instante,
Ser feliz em cores radiantes,
Não importa se em fumaça
Feita em latas e cabeças vazias.

Festeja-se a escuridão,
Dentro de aparelhos entubados
Que não levam ao mundo de Alice
Ou ao planeta de Saint-Exupéry.

Descobrir novamente o novo,
Dar asas ao povo,
Sem se abater em fadiga
Dos passos cansados pela desilusão.

@ Pedro César Batista – 2013
Meu coração é minha bússola,
não tem receio em erguer os punhos,
combater a morte,
nem semear rosas e sonhos.

Pcb

Flores vermelhas





Marchas enfrentaram o passado,
Muros registraram sonhos,
Abraços desencontrados nas noites
Seguiram caminhos diversos,
Filhos agora deixam os pais em pé.

Amigos de combate no poder,
Velhos camaradas defendendo o Estado,
Sem transformar a estrutura,
Carcomida pelas traças do capital.

Palavras confundem-se ao entardecer.

Organizações gerenciam o sistema,
Líderes se esbanjam em banquetes,
Vozes solitárias se dizem coletiva.

Dores romperam a escuridão da mentira,
Propagaram flores de todas as cores,
Ainda vermelhas e sem desbotar,
Nascidas em corações pulsantes.

Caminhar sem medo da traição,
Nem da solidão do sonho,
Nem aspirando salários pagos pela Justiça,
Onde poucos sorvem a felicidade.

Tentar ler olhares sinceros,
Viver abraços fortes e longos,
Sorrisos acreditando que nada foi em vão.

Seguir as flores que enfrentam
Ervas daninhas e sorriem ao amanhecer.

@ Pedro César Batista

sábado, fevereiro 02, 2013

Leve longa chuva



Passos anotam a história,
Deixam quadros indeléveis
Pendurados na parede do tempo.

Abraços são encharcados em sangue,
Misturam-se a terra
Que recebe sementes estéreis,
Desbotando desgostos e prantos.

O menino de dentes apodrecidos
Prossegue pedindo trocados,
Carece cheirar a fumaça que lhe anima,
Fazendo-lhe crer que ainda vive.

Sonhos viraram preleções oficiais,
Escritas sem alma em máquinas frias.

Encargos viraram cargos,
Espaços de poder para ter
Serviçais dóceis e submissos.

A chuva leve longa persiste,
O homem parado no farol
Continua correndo entre os carros,
Insiste,
Gesticula dramaticamente,
Olha nas janelas,
Que permanecem fechadas
Com motoristas assustados.

Ideais vêm e vão como o mar,
Continuam chocando-se em rochas
Amedrontadas que mais se enrijecem.

A voz macia da jovem bela jornalista,
Espelhando o medo no olhar,
Propaga o medo antes da novela
E incentiva comprar sonhos em Shopping Center.

O homem continua entre os carros,
Bate nas janelas
Que não se abrem.

Ele persiste.

@ Pedro César Batista - 2013