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terça-feira, dezembro 02, 2008

20 anos sem João Batista, mártir da luta pela reforma agrária

No próximo dia 6 de dezembro completam-se 20 anos do assassinato de João Carlos Batista. Ele foi assassinado na frente de seus filhos e da esposa ao chegar em sua residência, no centro de Belém, capital paraense, logo após fazer seu último discurso na Assembléia Legislativa Paraense, onde exercia o mandato de deputado estadual constituinte.

Na tarde desse dia, há 20 anos, Batista, mais uma vez denunciou da Assembléia Legislativa paraense que havia sido ameaçado de morte. Denunciou dois oficiais da PM paraense que, publicamente falaram que ele merecia bala, durante um ato público na cidade de Paragominas, interior do Estado. Nessa tarde discutia-se a elaboração do Regimento Interno da Assembléia Constituinte do Estado. Alguns colegas deputados, Mario Chermont e Mariuadir Santos, no lugar de tomarem as providências necessárias como presidente e secretário, respectivamente, da Casa Legislativa, fizeram galhofa da fala do parlamentar e advogado ligado às lutas do povo. Algumas horas depois ocorria o assassinato.

Batista, como era conhecido, nasceu em Votuporanga, interior de São Paulo, e, aos 13 anos, em 1965, transferiu-se com a família para a cidade de Paragominas (PA). Influenciados pela propaganda do governo militar foram para a região amazônica em busca de terras para trabalhar. Camponeses pobres ao chegarem no Pará encontraram muitas dificuldades. Ali presenciaram todas as formas de violência praticada pelos poderosos, que formavam grandes latifúndios, contra os mais pobres que também acreditavam que ali poderiam conquistar uma vida melhor. O que predominava era a impunidade de latifundiários que perseguiam as populações nativas e os colonos que chegavam em busca de terras. A família de João Batista permaneceu em Paragominas até 1975, quando se transferiram para a capital, Belém. O filho mais velho tinha 21 anos, quando retomou os seus estudos.

Após concluir o supletivo ingressou no curso de Direito. Passou a participar do movimento estudantil. Dirigiu a primeira greve estudantil no estado, após 68, quando os estudantes do antigo CESEP pararam, em 1978, as atividades em luta contra as mensalidades abusivas. Integrou a Comissão Nacional pró-UNE, que organizou o Congresso de Reconstrução da entidade, em Salvador (BA), em 1979.
Formado passou inicialmente a advogar para trabalhadores urbanos. Vinculou-se a vários sindicatos, lutando contra a pelegada e reorganizando as lutas dessas categorias. Logo em seguida voltou-se inteiramente para a luta componesa, orientando posseiros e colonos nas lutas contra os latifundiários e organizando trabalhadores rurais sem terra em ocupações nos municípios de Paragominas, São Domingos do Capim, Irituia, Dom Elizeu, Rondo do Pará, Viseu, Ourém e em outras regiões do Estado. Sua inteligência, dedidicação pessoal, financeira e física foi totalmente destinada a luta pela Reforma Agrária. Devido sua atuação sofreu três atentados mortais. No primeiro, seu pai, Nestor Antônio Batista, recebeu uma carga de chumbo de uma cartucheira calibre 20; no segundo, ficou três dias na UTI, entre a vida e a morte e, no terceiro, após um intenso tiroteio, no meio de uma manifestação com mais de 5 mil trabalhadores presentes, celebrando o primeiro de maio de 1987, em Paragominas, ficaram vários feridos e um pistoleiro linchado. Tentaram matar o advogado no meio da multidão, mas o povo não recuou e fez justiça na hora e com as próprias mãos. Sempre os meios de comunicação no Pará manipulavam a informação, passando a imagem que aqueles que eram as agredidos por balas de pistoleiros e policiais é que eram os violentos. Depois de seu assassinato sua memória foi colocada no ostracismo. Apenas manifestações isoladas recordam a mémoria desse mártir da luta do povo brasileiro.

A atuação política de João Batista durou pouco mais de 10 anos. Nesse curto período perdeu muitos companheiros: Mauro Carneiro, Chico Balela, Gabriel Pimenta, Salvador Alves dos Santos, Reginaldo Alves, José Marcião e Ariston. Todos covardemente assassinados por pistoleiros a mando de latifundiários.

Com o seu assassinato assumiu a Secretaria de Segurança Pública do Estado, Mario Malato. Delegado do DEOPS/PA, este policial comandava a perseguição a posseiros, colonos e sem terras, atuando de forma parcial e violenta apoiando os latifundiários e em companhia de pistoleiros. João Batista o chamava de “cão de guarda” de latifundiários e pistoleiros. Após a morte de Batista foram presos dois pistoleiros, sendo um degolado na prisão e o outro condenado a cumprir pena de 30 anos em regime fechado. Nenhum mandante foi citado, apesar do envolvimento e denúncias de muitos nomes de figuras importantes no estado estarem envolvidas. Como sempre os poderosos mantiveram-se unidos e preservaram-se, uns defendendo os outros.

A luta pela terra tem sido regada a muito sangue ao longo da história brasileira. É preciso resgatar a esperança na construção de uma sociedade, onde todos tenham assegurado as possibilidades e oportunidades de viver com dignidade. E a terra é a mãe da vida, assegurar a sua democratização, a produção de alimentos e uma justa distribuição são o caminho para uma vida melhor. Esse foi o sonho de muitos que tombaram: João Batista, Chico Mendes, Irmã Doroty, Canuto, Expedito, Quintino e tantos que foram às últimas conseqüências na defesa dos direitos do povo pobre.

Resgatar a memória de João Carlos Batista e daqueles que defenderam justiça social é apontar para referencias que sinalizem a importância da luta, da organização dos trabalhadores e da necessidade de se conquistar a reforma agrária para a construção de um mundo mais justo e fraterno. Esse é o caminho para a construção do socialismo.

PS. Mais informações no livro João Batista, mártir da luta pela reforma agrária, de Pedro César Batista. 2008. Expressão Popular.
Informações: pcbatis@gmail.com

segunda-feira, novembro 03, 2008

Seguir a ventania.
















Verdade
Verdadeira
derradeira
vontade em qualquer
idade
tempo
espaço
olhar
que se busca.

Confundiro vento
com o brilho da escuridão
não faz bem,
não convêm a humanidade
sempre jovem
apesar da idade.

Quem mata mais?

A guilhotina afinada
com o canto do cisne?

A forca desesperada
como o grito
dos pulmões que se fecham?

O fuzil com seu estálo
seco de causar espanto ao medo?

Verdade dos tempos
que os muros não deixam entrar.

A fome e ignorância
servem a que senhores?

E a velocidade da mentira
propagada na TV
pela CNN ou o Jornal Nacional?

Qual mentira é mais verdadeira
nos shoppings centers das almas modernas?

E o lucro propagado como Salvador?

Deus, o todo poderoso dos sonhos desse tempo não mente: Ele voltará!

Sua forma será em moedas
e barras de ouro,
todas em cartões de crédito,
internacional e sem limite.

Qual verdade é mais verdadeira que a minha morte,
deixando de crêr em meu Senhor,
sem escravos,
nem poder,
apenas mais uma gota da chuva que não vem?

Resta então dar mais um passo,
rumo ao norte,
enquanto o carrasco não chega.

sábado, novembro 01, 2008

Desafinado.








Não quero guerra.
Preciso de terra boa
onde possa me enraizar
e respirar o vento de novos tempos.

Não quero o último modelo de celular,
nem passar em concurso,
com altos salários.
Sonho com o fim da fome e da exploração,
um novo tempo de braços dados
alinhados com um novo canto.

Quero a paz real.

Quero flores nos cabelos
brilho nos olhares,
crianças correndo
atrás de borboletas.

Não quero bebés em colos nos faróis da rodoviária,
nem quero a mediocridade desse consumo criminoso.

É preciso novas sementes
que germinem
abraços apertados
verdadeiros
perfumados
apaixonados
pelas pessoas
flores
bichos
e crianças.

Quero esse sonho
brotando em almas
iluminando mentes
apertando corações
no planalto
no sertão
no campo
no Planeta.

Nada de acumular capital
desvairado faminto assassino.

A voz quer sair,
mesmo sufocada
pela solidão dos gritos desafinados
que ecoam na escuridão.

Quero combater a desesperança,
semear tempestades.

segunda-feira, outubro 27, 2008

25 de outubro, 91 anos depois o sonho está presente













Em 25 de outubro de 1917 os operários, soldados e marinheiros russos ousaram romper um tempo de escuridão e sofrimento para aquele povo e a humanidade. Conseguiram iniciar a implantação de um novo modelo de Estado a serviço dos trabalhadores e do povo, o socialismo.

