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domingo, janeiro 26, 2020

Trairagem



Facada nas costas,
Traição é comum,
Tece intrigas,
Inventa calúnias,
Ilude facilmente.

Sorri e fala macio,
Não pestaneja
Para trair.

Atrai para atraiçoar,
Olha de soslaio,
Não se enerva,
Nem abandona a máscara.

Sanguessuga de luz,
Parasita moderno,
Busca sangue e energia,
Roubar a alegria.

Gente falsa,
Quer holofotes,
Caça poder,
Almeja status.

Nem se manca,
Seu sangue é água,
Não tem coração,
Somente ambição.

Egoísta é pouco,
Quer destruir,
Sugar até a morte,
Desidratar sonhos.

Não é ficção,
Tem muita gente assim,
Nem enrubesce,
Quando te abraça.

Pedro César Batista

segunda-feira, janeiro 20, 2020

Modernidade antiga



A mentira é um cancro,
Aumenta a dor,
Deslancha a morte,
Sustenta o cinismo.
Enrijece corações,
Esfria olhares,
Impede sementes de germinar.
O sustento de sanguessugas,
Vermes de luxo,
Togados e públicos,
Fardados ou com batinas,
No púlpito e televisão,
Não economizam no descaramento.
Roubam a esperança,
Propagam desconfiança,
Certificam a exploração,
Hermafrodita dissemina divisão.
Trump e Bolsonaro,
Nazistas, fascistas e sionistas,
Globo, record, sbt e band,
Porta-vozes especialistas da aleivosia.
Mata e deixa milhões de órfãos,
Destrói culturas e histórias,
Facadas nas costas,
Saqueiam povos.
Embustes são o estandarte.
Lambe-botas difundem medo,
Áulicos do opressor.
A falsidade está na sala,
Bate na porta,
Te abraça e engana.

Pedro César Batista

sábado, janeiro 18, 2020

Não à morte.



É janeiro de 2020.
Passaram-se poucos mais de quinze dias.
Começa a segunda década do século XXI.
No natal passado não mais se comemorou o nascimento de Jesus,
As pessoas foram às compras.
Não se falou em amar aos próximos.
Alguns homens, disfarçados de machos, acharam que tinham mulheres como propriedades.
Bastaria escolher as fêmeas,
Usar, abusar e sacrificar.

É janeiro de 2020.
Larissa é estrangulada.
Tem a roupa queimada.
Ninguém vai preso.
Não se sabe quem a matou.

É janeiro de 2020.
Edna é esfaqueada.
O ex-namorado, suspeito, fugiu.
Uma mãe assassinada.
Eliminada pelo ex-companheiro.
Conluiado com a morte.
Outro assassino.

É janeiro de 2020.
É Brasília, a capital do Brasil.
Gabrielly tinha 18 anos.
Casou cedo, acreditava no amor
Levou um tiro. Fatal. Na cabeça.
Gostava de músicas,
Descobria o prazer de viver.
Foram poucos meses de casamento.
A bala foi disparada pelo marido, o assassino.
Ele tinha quase o dobro da idade de Gabrielly,
E tudo era motivo para ciúmes.

É janeiro de 2020.
Uma facada mortal no abdômen.
Uma única estocada tirou a vida de Maria.
Sim. Maria.
O quarto assassinato do patriarcado,
Praticado pelos machistas,
Covardes, assassinos.

Larissa, Edna, Grabrielly e Maria.
Sangue e dor.
A “propriedade” enterrada sob a terra,
Não se podia sorrir, dançar ou ser livre.
Destruída pelo ódio misógino e medroso.

É janeiro de 2020.
Apenas dois dias após a primeira quinzena.
Começou a segunda década do século XXI.
A Idade Média de volta.
Homens assassinos,
Sustentados pelos que afirmam que a mulher é o pescoço,
Que é terra para semear,
Ser inferior,
Diz Paulo, o apóstolo.

O presidente discursa,
Não te estupro por que você não merece.

É janeiro de 2020.
Começou a primeira década do século XXI.

Pedro César Batista

quarta-feira, janeiro 15, 2020

Ritmo.



Faço tudo ao contrário.

Dizem para eu comprar,
Não compro.

Falam para esconder meu amor,
Não escondo.

Afirmam que devo ser um vencedor,
Prefiro ser parceiro.

Tenho que ser o melhor,
Insistem,
Escolho compartilhar.

Preciso seguir a moda,
Ando de meu jeito.
Tenho que ser competitivo,
Busco a solidariedade.

Afirmam que é cada um por si,
Insisto em ter companheir@s.

Assim aprendo um novo tempo,
Onde dar é mais que receber.

Aprendo que amar é dedicar-se aos sonhos,
Entregar-se aos amores que acredito.

Nada de ser mais um repetindo o bordão.
Nada de ser um seguindo o caminho imposto.

Assim sigo contra-correnteza,
Acreditando que as flores brotarão,
e um dia,
Antes que tarde,
A flor mais bela dirá:
Eu te quero.

Ainda assim faço tudo ao contrário.

Pedro César Batista

Foto: Desenho de Alvaro Cunhal, feito na prisão em 1951 (Portugal).

sábado, janeiro 04, 2020

Panfleto



Não tenho frio,
Nem sou gelo,
Venho do norte,
Sou do mato,
Aprendi cedo o calor
Do abraço,
Do punho erguido.

Criança conheci o ronco da onça,
Rodeando o barraco,
De taipa e cavaco.
O fogo sempre acesso,
Não fazia apenas comidas,
Espantava os bichos.

Veio o frio,
Chegou um tempo sem abraço,
Sem fogo,
Sem assustar a onça.

A bravata dos poderosos é ordem,
Tenta espantar o fogo.

Faíscas resistem na escuridão.

Não tenho frio.
A solidão é momentânea.
A maldade ao redor passará.
Olhares esquivos,
Bocas maledicentes,
Os crimes dos assassinos burgueses,
Tudo ficará no passado.
Será fumaça na penumbra,
Nada mais que visagem no tempo.

Chegará o sol,
Aquecerá as sementes,
As flores desabrocharão,
A vida será digna para todos.

Pedro César Batista

Foto minha. Jovens munduruku cortando o cabelo na aldeia Teles Pires (MT).