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sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Medo e dor.

Preocupa-me o comportamento de muitos jovens e adolescentes neste tempo que vivemos. O individualismo, o egoísmo, o imediatismo, o consumismo e uma busca pelo sucesso a qualquer preço me traz uma sensação de medo e uma dor desconhecida.

Tenho conhecimento de muitos casos de adolescentes e jovens que não se preocupam em conhecer a sua história ou da humanidade, nem se preocupam com o futuro e nem demonstram querer transformar o presente. Não gostam de conversar, discutir ou falar sobre os assuntos que não sejam relacinados ao seu tempo.

As escolas que deveriam servir como pólo orientador da importância da história da humanidade, formam jovens única e exclusivamente voltados para atender os interesses do sistema, especialmente do mercado. As escolas educam jovens alienados em determinadas áreas, sem uma visão global de sociedade, nem de mundo. Repassam conhecimentos específicos e limitados. Conhecimentos transversais que passam a impressão de conhecimentos gerais. Termina formando jovens pedantes e arrogantes, com uma visão equivocada, imediatista e estreita.

Os valores predominantes são a ascensão social e econômica, buscando para isso atender os interesses do capital. São formados jovens com comportamento altamento individualista e egoísta. Vários instrumentos são utilizados para que a juventude reproduza esses valores, indo desde às religiões aos jogos eletrônicos. A internet, inportante instrumento do mundo moderno, deixa seus usuários cada vez mais voltados para si. Essas pessoas vivem um mundo virtual, deixando de lado a relação presencial com amigos, colegas e familiares. Muitos nem mesmo se interessam mais em viver as relações reais, trocam esta pela ilusão, pelo virtual. Prevalece o interesse pela satisfação imediata, instantânea.

Isso tudo faz aprofundar os valores do individualismo. Os interesses coletivos, sejam familiares ou de uma comunidade são deixados de lado. Vale apenas aquilo que interessa ao usuário, aos interesses do indivíduo. Muitos passam a viver única e exclusivamente apenas para si, como se o mundo fosse apenas seu. O que importa são seus interesses e projetos individuais. Os seus amigos, familiares, colegas e os demais habitantes do planeta nunca são levados em consideração. Junta-se a isso o hedonismo do presente, que se sustenta na busca pelo poder, alcançado, segundo os valores atuais, com o acesso a riqueza. Assim se terá felicidade, podendo comprar o que se desejar, especialmente aquilo que é de marca e propagado pela mídia.

Para se chegar a essa realidade tem que ser rápido. O tempo é o mesmo da internet. Assim é a alimentação, são os relacionamentos, são os projetos, são os sonhos. A influência da mídia é poderosa. Até crianças passam a escolher a marca que desejam usar. Jovens vivem com essa finalidade. Tudo é muito rápido e superficial. Principalmente as relações, das familiares às exteriores existentes na sociedade.

Imaginar que esses adolescentes e jovens serão os dirigentes do Estado e do mundo amanhã deixa-me com medo. Se a realidade atual mostra a existência de dois terços da população do planeta passando necessidades, o que ocorrerá amanhã, quando o mundo será dirigido pelos adolescentes de hoje, os quais são imediatista e individualistas? Isto me assusta. Ao mesmo tempo me deixa com dor de estômago diante da impotência em nada pode fazer.

Assim mesmo continuo acreditando que é possível semear valores e comportamentos, onde a solidariedade e o respeito à vida e aos outros, especialmente aos mais velhos prevalesça. Os mais velhos ainda poderão ensinar um mundo onde a fraternidade, a curiosidade, a ousadia e a busca da justiça determine os passos, contrapondo-se ao desespero pela ascensão econômica desejada por esses jovens.

É preciso uma ação coletiva para resgatar a esperança e a busca pela descoberta das lutas por um mundo mais justo e fraterno aos mais novos, sob pena de cada vez mais aumentar o fosse entre os poderosos e a maioria da população planetária. Não vamos perder tempo. Ainda é possível agir.

PS. Felizmente minhas filhas, Marlua e Mariana, não se enquadram no retrato de jovens e adolecentes apresentado acima.

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