Dirigidos por Lênin, Wladimir Ilich, e organizados pelo Partido Operário Social Democrata da Rússia – POSDR em toda a vastidão do território russo, mobilizados tomaram de assalto o poder do Czar e do governo provisório, implantando um novo governo sustentado na organização dos Sovietes (Conselhos). Enfrentaram o maior dos impérios para conquistar a liberdade do jugo do capital e iniciar a construção de um novo tempo.

Sofreram ataques militares, sabotagens e a feroz propaganda dos vizinhos e inimigos internos por muitos anos. Mesmo assim consolidaram a implantação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. Um estado socialista que incomodou e amedrontou os governos do ocidente, assustados com nova forma de governo, democrática e de massas. A política e a economia foram colocadas a serviço da maioria do povo. Os governos capitalistas ficaram preocupados com o fascínio exercido aos trabalhadores de todo o mundo que passaram a ter como palavra de ordem a consigna da Associação Internacional dos Trabalhadores, fundada por Karl Marx, “Trabalhadores de todo mundo, uní-vos”.

“Fustiguemos a carroça da história. À esquerda, à esquerda, à esquerda”, escreveu Maiakovski. “A trombeta dos bravos já soou o alarme. Nossos estandartes aos milhares avermelham o céu. Só a rota dos traidores é que conduz à direita. À esquerda, à esquerda, à esquerda”. O poeta da revolução escreveu isso em 1918, em seu poema Á esquerda. Iniciava-se uma nova fase na história da humanidade. Os burgueses e imperialistas ficaram desesperados e passaram a atacar ferozmente a nova pátria dirigida pelos operários, soldados e marinheiros. Estes resistiram e venceram muitas batalhas. Destruíram a chaga da fome, da ignorância, da miséria e da exploração do trabalho pelo capital.

A revolução Russa foi uma luz na escuridão que a humanidade vivia. Resistiu por muitas décadas. Mais acertou que errou. Isso fortaleceu as lutas dos trabalhadores que passaram a acreditar que seria possível conquistar um novo mundo. Acreditaram que seria possível enfrentar o capital e fortalecer o trabalho, assegurando os direitos que os produtores mereciam. O mundo foi outro depois de 25 de outubro de 1917.

Certamente os erros praticados custaram um preço alto aos trabalhadores. Massacres foram cometidos em nome da revolução. O enfrentamento ao Soviete de Kronstadt, comandando por Leon Trotsky, mostrou o que viria depois. Stalin e sua burocracia, depois da morte de Lênin, mesmo tendo derrotado o nazismo durante a segunda guerra mundial, passou a sufocar a criatividade e a força das massas. A burocracia estatal tomou conta de um estado que deveria ser dos trabalhadores.

Muitas conquistas foram obtidas pelos trabalhadores, não somente os soviéticos, mas de todos os países. A experiência de implantação do socialismo foi cortada muito tenra. Agentes a serviço do capital e contrários à implantação do socialismo boicotaram esse novo tempo que nascia. O trabalho de solapamento e desarticulação executado pelos contra-revolucionários conseguiu esse passo atrás. Para a história da humanidade, que é composta por avanços e retrocessos, isso é normal.

O que não pode ocorrer é colocar na lata do lixo das sociedades essa grandiosa experiência de construção de um Estado a serviço dos trabalhadores e da maioria do povo. O Estado Soviético foi uma semente que não morreu, apesar de tudo ainda germina em mentes e corações por todo planeta. Não se pode repetir um discurso falso e reacionário que o socialismo morreu, muito ao contrário. Um século significa um piscar de olhos para a humanidade, a aspiração por uma sociedade mais justa, sem explorados, nem exploradores, não morreu.

Decorridos 91 anos depois da implantação da primeira experiência esses ideais continuam vivos. A memória dos revolucionários de 1917 não será esquecida, muito menos as bandeiras por eles defendidas, ainda no início do século passado. Esse sonho não será apagado com as propagandas de consumo e do individualismo, aliado ao distanciamento de pretensas lideranças de esquerda do povo, especialmente no momento atual com a crise de Wall Street, que comprovando as afirmações feitas por Karl Marx de que o próprio capitalismo é seu coveiro. Um novo tempo há de brotar.

25 de outubro



















Lenin e o povo conquistaram o poder.
Todo poder aos soviets.
Quase um século, 91 anos.

Um raio de luz na escuridão da humanidade
começa uma nova fase na história.
Trabalhadores do mundo inteiro
corporificaram esse novo tempo.
Um sonho começa a ser realizado.
Multidões ousam acreditar que outro mundo era possível,
acreditam que poderão chegar a lua
transformam a dor em esperança
o gelo em fogo
as flores em sementes de um novo tempo
que se espalham por todos os continentes.

A reação se desespera
não mede esforços para barrar o novo,
o medo do povo é enorme.
Uma vez mais a violência se torna a arma principal
para impedir outro sistema:
o socialismo e o governo dos trabalhadores.

Usam todas as armas e mentiras
- ainda mantidas nos tempos atuais -
espalhando dor, medo e morte.

Lenin e o povo conquistaram o poder.
Operários, soldados e marinheiros
iniciaram a construção de um novo tempo.

A escravidão do capital foi sepultada.
As chagas da exploração feudal
foram esmagadas pelo novo sistema.
Os Palácios foram ocupados pelo povo
que fazem fogueiras em avenidas, praças e campos
destruindo tudo que simbolizava o império.

Um velho que insistia em querer sobreviver,
um cadáver que resistia desesperadamente ao funeral,
- invertendo a história e se dizendo novo -
quando estava fétido depois de tantos séculos
sustentando-se pela opressão, ignorância e miséria.

O mar do trabalho e das massas populares
incendiaram o poder do Czar
transformando-o em cinzas da história
a exploração e a miséria imposta.

Iniciou-se a implantação do Estado Soviético.
Consolida-se a revolução russa.

Lenin e o povo tomam o poder.
Um novo tempo foi instaurado no planeta.
Todo poder aos operários, soldados e marinheiros.
Uma luz formada pelo povo
apontou novos rumos
na escuridaão da humanidade.

Todo poder ao povo.

Em menos de um século ainda é nova,
seus erros causaram uma interrupção,
um trepidar momentâneo na história,
atrasando o plantio de novas ventanias,
onde a fartura, a justiça e a liberdade
haverão de crescer em cada coração.

Vida eterna aos ideais dos revolucionários de outubro.
O tempo que nasceu com a União Soviética não morreu.
Experiências desse novo tempo
não deixarão de propagar os acertos praticados.

Vida longa ao 25 de outubro.

terça-feira, outubro 14, 2008

O Outono e o Ipê

Adriana Elias


No banco da praça ...Do Ipê , pé amarelo
Pueril figura...Da vida saudaz
Relembra lembrança
As folhas, o tronco ...Do rijo Ipê
As pipas, os pulos...O vento apraz
Deslizam as lágrimas...Da inerte figura
Que ora postula...
O vento impiedoso...A pipa desfaz
Qual vida senil...Da inerte figura
A lágrima, a pipa
As folhas do Ipê...Agora amarelam
A vida se vai.

Beleza impura















Uma bela cidade, arborizada, florida e com muita gente bonita. Centro do poder político e localizada no planalto central. Brasília completará meio século em dois anos. Apesar do pouco tempo desde sua fundação traz comportamentos medievais detestáveis.

Para ser construída milhares de trabalhadores para cá vieram. Enfrentaram todas as dificuldades. Muitos morreram por não aceitarem a violência e opressão dos governantes. Estes foram completamente esquecidos. JK conseguiu o que queria. A nova capital nasceu cheia de vigor e esperança.

Planejada por Niemayer e Lúcio Costa para ser uma cidade humanizada, tornou-se mais fria do que uma noite no deserto. Muitos de seus filhos, apesar de um discurso moderno e pretensamente humanista, apenas vêem seus umbigos.

Os operários que construíram a cidade são os candangos. Os funcionários públicos, comerciantes e militares os pioneiros. Para os primeiros nada foi reservado. Nem mesmo o devido lugar na história. Vivem com salários bem inferiores que os segundos. Estes usufruem todas as benesses disponíveis pelo mundo moderno.

A cidade tem a mais alta renda per capta, a segunda maior concentração de renda – perde apenas para o Piauí -, possui a maior diferença entre o menor e o maior salário recebido e o maior índice de desemprego do Brasil. A cada dia novas áreas de seu território são ocupadas. Os trabalhadores de baixa renda são deslocados para a periferia da periferia. Os novos ricos da cidade, servidores públicos, com altos salários e funções estratégicas nos governos distrital e federal, formam seus condomínios de luxo. São mundos completamente antagônicos.

