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domingo, novembro 22, 2020

Tochas na noite



Ághata tinha 8 anos,
eliminada pelas costas,
a bala do fúsil do soldado foi certeira.

Cláudia, arrastada pelas ruas até a morte.
Seu algoz, promovido.

Em Paraisópolis assassinaram nove,
uma única chacina.

Evaldo e seu canto, calaram:
80 tiros.

Miguel e seu voo do nono andar bate e pulsa em corações,
a burguesa segue impune.

Mataram Beto,
o patrimônio imperialista garante.
Covardia generalizada.
Soldados fardados ou paisanos matadores.

Eles sabem suas origens?
Demonstraram satisfação narcísica,
nenhuma alteridade.
Apossados por Thanatos agiram,
verdadeiros Orfeus da morte.
Sem empatia com seus iguais,
assassinam mais e mais,
importa defender o capital.
Destroçam famílias,
Sonhos são sepultados em cortejos de protesto.

O presidente faz chacotas.

Policiais seguem reprimindo jovens,
assediando crianças em bacus arbitrários,
jatos de sprays de pimenta e balas fatais.
Um Estado assassino,
com cães adestrados.
Matam e matam e matam.
Matam um, dezenas, centenas, milhares.
Matam milhões.

Abutres sobrevoam Prometeu,
que segue com seu esforço de Sísifo,
resiste e inspira resistência.
Nossos mortos nunca morrerão,
são eternas luzes na noite.

Pedro César Batista