Páginas

domingo, setembro 01, 2013

Combater a escuridão



Por Pedro César Batista

Durante encontro com populares debatendo a questão ambiental, onde apontava como uma das causas dos danos provocados à natureza o consumo exacerbado, um estudante da UnB saiu com a seguinte preciosidade: “não me vejo sem ser capitalista”. O jovem, com no máximo 20 anos de idade, mora na periferia de Brasília, é filho de família remediada e a sua opinião, consciente ou não, me provocou maiores preocupações com o futuro do planeta e da existência da espécie humana.

O Brasil, no final do mês de agosto de 2013, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ultrapassou os 200 milhões de habitantes, os quais em quase a sua totalidade recebem as informações de alguns veículos de comunicação, sendo que o mais poderoso, a Rede Globo, chega a atingir 99% do território nacional, sendo em muitos lugares a única fonte de informação e acesso a programas culturais. Quantos milhões desses brasileiros têm como única fonte de acesso ao mundo apenas a telinha, do canal de televisão citado ou dos outros que não chegam a meia dúzia?

Necessariamente isso provoca uma hegemonia no pensamento, fazendo com que se reproduzem inúmeros conceitos e discursos propalados, pasteurizando o pensamente como se este fosse uma rocha e não uma ventania, capaz de se transformar a cada novo instante o olhar e o pensar da sociedade e do individuo.

Essa homogeneização do pensar faz com que a liberdade e o indivíduo se tornem conceitos sagrados, tanto quanto os deuses propalados pelos religiosos. A conjugação desses conceitos, para Hannah Arend, possibilitaria a existência de “um mundo politicamente organizado no qual cada homem livre poderia inserir-se por palavras e feitos”. Isto dito significa que o prioritário deve ser a garantia da individualidade livre e que tivesse assegurada não apenas o pensar, mas a garantia do poder ter e ser.

O pensamento se tornou completamente dominado, com o controle na informação, na educação, nos valores éticos e morais, o qual se cristalizou no pensar elaborado e propalado pela poderosa comunicação controlada mundialmente. Para partes significativas da população a história da humanidade acabou, não havendo a possibilidade de se sonhar ou acreditar que ainda haverá um tempo que os conceitos propalados pelas corporações, grandes acionistas e poderosos será transformado, possibilitando a criação de uma nova relação social, onde o consumo, a acumulação e a busca desesperada para ter acesso ao status quo deixe de existir.

Infelizmente se observa que jovens, como o citado no início deste texto, existem em grande quantidade. Mesmo sem conhecerem o processo histórico, em face da manipulação da mídia e do poder econômico, controlador de governos, escolas, universidades e pensamentos, possuem uma arrogância das crianças burguesas, que tem os criados para atender seus desejos.

Assim como os danos ambientais são fruto da lógica capitalista, com o consumo desenfreado, o egoísmo exacerbado e a acumulação de riquezas criminosas, também há os jovens, trabalhadores, homens e mulheres que ainda ousam sonhar e combater a exploração e a maldade criada em mentes de jovens que não têm a liberdade de ser solidários, apenas sendo seres medíocres e tolos que reproduzem, sem pensar nem questionar, nada que o capital e suas correias de transmissão propalam.

O tempo é como o vento, assim como o pensar, caminha com uma velocidade histórica que transforma a espécie humana em simples alimento aos sonhos, que podem ser o de seguir a marcha suicida imposta pelo capital ou a ousadia dos que ainda têm utopias, mesmo correndo o risco de sofrerem as agressões de jovens alimentados com os mais vis desejos e que acreditam que poderão ser senhores dos negócios.

Esse tempo de descrença e violência vem de muito tempo, fazendo que os mais fracos e alienados se tornem apenas um tijolo da opressão e exploração, servindo aqueles que de fato detêm o controle de mentes e sonhos. Para romper esse tempo é preciso conquistar a liberdade de eliminar a imposição do único pensar, o qual não passa de um vampiro, sugando o amanhã e a solidariedade. Porém, sempre é tempo de levar o fogo aos que vivem na escuridão, como fez Prometeu.

Um comentário:

Anônimo disse...

Saudade