Brasília, cercada de cachoeiras, com água pura, permite que dentro de seu seio, gente com comportamento impuro, voltado apenas para alcançar o poder, status e riquezas, brote aos borbotões. O belo pôr-do-sol da cidade é para todos, assim como a lua que debruça sempre mais encantadora. A Terra não existe apenas para os que se sentem melhores que os outros usufruirem as riquezas produzidas pelo trabalho. Se assim fosse, os que trabalham deveriam ser os privilegiados, não os filhos da elite cega e bruta, que pensa ser culta, mas é lixo puro.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Quem ganhou com o resultado eleitoral?

Findo o primeiro turno e assentada a poeira eleitoral, restando apenas à realização do segundo turno em 29 cidades brasileiras é possível olhar e arriscar quem foi o principal vencedor com o resultado. Verificou-se um alto índice de abstenção, somado aos votos nulos e brancos, totalizaram mais de 20% do eleitorado. Isto mostra a descrença e o cansaço da população com os partidos, os políticos e o sistema eleitoral.
No dia 10 de outubro a Constituição Federal completará 20 anos. Ela trouxe pela primeira vez a efetivação do voto universal, incluindo, inclusive, o voto dos jovens com mais de 16 anos. Assim assegurou a consolidação do Estado Democrático de Direito. Decorridas duas décadas, desde 1988, muita água passou sob a ponte da história.
Para se contrapor aos militares que ficaram no poder por mais de 1964 até 1985 foi construída uma unidade dos opositores, juntando no mesmo saco gatos e ratos. Passado esse tempo agora sabemos quem é quem nessa história. Quantos que se colocavam ao lado dos interesses públicos e diziam defender a democracia, mostraram seus verdadeiros objetivos: amealhar riquezas e poder. Não economizaram óleo de peroba, discursos e mentiras para conseguirem seu intento.
Nas eleições de 5 de outubro verificou-se que em alguns estados certas figuras conhecidas por suas práticas anti-republicanas estão sendo varridas do mapa político. Enquanto que em outras unidades da federação personagens colecionadores de processos criminais e de algemas conseguiram estrondosas vitórias. Na Bahia o neto de ACM ficou de fora do segundo turno. Em São Paulo os malufistas cada vez ficam em menor número, apesar de ter deixado seguidores e alunos exemplares. No Maranhão a turma de Sarney, mesmo com o controle dos meios de comunicação, não conseguiu grandes resultados. Diferentemente do Pará. Neste estado o famoso criador de rãs, financista do Banpará e conhecido corrupto, Jáder Barbalho, conseguiu eleger seu filho em primeiro turno na cidade de Ananindeua, segundo maior colégio eleitoral no estado, e, na capital, assegurou que seu primo disputasse o segundo turno com o atual prefeito. Pode-se afirmar que os mais experientes e carcomidos conseguiram se manter na maioria dos municípios do país. Conservando assim, nesse imenso território verde-amarelo, as profundas contradições de um povo sofrido e explorado de um lado, enquanto o poder foi mantido em mãos de poderosos e seus asseclas.
O PT conseguiu aumentar a quantidade de prefeitos e vereadores em mais de 50%, realizando todas as alianças possíveis com gatos e ratos para atingir essa meta. Os partidos mais a esquerda não avançaram muito. O maior recebedor de votos nas eleições foi o PMDB, seguido pelo PSDB e o PT. Significa que os partidos da ordem conseguiram a maior quantidade de votos, conseguindo conservar tudo como antes.
Os prefeitos e vereadores eleitos, em muitos municípios, inclusive algumas capitais, usaram como argumento a compra de votos, pagando de R$ 30,00 a R$ 150,00 por eleitor. Fortunas foram usadas. A velha prática do voto de cabresto em tempo de urna eletrônica. As verdadeiras necessidades da população, tais como geração de empregos, educação, saúde, questões ambientais, a reforma agrária, a construção da democracia participativa e as questões ambientais, raramente apareceram em debates, apenas serviam de argumentos para cabalar votos. Superficialmente esses assuntos foram apresentados. Não houve diferenças entre candidatos. Os principais partidos usaram a mesma prática e o mesmo discurso. O processo eleitoral dói transformado em um grande negócio, com empreiteiros, fornecedores e negociantes de todos os tipos realizando grandes investimentos para eleger seus apaziguados. E conseguiram.
A sociedade não instrumentaliza o processo eleitoral para avançar na conscientização e organização social. Apesar da importância do sufrágio universal a população não crê mais no sistema representativo. Graças ao descaso dos representantes eleitos para os anseios e as demandas da população. A descrença é muito grande. As mudanças ocorridas, com a eleição de algumas novas figuras, significam, de fato, conservar os mesmos interesses no comando de Prefeituras e Câmaras de Vereadores. O caminho para o fortalecimento da democracia, para o povo se tornar o vitorioso, deve ser a mobilização e organização popular. Construir o verdadeiro poder popular, democrático e participativo, com a maioria do povo controlando o Estado. Esse é o único caminho a trilhar, contribuindo para resgatar a esperança, a indignação e a disposição para a luta.

terça-feira, outubro 07, 2008

Moribundo do Norte

Ruas aflitas a qualquer hora
com engravatados produzindo enlatados,
em suas limosines coloridas soltando lixos
de luxo, fumaça e arrogância.

Vives no norte e semeias a morte
nos pontos cardeais com golpes cínicos de um pirata financeiro,
abatido e moribundo saqueando crianças e jardins.
Quem me dera ser do teu porte.
Te enfrentaria por dentro e por fora,
como faço a qualquer hora
contra os exploradores do meu povo.

Teu asfalto é feito de sangue,
com a alma de teus filhos pobres
de peles vermelhas, negras, amarelas, mesmo brancas,
esquecidas e abandonadas em largas avenidas.

Multidões caminham orientadas por luzes,
encantadas com teu espírito sugador
espalhando medo aos teus habitantes e vizinhos robotizados
por todos os desertos, mares e oceanos da abóbada terrestre.

Nada disso adianta.

Todas as cores te adentram,
te acuam nos cantos dos sonhos
cheios de paz, amor e fartura
propagadas por estrelas iluminadas
e barbudos, lutadores, combatentes, caminhantes e poetas.

A rebelião germina dentro de teu corpo esquálido e faminto.
Aproveito para fincar meu brado,
como uma pedra de fogo,
capaz de crescer sob tornados e tufões
impossíveis de serem detidos e controlados.

No teu coração cravei meu canto,
falei de sonhos, dores e conquistas,
repudiei teus crimes contra a vida, as flores, as crianças e a terra.

Boquiaberto me olhas como um boquirroto moribundo.

Meu carcará voa mais alto,
acostumado está com as necessidades.
Tua águia pede água, petróleo e ouro.
Nada te sobrará a não ser novas sementes
de tulipas vermelhas e marias-sem-vergonha de todas as cores.
Elas te inundarão para sobreviver.

Tuas ruas continuarão coloridas,
impondo-se aos teus bueiros que fumeiam
nas avenidas escuras e lúgrubes.

Tua arrogância vem do medo que te domina.
Tuas entranhas apodrecem.
Teu império findará no sangue derramado
que te sufocará em tua usura e força.

Meu carcará voa mais forte,
conhece a dor do sertão.

sábado, outubro 04, 2008

Olhares brilhantes

Sede de sonhar o mar envolve
olhares vendados
com negras belas de olhares brilhantes,
cabelos encaracolados,
como vidas famintas.

Movimentos sensuais
nas ondas do tempo,
sem perceber o vento
crendo no salvador
que dos pupitos
promete rios de mel e leite
para crianças nos farois,
enquanto lavam vidros de luxuosos carros.

Sem sonho nada sou,
apenas um ludovicense
esperando o pagamento do voto.

Nada devoto,
espero a ventania
tomar conta das almas
por se descobrirem
nas velhas ruas de pedras e azulejos.

Moças bonitas bailam o maracatu,
enquanto, sem tu, caminho o rumo da lua
nesta noite plena de pulmoes,
coraçoes, bocas e estomagos famintos.

Sede de voar,
um sonho onde nada lembre este tempo,
onde a dor se disfarça
de alegria em pedidos a candidatos.

Nada esperar dos que matam os sonhos.

Nada conta
que nao seja a pedra
contra a fome e as dores.

Nada ilumina a noite,
sem crer nas sementes de sonhos
de novos olhares.

