Páginas

domingo, maio 24, 2020

Mortalício



Perdi as contas,
Uma longa convivência com a morte,
Por décadas ela rondou de verde oliva.

Adolescente fui preso e agredido.

Ela não demorou a surgir.
Sônia e Tuta foram dilacerados.
Traiçoeiramente acertou meu pai,
Um tiro de vinte, resistiu.
Henrique o salvou com meu irmão.
Nestor terminou levado por Netuno e Vênus.

Antes em uma avenida iluminada,
Ardilosamente por de trás de uma mangueira
O sicário estourou a cabeça de meu irmão.
O sangue jorrou, publicamente.
Batista deixou seu exemplo.

Covardemente outros foram mortos:
Gabriel, Salvador e Canuto.
Reginaldo, Jósimo e Antônia.
Epitácio, Rejane e Arnaldo.
Chico, Mauro e Doroty.
Adelaide, Paulo e Passarinho.
Carlito, ainda jovem, ficou cego,
Balas vazaram seus olhos.

Balas oficiais sempre mataram.
Nunca deixaram de derrubar corpos,
Pobres, negros e cheios de vida.

Agora a morte se alojou no terceiro andar
Do Palácio do Planalto.
Um esbirro do capital,
Mais um pistoleiro,
Trama mortes em rede nacional.

Estão no poder, outra vez.

O fascista e sua milícia
Aproveita a pandemia,
Aumenta a tristeza de famílias,
Milhares e milhares morrem.

O genocida comemora,
Algozes aos milhares,
Vestidos de verde-amarelo
Com ele festejam a dor.

Já convivi com a morte,
Perdi a conta.

Ela ainda insiste,
Ataca covardemente,
Traiçoeiramente,
Sorrateiramente,
Em nome de Jesus,
Deus acima de tudo.

Pedro César Batista