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quarta-feira, abril 20, 2022

Brasília, flor nascente

Sonho de Bonifácio,
no meio do cerrado unir o Brasil.
Projetos ousados de JK, Niemeyer e Lúcio Costa.
Acreditaram na utopia.

Candangos de todos os cantos
acreditaram no paraíso enquanto caiam,
como pássaros sem asas de suas obras.
Padioleiros nem deixavam o corpo esfriar.
Quantas ilusões concretadas?
Dizem:
os mortos do Pacheco,
- muitas versões -
permanecem sob cimento.

Curvas e ipês,
todas as cores,
brilho e céu encantador.

Em largas avenidas máquinas poderosas circulam.
Nos faróis, pedintes imploram e vendem almas.
Barracas e barracos
brotam como cogumelos ao amanhecer.
Precisam de tudo.
Sede e fome.

Melhor qualidade de vida,
desejo comum,
destroçados por pás mecânicas,
esmagando acampamentos.

Altos funcionários,
altos salários,
luxuosas mansões com seus carrões.
Burocratas não tem ideologia.
Discursos, poesias, tribunas e púlpitos,
todos os tipos e gostos.

Brasília,
campeã nacional em desigualdades,
cantada por todos,
miseráveis e poderosos.

Pobres defendem o fascista.
Cidade de direita, reacionária, conservadora,
com um discurso identitário,
libertário e opressivo.

Vale ter,
crachá, títulos, ações na Bolsa.

O paraíso desejado,
projetado em pranchetas,
não foi esquecido,
nem deixado de lado.

Em frente ao Museu do Índio,
uma foice sustenta teu construtor,
tal um martelo.

És sexagenária, com mais dois anos,
uma recém nascida no tempo histórico.
Não decepcionarás teus criadores,
com suas mãos calosas,
crianças correndo no barro vermelho empoeirado,
enquanto levantavas monumentos, prédios e abria túneis.

Teu tempo, Brasília,
ainda nem começou,
haverá o dia que serás uma flor do cerrado,
vermelha como teu barro,
justa como teu luar,
onde todos poderão amar.

Pedro César Batista