Olhares brilhantes,
sem fome, nem ilusao.

terça-feira, setembro 30, 2008

Labaredas escondidas nos olhares

Vento ventania luar
canta o povo na rua
venta o suor de um sonho
as estrelas se armam
a lua observa tudo

Cada passo fica no tempo
deixa seu traço de sangue e dor
ilusoes predominam
os olhos se fecham
a boca resseca
o coraçao fica apertado


As estrelas guerreiam
nao se sujeitam a escuridao
o vento espalha novos velhos sonhos
germinando a força de sementes brotando
a terra mesmo arida permanece fertil

Vento ventania luar
as estrelas seguem em luta
a lua tudo observa
repassando as liçoes aprendidas no tempo
o vento anima
o fogo nao se apaga

Labaredas brotarao

sexta-feira, setembro 26, 2008

Democracia, voto e direitos

A luta pelo direito ao voto no Brasil é antiga. Muitas dificuldades foram enfrentadas para conquistar o voto universal e secreto. Primeiro não se votava. Ainda viviamos como colonia, sob tutela do imperio. Na republica velha votavam apenas os que possuiam riquezas. Quem não possuia bens não tinha esse direito. Hoje todos e todas podem votar, tornando-se, inclusive, obrigatório esse ato que deveria ser um direito e não um dever.
No período repúblicano, antes dessa fase democrática e histórica que a sociedade brasileira atravessa, foram poucos os momentos que se vivenciou a liderdade e a democracia. A história do país é repleta de ditaduras e governos autoritários. Muitos, fascistas. Todos, no entanto, sustentados pelo poder econômico, principal beneficiado com a falta de liberdade e democracia.
O país saiu de uma ditadura feroz e cínica. Foram mais de 20 anos. Atos arbitrários, prisões, torturas, exílios e mortes. As organizaçoes da sociedade civil foram desmontadas. Seus dirigentes, perseguidos. Impuseram-se novos conceitos políticos, morais e sociais, nas escolas, igrejas e dentro da famílias, todos elaborados pelos detentores do poder. Visaram desmotivar, desmobilizar e alienar a população, antes atuante, crítica, militante e contestadora. A ditadura cumpriu um papel alienante e servil ao grande capital. Para isso não economizou em sua ferocidade.
Chegaram novos tempos. Os partidos comunistas, antes perseguidos e proscritos, foram legalizados. Aos movimentos sociais, proibidos pelo arbítrio, foi assegurada a legalidade democrática. A sociedade se mobilizou e passou a atuar de forma continuada e consistente.
O povo brasileiro viveu dois momento cruciais logo após o fim da ditadura militar. Primeiramente, de forma pacifica, destituiu o primeiro presidente eleito após esse triste periodo ditatorial. Decorridos pouco mais de uma década, colocou no principal cargo eletivo do país um dos principais líderes da resistência. Lula, dirigente sindical, líder de grandes movimentos grevistas no final dos anos 70 e fundador do PT, elegeu-se presidente. Cumpre o segundo mandato, com uma aprovação do eleitorado, segundo todas as pesquisas de opinião, de mais de 70%.
Apesar de todo esse avanço democrático, foram poucas as mudanças estruturais ocorridas, especialmente no campo economico. Os ricos continuam controlando a maior parte da riqueza, mesmo tendo havido um crecimento da classe média e uma redução da miséria, a riqueza continua concentrada nas mãos de poucos.
Entretanto, o que mais indigna é a adoção de certas práticas por todos que se dispõe a disputar algum cargos eletivos. Setores que antes combatiam o clientelismo e a existência do voto de cabresto, passaram a utilizar a mesma prática que antes apenas os mais reacionários - conservadores - direitistas, representantes das oligarquias usavam.
Em 2008 serão eleitos prefeitos e vereadores nos municípios brasileiros. Verifica-se que apenas os candidatos com dinheiro para comprar votos estão em melhores condições de conseguirem vitorias nos pleitos. Pagam-se de R$20,00 a R$50,00 por voto. Usam-se vários argumentos para burlar a legislação que, em alguns aspectos, tornou-se mais rígida. A eleição se tornou um leilão, disfarçado de mercado de mão de obra. Contratam-se pessoas para segurar bandeiras, paga-se para colocar propagandas em veículos, em muros, residências e distribuir materiais. É uma feira livre de votos. Há candidatos que contratam o dobro de pessoas dos votos que são necessários para serem eleitos. Contam com uma quebra de 50%. Contam com sua eleição assegurada. Essa prática se dá em todos os partidos, com exceção dos considerados de ultra esquerda, que ainda mantêm a prática da militância e do debate com a sociedade. Partidos que se dizem da esquerda tradiconal ou da velha direita disputam a cada lance a compra do eleitado nas ruas, bairros ou residências, como se fossem balcões ou feiras.
Por outro lado, passa-se para a sociedade que a população, por meio do voto, poderá controlar o Estado, escolhendo livremente os governantes e legisladores. Engano. Há um cinismo assustador e uma cumpricidade suicida. Os candidatos sabem que estão comprando votos e manipulado o pseudo processo "democrático". A população faz de conta que tem consciência e escolhe livremente. É um teatro histórico. Enquanto isso a elite conserva seus privilégios e se diz alheia a tudo isso. Como dizia Brecht, chega a "estufar o peito e dizer que odeia a política", enquando seus sicários, jornalistas de plantão nos telejornais continuam repetindo um discurso alienador e fortalecendo a ignorância e assegurando a miséria.
Onde vamos parar? Os movimentos sociais, sindicatos e outras organizações de massa, em sua maioria, nada fazem para mudar isso. Ao contrário, muitos chegam a aproveitar a "boquinha".
Se o sonho de uma sociedade mais justa, mais fraterna, onde não seja aceito a exploração, onde os governantes corruptos, que tudo fazem para ter acesso ao poder, sejam varridos e colocados em seu lugar da história, o lixo, não for resgatado para onde seguiremos? O vale-tudo que se torna uma regra no jogo politico precisa ser combatido, sob o risco de o fascismo prevalecer. A democracia direta e participativa deve ser aprofundada, assegurando para toda a população uma vida digna e respeitosa, onde cada cidadão ou cidadã, nos períodos eleitorais ou não, tenham discernimento de seus direitos e deveres, principalmente o de assegurar um Estado democrático, repúblicano, com uma sociedade justa, onde o trabalho seja o determinante e não o capital.
O socialismo é o único caminho para se contrapor a esse capitalismo contemporâneo que torna as pessoas insignificantes e objetos nas mãos de pretensos líderes, que na realidade não passam de aventureiros em busca de poder e dinheiro. Só o povo organizado poderá mudar o rumo da história.

quarta-feira, setembro 17, 2008

A POLÍTICA DOS EUA NA BOLÍVIA*

Os movimentos de um embaixador especialista em conflitos separatistas

Deputados bolivianos divulgam documento denunciando as articulações promovidas pelo embaixador dos Estados Unidos na Bolívia, Philip Goldberg, contra o governo de Evo Morales. Considerado um especialista em conflitos separatistas, Goldberg foi enviado a La Paz depois de chefiar a missão dos EUA no Kosovo, onde trabalhou para consolidar a separação e a independência dessa região, depois da Guerra dos Balcãs.

Marco Aurélio Weissheimer

Quatro deputados do Movimento ao Socialismo, partido do presidente da Bolívia, Evo Morales, divulgaram um comunicado denunciando ações do governo dos Estados Unidos, por meio de seu embaixador em La Paz, Philip Goldberg, para derrubar o governo eleito do país. César Navarro, Gustavo Torrico, Gabriel Herbas e René Martinez relacionam um conjunto de fatos ocorridos nos departamentos da região leste do país que obedeceriam a uma estratégia fixada pela oposição em conjunto com o embaixador Goldberg.

Os fatos apontados pelos parlamentares bolivianos são os seguintes:

No dia 13 de outubro de 2006, os Estados Unidos enviam a Bolívia, como embaixador, Philip Goldberg, um especialista em fomentar conflitos separatistas. Entre 1994 e 1996, foi chefe da secretaria do Departamento de Estado para assuntos da Bósnia (durante a guerra separatista dos Bálcãs). Entre 2004 e 2006, Goldberg foi chefe da missão dos EUA em Pristina (Kosovo), onde trabalhou para consolidar a separação e a independência dessa região, marcada por uma luta que deixou milhares de mortos.

Segundo os deputados, Philip Goldberg foi enviado a Bolívia com a missão de desestabilizar o governo de Evo Morales, principalmente incentivando o separatismo das regiões orientais. Na Bolívia, depois do triunfo de Evo Morales na eleição de 18 de dezembro de 2005, os partidos tradicionais e as elites sofreram um duro golpe, Goldberg se encarregou de reorganizá-los e de construir um caminho conspirativo para desgastar o novo governo.

Plano midiático de desinformação
Goldberg organizou uma grande coordenação com empresários do leste, com donos de meios de comunicação e políticos do movimento Podemos para colocar em marcha um grande plano de desinformação com respeito à gestão de Evo Morales, tudo isso dentro do marco de uma intensificação das lutas regionais contra o Estado boliviano. Esse plano de desinformação era constituído pelos seguintes passos:

a) Mostrar que o narcotráfico estava crescendo na Bolívia;
b) Os meios de comunicação precisavam mostrar que Evo estava governando mal e que a inflação, a corrupção e o desgoverno estavam crescendo;
c) Os meios de comunicação também deviam imputar ao governo a responsabilidade pela violência no país. Começou a ser difundido aí o conceito de que “Evo dividia a Bolívia”.

Consolidados esses passos, Goldberg reúne-se, na primeira semana de maio, com Jorge Quiroga e acertam a aprovação, no Senado, do referendo revogatório.

Eles estavam convencidos que Evo Morales não conseguiria obter mais de 50% dos votos e, uma vez deslegitimado nas urnas, a oposição e os prefeitos da chamada “Meia Lua” pediriam a renúncia do presidente por “ilegítimo, mau governante e por dividir a Bolívia”. No entanto, os prefeitos dos departamentos (equivalentes a governadores) não foram consultados sobre este plano e acabaram se opondo a ele, por achar que não daria certo. No dia 23 de junho, reúnem-se em Tarija e elaboram um pronunciamento escrito para rechaçar o referendo revogatório. Dias antes, em 17 de junho, Philip Goldberg viajou para os EUA, alegando uma suposta crise diplomática.

O objetivo real de sua viagem, dizem os deputados, foi definir um plano, junto a agências publicitárias, para desenvolver uma guerra suja que pudesse causar a derrota de Evo no referendo. No dia 2 de julho, Goldberg regressou a La Paz e, imediatamente, reuniu-se com cada um dos prefeitos opositores para convencê-los a aceitar o referendo. No dia 5 de julho, os prefeitos opositores anunciam que aceitam disputar o referendo.

Os donos das grandes empresas de comunicação também participaram deste plano, denunciam os parlamentares. Isso explicaria, por exemplo, porque nos principais programas políticos destes meios as pesquisas sempre apontavam Evo Morales com cerca de 49% dos votos. A tentativa de derrubada do governo pelo voto estava em marcha. Além desta campanha nos programas políticos, também foi executada uma outra no terreno da publicidade. A oposição contratou uma agência de publicidade para elaborar os primeiros spots contra Evo Morales. Ao dar-se conta que os roteiros e o dinheiro vinham dos EUA, esta agência decidiu não produzir mais os comerciais.

O Plano B do embaixador
O plano para tirar Evo do governo acabou sendo frustrado pelo resultado do referendo. O presidente se legitimou com mais de 67% dos votos e Goldberg passou então a colocar em marcha um Plano B, que incluem greves, bloqueios e ações violentas que buscariam dois resultados alternativos.

1) O conflito se generaliza e obre o leste e parte do oeste do país. A população começa a se cansar, as forças da ordem entram em ação, com muitas mortes. Neste caso, Evo teria que convocar eleições ou deixar o governo depois dos conflitos com mortes. A insistente provocação para que as forças policiais e as forças armadas atuem se encaixa neste plano.

2) Caso não ocorra o cenário anterior, a oposição contaria ainda com uma segunda possibilidade: uma vez desalojada a polícia e o Estado Nacional das regiões, em meio à violência, Goldberg oferece aos prefeitos opositores a vinda de mediadores internacionais, inclusive tropas da ONU para concretizar o separatismo dos quatro departamentos rebeldes, como fez no Kosovo.

Seguindo esse plano, Goldberg viajou a Sucre e se reuniu com a prefeita Savina Cuellar, que pediu a renúncia do presidente. No dia 21 de agosto, o embaixador encontrou-se clandestinamente com o prefeito de Santa Cruz, Rubén Costas, e com quatro congressistas norte-americanos. No dia 25 de agosto, mais uma reunião com Rubén Costas. Paralelamente, a oposição rejeitou o chamado de diálogo feito pelo governo e, no dia 24 de agosto, convocou uma greve geral. Seguindo a linha proposta por Goldberg, denunciam ainda os parlamentares do MAS, os prefeitos impuseram um plano de desgaste de médio prazo, incluindo destruição de instituições públicas e provocações à polícia e às forças armadas.

Na mesma linha golpista, em Santa Cruz e em Tarija começou-se a falar de federalismo e até de independência. Como o empresariado cruceño estava mais interessado na Feira de Santa Cruz (que deve iniciar no dia 19 de setembro) que nas greves e bloqueios, o Departamento de Estado convocou Branco Marinkovic para uma conversa nos EUA. No dia 1° de setembro, em um pequeno avião Beechcraft, matrícula C-90A, Marinkovic viajou aos Estados Unidos onde o convenceram de que o plano estava em sua trama final e que era preciso jogar-se todo nele. No dia 9 de setembro, horas depois do regresso de Marinkovic a Santa Cruz, iniciam protestos violentos, com invasão e queima de instituições públicas e novas agressões às forças armadas e à polícia.

Este é o plano golpista que está em marcha com o apoio da embaixada dos EUA, dizem os deputados. Foram essas razões, asseguram, que levaram o governo boliviano a pedir sua saída do país. Eles manifestam confiança que esse plano fracassará porque o governo de Evo Morales segue controlando o conflito, com paciência e dentro da legalidade, mantendo-o em sua dimensão regional. “A violência gerada por grupos impulsionados por este plano golpista é a forma pela qual os setores conservadores mostram sua decisão de acabar com a democracia, já que ela não serve mais aos seus interesses”, concluem.


* Extraído da lista da Assembléia Popular, em 15/09/2008.

terça-feira, setembro 02, 2008

Candidatos superam diferenças eleitorais e se unem ao reverenciar a memória de parlamentar assassinado

Candidatos à prefeitura de Belém, autoridades e lideranças populares se mobilizaram para prestigiar o lançamento do livro João Batista, mártir da luta pela reforma agrária. Violência e impunidade no Pará. O ato mostrou que mesmo depois de vinte anos do assassinato do advogado João Carlos Batista, ocorrido em 6 de dezembro de 1988, a sua memória ainda contribui para mobilizar a esquerda e o povo paraense.

Numa quente noite de quarta-feira, 27 de agosto, em plena campanha eleitoral, Arnaldo Jordy (PPS) e Leila Márcia (PC do B), candidatos a prefeito e vice – prefeita, respectivamente, mesmo em chapas diferentes, deixaram a disputa pelo voto e se uniram para falar da importância que o biografado teve na luta do povo. Além dos candidatos majoritários, sentaram a mesa oficial do auditório deputado João Carlos Batista, na Assembléia Legislativa do Pará, o secretário de Estado de Cultura, Edílson Moura (representando a governadora Ana Júlia Carepa), o vereador Paulo César Fonteles (PT), João Leonardo e Márcia Maria, filhos de Batista, o autor e Ney Leal, que coordenou o evento. O representante da Comissão de Direitos Humanos da OAB/Pará, Dr. Paulo Barradas também se fez presente.

Inúmeros discursos foram realizados. Muitos recordaram o tempo da militância de Batista, como o do professor de sociologia da UFPa, o antropólogo Alexandre Cunha, fundador e presidente do Comitê Paraense pela Anistia, no final da década de 70, que destacou a importância daquele jovem estudante nas lutas daquele tempo. Segundo o professor a militância de Batista rompeu todas as barreiras e paradigmas, conseguindo aglutinar lideranças e populares ao seu redor. Falas de vários jovens, filhos de companheiros do advogado, mostraram que a luta pela reforma agrária, contra o latifúndio, a impunidade e a violência permanece com a mesma força. Os jovens Josélio, Samir, Benildo e Marcos reafirmaram a disposição de continuar a luta e seguir o exemplo de Batista. Deixaram claro que não deixarão a memória desse mártir da luta pela reforma agrária se tornar instrumento a serviço da demagogia e ou ser colocada no ostracismo.

João Batista, mártir da luta pela reforma agrária. Violência e impunidade no Pará é uma biografia que cumpre importante papel na formação histórica e política do povo brasileiro na atualidade. Segundo João Pedro Stédile, prefaciador, “é o retrato da vida e dedicação de um dos melhores filhos da classe trabalhadora – que pagou com a própria vida por sua coerência”. E neste momento de crise ideológica para certos setores da esquerda, resgatar referenciais que apontem à importância da luta do povo é fundamental. O livro mostra as entranhas dos movimentos ocorridos no campo entre 1965 e 1988, possibilita a descoberta da importância da luta para alguns e aviva a memória daqueles que esqueceram o caminho percorrido para se chegar nos dias atuais.

João Batista, mártir da luta pela reforma agrária. Violência e impunidade no Pará
Expressão popular
280 páginas
R$ 30,00
Pedidos: pcbatis@gmail.com

terça-feira, agosto 12, 2008

Vinte anos da morte de João Batista em livro - no O Rebate em primeira mão














Ana Lucia Araujo

08-Ago-2008

Os 20 anos do assassinato em Belém-PA do deputado João Carlos Batista serão assinalados por um livro biográfico, com registros especiais da vida do advogado, do homem político e da morte como defensor da reforma agrária no Estado do Pará, Brasil. O autor é o irmão do deputado, o jornalista investigativo Pedro César Batista, também autor do livro Marcha Interrompida (Thesaurus Editora, 2006) lançado em Junho nas Nações Unidas. João Batista, mártir da luta pela reforma agrária -violência e impunidade no Pará é o título do novo livro de Pedro César, uma homenagem ao irmão e um apanhado da luta pela reforma agrária brasileira, com enfoque na realidade amazônica, situado no contexto histórico recente da luta de classes na América do Sul. A vida, os ideais, as personagens, os crimes contra os direitos humanos na região e a impunidade são relatados com paixão e coragem jornalística. Já publicado em edição experimental, a nova edição da Expressão Popular deverá ser lançada a nível nacional, desta vez com apresentação escrita por João Pedro Stédile, líder histórico dos trabalhadores rurais sem-terra brasileiros, 'orelha' do deputado Paulo Rocha e esforço de um grupo significativo que reúne parentes, amigos e companheiros e simpatizantes das causas do deputado assassinado. O lançamento em Belém será marcado por uma coletiva à imprensa no dia 25 de Agosto na séde da OAB-PA às 10 horas.

anaLuarCOMUNICAÇÃO
http://analuciaaraujo.bloguepessoal.com

sexta-feira, agosto 08, 2008

Iluminação















Bsb, 8/8/8

Sons reais penetram minha alma,
Pedem calma - ela tem pressa,
Cansada está da solidão
Da falta de eco em meus ouvidos.

Partículas dançam buscando o alvo.
Querem se alinhar
E aninhar, semear encanto
Para o canto que ouço.

Brasília fica cada dia mais seca.
Minha garganta quer gritar,
Falar aos céus e a lua crescente
Que tudo vê sem se manifestar.
Miradas perdem-se no horizonte
Rumo às águas do Paranoá
Que brilham desejando
Ser mar aberto apaixonado.

Sigo caminhando,
Sei onde quero chegar.
Acredito na chegada,
A partida já foi dada.

Olhares buscam o alvo
Vêem apenas sombras
De um tempo que se foi,
Permite brotar sorrisos,
Movimentos circulares,
Dança de corpos e copos
Estalando no vento.

Vem canto do vento,
Vem fazer comigo
O que estás habituado:
Dá-me certezas.
As incertezas dominam.

As luzes continuam apagadas,
O sol aquece meu olhar
Que te busca na multidão desesperançada
E mesquinha cuidando do umbigo.
A música me embriaga,
Mais sementes são jogadas,
Mais flores desabrocham,
Minha alma tenta crer
Enquanto continua atravessando
O eixão para mais um dia.

O silêncio apavora.

quinta-feira, julho 10, 2008

NÃO AO FASCISMO!!!

O Ministério Público do Rio Grande do Sul move uma ação na justiça para cassar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Alegam que essa organização tem ligações com terroristas e uma prática criminosa. Para tanto estão proibindo a realização de manifestações, realizando busca e apreensões em acampamentos e pedindo a prisão de lideranças do movimento nesse estado.
Para isso tem se utilizado de centenas de policiais da Brigada Militar gaúcha, a qual chegou a deter centenas de trabalhadores que participavam do congresso estadual do movimento. Alegaram na ocasião que cumpriam uma ordem judicial de busca e apreensão para localizar uma máquina fotográfica que havia sido furtada. Para localizar esse “importante” objeto empastelaram a realização do congresso de trabalhadores. A execução dessas ações foram garantidas pela governadora gaúcha Yeda Crusisu.
O MP gaúcho, em seu desplante fascista, chegou ao ponto de pedir a cassação dos títulos de eleitores de assentados em municípios daquele estado, onde, segundo os promotores, esses eleitores desequilibrariam o processo eleitoral.
Em sua ação repressora o MP pede ainda que seja proibida a continuidade das escolas nos acampamentos e assentamentos, pois ali se formam, segundo esses defensores dos ricos e poderosos, crianças que não respeitarão as leis e serão subversivas.

ABAIXO A DITADURA

A história nacional é repleta de governos fascistas, que se mantiveram no poder graças ao arbítrio e a força bruta, impedindo o exercício da democracia e da cidadania. Foram muitos anos de lutas para se conquistar o Estado Democrático de Direito. Muitos dos melhores filhos do povo brasileiro perderam a vida para que chegássemos ao estágio atual. Quantos não foram presos, torturados ou exilados? Conquistamos o direito legal de nos organizar, mobilizar, debater e lutar democraticamente pelos direitos que são assegurados constitucionalmente. Não abriremos mão de preservar isso.

Essa ação do MP cumpre um papel desmobilizador e intimidatório aos movimentos sociais. Criminalizam o exercício da cidadania. Querem proibir o direito do cidadão de defender a sua dignidade.

Em contrapartida os mandantes de assassinatos contra os trabalhadores rurais, as grande empresas transnacionais, o agronegócio, o latifúndio, os banqueiros e os detentores do grande capital continuam com seus privilégios e permanecem impunes, mesmo cometendo inúmeros atos ilegais e criminosos. Quem destrói a fauna, devasta o meio ambiente, utiliza trabalhadores em condições de escravidão, contamina o solo e causa o aumento da miséria? Estes permanecem impunes. Pior ainda, invertem a situação. Os arrozeiros de Roraima atentam contra a vida das comunidades indígenas, não respeitam a lei, praticam atos terroristas e quem leva a culpa são os índios. Mesma inversão é feita com os que lutam pela reforma agrária, que mesmo sofrendo agressões mortais por décadas, terminam sendo acusados de ser violentos por ocuparem as terras para assegurar que estas cumpram sua função social. A mídia, a serviço dos poderosos, inverte os fatos e a verdade.

NÃO AO RETROCESSO

Essa ação do MP contra o MST visa atingir todos os segmentos da sociedade brasileira que não aceita a mentira e a exploração, pretende preservar o poder dos que não aceitam que o povo lute e se mobilize por seus direitos. Essa ação do MP visa impedir que os movimentos sociais e populares voltem às ruas para defender uma sociedade mais justa e igualitária. Mas não aceitaremos isso calado. Enfrentamos as balas e os porões da ditadura, não serão as mentiras da mídia e de setores reacionários e fascistas que impedirão a continuidade dessa luta.

Viva a democracia.
Viva a luta do povo brasileiro.
Abaixo o fascismo.

segunda-feira, julho 07, 2008

MARCHA INTERROMPIDA NA MÍDIA BRASILEIRA E AMERICANA:

http://www.claudiohumberto.com.br/
http://www.comunidadenews.com/?secao=noticias_ver&id=3897
http://www.brazilianvoice.com/mostranews.php?id=4872#
http://radio.un.org/por/.
http://www.mundolegal.com.br/default.cfm?FuseAction=Noticia_Detalhar&did=27702
http://www.portalunicsul.com.br/portalunidf/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=30
http://www.sjpdf.org.br/internas/noticias_details.cfm?id_noticia=1516
http://www.verdeamarelo.net/eventos.asp
http://www.brasiliawebnews.com.br/cultura.php
http://orebate-analuciaaraujo.blogspot.com/2008/06/livro-marcha-interrompida-convidado-da.html
http://analuciaaraujo.bloguepessoal.com/56457/Pedro-Batista-lanca-Marcha-Interrompida-na-ONU-em-27-de-Junho-video-release/
http://www.youtube.com/user/edugvianatube
http://www.artimanha.net/blog/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=1090
http://www.tribunadobrasil.com.br/?ned=2351&ntc=66862&sc=41
http://www.cidade.agox.net/Videos/Carajas/PA.htm
http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/brasilia/2006/04/14/jorbrs20060414004.html
http://www.mst.org.br/mst/pagina.php?cd=5520
http://www.thesaurus.com.br/autor/pedro-cesar-batista/
http://observacoesdocotidiano.blogspot.com/2008_06_26_archive.html
http://216.239.59.104/search?q=cache:yFCxKiGjE9gJ:www.braziliansuperlist.com/noticia/jornalista_lanca_livro_sobre_o_mst_em_ny+%22Marcha+Interrompida%22&hl=pt-PT&ct=clnk&cd=1&gl=pt&lr=lang_pt

http://www.sinait.org.br/Site/index.php?id=3075&act=vernoticias

http://gnn1mail.com/cultura.php

Lançamento de Marcha Interrompida na ONU





















Escritor brasileiro lança na ONU obra sobre os Sem Terra
24/06/2008

Do Brazilian Voice

Marcha Interrompida, mais do que uma obra sobre o MST (Movimento dos Sem Terra), de Pedro César Batista, lançado pela Thesaurus Editora, é uma reportagem romanceada que relata um episódio representativo da "marcha" de uma região e de um país. O livro será lançado dia 27 de junho, no auditório do Dag Hammarskjöld Library, em atividade das Nações Unidas.

O desfecho, conhecido como o Massacre do Eldorado do Carajás , há 12 anos, feriu um país em desenvolvimento económico e em condição democrática recém reconquistada. A ferida ainda não está cicatrizada na Amazônia, entre outras da mesma natureza que frequentemente se reabrem em diferentes pontos, dizimando pessoas, famílias e comunidades.

É preciso que seja mostrada ao mundo em todas as línguas possíveis, pela mídia , instituições, ONGs e pessoas empenhadas na defesa dos Direitos Humanos e no apoio às vítimas da injustiça e da violência. Para que episódios semelhantes sejam punidos exemplarmente até que não mais aconteçam. É preciso que sejam reparados os danos causados por este massacre na história das famílias que a viveram e na história do Brasil.

Pedro César Batista é um jornalista investigativo que pauta a sua carreira nos temas sociais e políticos e nas questões relacionadas com os Direitos Humanos. Embora tenha nascido no Estado de São Paulo, foi militante de esquerda na Amazônia, uma região onde persiste uma espécie de ditadura, isolada do sistema político vigente.

Da mesma maneira que nas grandes metrópoles brasileiras o tráfico de drogas e das armas domina comunidades inteiras pelo terror, na Amazônia uma estirpe de empresários esconde organizações mafiosas, que executam, muitas vezes com a conivência de políticos e policiais corruptos, quem ousa denunciar os seus crimes e intervir contra os seus negócios ilegais. Um dos crimes mais denunciados ultimamente e divulgados pela imprensa brasileira é a manutenção de homens, mulheres e crianças em grandes fazendas, trabalhando em regime de escravidão, sem direitos trabalhistas e proibidos de saírem dos locais onde estão retidos.

A ditadura militar brasileira foi extinta, mas não cessaram os assassinatos e massacres de cidadãos e líderes sindicais, comunitários e políticos. Também têm sido muitos os policiais que não aceitaram aliar-se às organizações criminosas e foram executados. A questão da posse e da exploração da terra, do meio ambiente e outros relacionados, na Amazônia possuem ainda características feudais.

A Reforma Agrária na região é mais complicada que no resto do país, por causa da grande dimensão territorial e dos interesses econômicos e políticos dos grandes proprietários, defendidos ainda na lei da bala. A corrupção é frequentemente relacionada com a atividade política por todo o país e em todos os escalões. Há quase 20 anos, o irmão de Pedro César, Deputado João Carlos Batista, foi assassinado em Belém do Pará, em pleno exercício de mandato. Mais recentemente foi a vez da freira americana Irmã Dorothy.

Assim como Chico Mendes, muitos mais na Amazônia foram calados e continuam a sê-lo. Alguns casos foram investigados e punidos, mas a justiça para o crime organizado ainda é tímida. Pedro César Batista está atento a esta realidade e registra no livro Marcha Interrompida um episódio marcante na trajetória do Movimento dos Sem Terra e na história social e política do Brasil e da América do Sul.

terça-feira, abril 01, 2008

Não estou cá.
















Venho do âmago da terra,
sou pedra lapidando e
semando ventania ensolarada.

Cruzo o planalto central
em direção ao vazio humano
que um dia será jardim.

Canta o Beija - Flor ao amanhecer
luzes apagadas nas avenidas,
os olhares sem brilho
flutuando no shopping center
ao comprar sonhos açucarados
com adoçantes artificiais.

Rolando como pedra sem terra
finco estrelas vermelhas,
dispostas a guerrear
contra a fome e a usura
omboloradas pela vida
das sementes secas no poder.

Adubo a trovoada
que brota escritas em noites escuras.

Venho da terra sem dono,
de pedras lascadas floridas
levada por desejos conspiradores.

Sou terra fértil
que não se cansa de brotar,
levanta olhares gritando alto
para alguém o eco escutar.

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Seguindo o tempo

Gota do tempo me fez tempestade.
Semeio ventania,
escuto murmúrios dos pássaros
nos cantos d'alma
sem vento, nem saber.

O que sou?

Luzes me cegam,
embrutecem meu olhar.
Nem te vejo
na solidão que sou
cantando flores
enquanto contas moedas.

Vento?

A história ilumina
semeada de sangue e desejos.

O que fazer?

Vou esperar a cguva passar,
as flores desabrocharem,
as aves me mostrarem o rumo
e continuar seguindo
o destino do tempo.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Berlim homenageia os 100 anos de Olga Benario Prestes

de Carlos Albuquerque
da Deutsche Welle, na Alemanha



Juntamente com Anita Prestes, filha de Olga Benario e Luís Carlos Prestes, a galeria berlinense inaugura "pedra de tropeço" em homenagem aos 100 anos da revolucionária alemã de origem judaica, vítima do Holocausto.

Olga Benario Prestes estaria completando 100 anos nesta terça-feira (12/02). Como ponto alto das homenagens que presta ao seu centenário, a Galeria Olga Benario de Berlim inaugura "pedra de tropeço" em frente ao último endereço que a revolucionária ocupou na capital alemã.

A "pedra de tropeço" em homenagem à Olga Benario, instalada na calçada da Innstrasse 24, no bairro berlinense de Neukölln, será inaugurada por sua filha, a professora Anita Prestes, que nasceu em Berlim quando sua mãe estava na prisão feminina de Barnimstrasse.

"Pedras de tropeço" são pequenas placas de latão cravadas nas calçadas dos prédios onde moraram vítimas do Holocausto. Nelas, estão escritos o nome, data de nascimento, data de deportação e uma referência ao local e data de morte da vítima. A idéia partiu do artista alemão Gunter Demnig. Hoje, já existem mais de 13,5 mil marcos deste tipo espalhados por quatro países europeus.

Ação cinematográfica
Olga Benario nasceu em Munique, em 12 de fevereiro de 1908. No início dos anos de 1920, os arquivos policiais da República de Weimar já a classificavam como "agitadora comunista". Juntamente com seu parceiro, o comunista Otto Braun, ela se mudou aos 17 anos para Berlim-Neukölln, onde se tornou membro ativo da Juventude Comunista.

Olga Benario e Otto Braun ocuparam um apartamento na Innstrasse 24 em Neukölln, tradicional bairro proletário berlinense. Foi neste endereço que foram presos. Logo libertada, Olga organizou a ação espetacular que resgatou seu companheiro Otto Braun da prisão de Moabit.

Em abril de 1928, Olga e camaradas de Otto Braun disfarçados de estudantes de Direito invadiram a sala de audiências para onde Braun era levado. Subjugaram os policiais e libertaram o preso. Após a operação, Olga e Braun fugiram para Moscou, onde Olga trabalhava para o movimento trabalhista internacional.

Intentona Comunista
Com Luís Carlos Prestes, Olga Benario partiu de Moscou para o Rio de Janeiro, em 1935. Durante a viagem, os dois se apaixonaram e tornaram-se um casal, vindo a organizar a Intentona Comunista de 1935.

Após a fracassada tentativa, Olga e Prestes foram presos e, apesar de protestos internacionais, ela foi entregue, em 1936, grávida de sua filha, à Gestapo pela ditadura varguista.

Em setembro do mesmo ano, Olga foi enviada à Alemanha. Em 27 de novembro de 1936, nascia Anita Prestes na maternidade da prisão feminina berlinense da Barnimstrasse. No começo de 1938, Olga foi separada de sua filha e enviada para o campo de concentração feminino de Lichtenburg.

OIga Benario Prestes teve ainda que passar três anos no campo de concentração de Ravensbrück, antes de ser enviada para a câmara de gás em Bernburg, em 1942. O endereço da Innstrasse 24, em Neukölln, foi sua última morada como cidadã livre na Alemanha.

Em 12 de fevereiro de 1984 a Associação dos Perseguidos pelo Regime Nazista/Associação dos Antifascistas (VVN/VDA) fundou a Galeria Olga Benario em Berlim-Neukölln. A galeria informa que três motivos justificaram a escolha do nome de Olga: por ser mulher, por ter uma relação próxima com o bairro de Neukölln e por ser uma internacionalista.

A galeria foi inaugurada com uma exposição sobre a vida de Olga Benario, que, para além da lembrança como revolucionária comunista, vem se tornando, nos últimos anos, um exemplo de coragem feminina para muitos alemães.

Talvez por isto, os temas das exposições da galeria se expandiram para solidariedade internacional, imigrantes e asilo, movimento feminista, sindicatos, entre outros.

Em comemoração aos 100 anos da revolucionária e aos seus 24 anos de existência, a Galeria Olga Benario convidou Anita Prestes, filha de Olga Benario e Luís Carlos Prestes, para inaugurar a "pedra de tropeço" na calçada do último endereço berlinense de sua mãe, Olga Benario Prestes.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Medo e dor.

Preocupa-me o comportamento de muitos jovens e adolescentes neste tempo que vivemos. O individualismo, o egoísmo, o imediatismo, o consumismo e uma busca pelo sucesso a qualquer preço me traz uma sensação de medo e uma dor desconhecida.

Tenho conhecimento de muitos casos de adolescentes e jovens que não se preocupam em conhecer a sua história ou da humanidade, nem se preocupam com o futuro e nem demonstram querer transformar o presente. Não gostam de conversar, discutir ou falar sobre os assuntos que não sejam relacinados ao seu tempo.

As escolas que deveriam servir como pólo orientador da importância da história da humanidade, formam jovens única e exclusivamente voltados para atender os interesses do sistema, especialmente do mercado. As escolas educam jovens alienados em determinadas áreas, sem uma visão global de sociedade, nem de mundo. Repassam conhecimentos específicos e limitados. Conhecimentos transversais que passam a impressão de conhecimentos gerais. Termina formando jovens pedantes e arrogantes, com uma visão equivocada, imediatista e estreita.

Os valores predominantes são a ascensão social e econômica, buscando para isso atender os interesses do capital. São formados jovens com comportamento altamento individualista e egoísta. Vários instrumentos são utilizados para que a juventude reproduza esses valores, indo desde às religiões aos jogos eletrônicos. A internet, inportante instrumento do mundo moderno, deixa seus usuários cada vez mais voltados para si. Essas pessoas vivem um mundo virtual, deixando de lado a relação presencial com amigos, colegas e familiares. Muitos nem mesmo se interessam mais em viver as relações reais, trocam esta pela ilusão, pelo virtual. Prevalece o interesse pela satisfação imediata, instantânea.

Isso tudo faz aprofundar os valores do individualismo. Os interesses coletivos, sejam familiares ou de uma comunidade são deixados de lado. Vale apenas aquilo que interessa ao usuário, aos interesses do indivíduo. Muitos passam a viver única e exclusivamente apenas para si, como se o mundo fosse apenas seu. O que importa são seus interesses e projetos individuais. Os seus amigos, familiares, colegas e os demais habitantes do planeta nunca são levados em consideração. Junta-se a isso o hedonismo do presente, que se sustenta na busca pelo poder, alcançado, segundo os valores atuais, com o acesso a riqueza. Assim se terá felicidade, podendo comprar o que se desejar, especialmente aquilo que é de marca e propagado pela mídia.

Para se chegar a essa realidade tem que ser rápido. O tempo é o mesmo da internet. Assim é a alimentação, são os relacionamentos, são os projetos, são os sonhos. A influência da mídia é poderosa. Até crianças passam a escolher a marca que desejam usar. Jovens vivem com essa finalidade. Tudo é muito rápido e superficial. Principalmente as relações, das familiares às exteriores existentes na sociedade.

Imaginar que esses adolescentes e jovens serão os dirigentes do Estado e do mundo amanhã deixa-me com medo. Se a realidade atual mostra a existência de dois terços da população do planeta passando necessidades, o que ocorrerá amanhã, quando o mundo será dirigido pelos adolescentes de hoje, os quais são imediatista e individualistas? Isto me assusta. Ao mesmo tempo me deixa com dor de estômago diante da impotência em nada pode fazer.

Assim mesmo continuo acreditando que é possível semear valores e comportamentos, onde a solidariedade e o respeito à vida e aos outros, especialmente aos mais velhos prevalesça. Os mais velhos ainda poderão ensinar um mundo onde a fraternidade, a curiosidade, a ousadia e a busca da justiça determine os passos, contrapondo-se ao desespero pela ascensão econômica desejada por esses jovens.

É preciso uma ação coletiva para resgatar a esperança e a busca pela descoberta das lutas por um mundo mais justo e fraterno aos mais novos, sob pena de cada vez mais aumentar o fosse entre os poderosos e a maioria da população planetária. Não vamos perder tempo. Ainda é possível agir.

PS. Felizmente minhas filhas, Marlua e Mariana, não se enquadram no retrato de jovens e adolecentes apresentado acima.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Memória - Rosa Luxemburgo












(Ernesto Germano – janeiro/2008)


Final de tarde em Berlim. A data é 15 de janeiro de 1919 e a Alemanha havia sido derrotada em uma guerra contra a qual uma voz feminina de coragem inigualável havia se levantado. Anos antes de iniciada a guerra, Rosa Luxemburgo havia denunciado seus prenúncios e alertado os trabalhadores para o risco de uma guerra imperialista como a que se aproximava. Com Lenin, Rosa dirigiu-se à Internacional pedindo que cada um dos membros, em seus países, lutassem contra a guerra. E foi traída por alguns dos seus próprios companheiros que, sob o falso manto do nacionalismo, acabaram apoiando a aventura dos grandes capitalistas da época.


Rosa, “a vermelha”. Rosa, a voz do socialismo alemão mais conseqüente, lutadora ao lado do operariado. Mais que isto, Rosa precursora das lutas feministas e antimilitaristas, a Rosa que odiava todas as guerras e as denunciava como manobras do imperialismo mundial.


Terminada a guerra, Rosa dirige-se aos poderosos cobrando as vidas perdidas e os prejuízos à sociedade. E não vacila em apoiar o levante dos operários de Berlim, estando à frente das mobilizações. E, quando a polícia e as tropas alemãs se voltam contra os trabalhadores, sufocando o levante, Rosa volta com sua palavra certeira: “A ordem reina em Berlim! Ah! Estúpidos e insensatos verdugos! Não vês que vossa ordem está erigida sobre areia?”


Era demais! O panfleto intitulado “A ordem reina em Berlim”, datado de 14 de janeiro, foi seu último escrito(2). Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, seu grande companheiro de lutas no seio do movimento e dentro do partido, são presos e conduzidos ao Hotel Eden, no centro de Berlim. Soldados da recém criada “tropa de assalto” ficam responsáveis pela “guarda” dos dois revolucionários que deveriam ser conduzidos à prisão onde aguardariam julgamento.


Mas manter vivos dois lutadores do povo, dois líderes do movimento, e ainda permitir que se defendessem publicamente era muito arriscado. Na noite do dia 15 de janeiro, no saguão do hotel, uma mulher de 48 anos apenas, apesar dos cabelos já bem grisalhos, é conduzida aos empurrões e tapas pelos soldados em direção à carruagem que supostamente a levariam para a prisão. Karl Liebknech já havia sido espancado pelos soldados, à vista de todos, e Rosa recebe uma coronhada no rosto antes de ser jogada dentro do veículo.


Mas os dois lutadores não chegaram à prisão. Karl é fuzilado e jogado para fora da carruagem em movimento. Pouco depois, sobre uma ponte de um canal, a carruagem faz uma parada e soldados lançam um corpo às águas. O soldado Otto Runge, seguindo ordens do tenente Vogel, assassina Rosa Luxemburgo à coronhada, esmagando-lhe o crânio.


Como era início do inverno, Rosa Luxemburgo só foi encontrada meses depois, durante o degelo. O tenente Vogel e o soldado são “anistiados” no dia 10 de janeiro de 1921.

(fonte: Boletim NPC, de 15 a 31 de janeiro 2008)