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terça-feira, setembro 30, 2008

Labaredas escondidas nos olhares

Vento ventania luar
canta o povo na rua
venta o suor de um sonho
as estrelas se armam
a lua observa tudo

Cada passo fica no tempo
deixa seu traço de sangue e dor
ilusoes predominam
os olhos se fecham
a boca resseca
o coraçao fica apertado


As estrelas guerreiam
nao se sujeitam a escuridao
o vento espalha novos velhos sonhos
germinando a força de sementes brotando
a terra mesmo arida permanece fertil

Vento ventania luar
as estrelas seguem em luta
a lua tudo observa
repassando as liçoes aprendidas no tempo
o vento anima
o fogo nao se apaga

Labaredas brotarao

sexta-feira, setembro 26, 2008

Democracia, voto e direitos

A luta pelo direito ao voto no Brasil é antiga. Muitas dificuldades foram enfrentadas para conquistar o voto universal e secreto. Primeiro não se votava. Ainda viviamos como colonia, sob tutela do imperio. Na republica velha votavam apenas os que possuiam riquezas. Quem não possuia bens não tinha esse direito. Hoje todos e todas podem votar, tornando-se, inclusive, obrigatório esse ato que deveria ser um direito e não um dever.
No período repúblicano, antes dessa fase democrática e histórica que a sociedade brasileira atravessa, foram poucos os momentos que se vivenciou a liderdade e a democracia. A história do país é repleta de ditaduras e governos autoritários. Muitos, fascistas. Todos, no entanto, sustentados pelo poder econômico, principal beneficiado com a falta de liberdade e democracia.
O país saiu de uma ditadura feroz e cínica. Foram mais de 20 anos. Atos arbitrários, prisões, torturas, exílios e mortes. As organizaçoes da sociedade civil foram desmontadas. Seus dirigentes, perseguidos. Impuseram-se novos conceitos políticos, morais e sociais, nas escolas, igrejas e dentro da famílias, todos elaborados pelos detentores do poder. Visaram desmotivar, desmobilizar e alienar a população, antes atuante, crítica, militante e contestadora. A ditadura cumpriu um papel alienante e servil ao grande capital. Para isso não economizou em sua ferocidade.
Chegaram novos tempos. Os partidos comunistas, antes perseguidos e proscritos, foram legalizados. Aos movimentos sociais, proibidos pelo arbítrio, foi assegurada a legalidade democrática. A sociedade se mobilizou e passou a atuar de forma continuada e consistente.
O povo brasileiro viveu dois momento cruciais logo após o fim da ditadura militar. Primeiramente, de forma pacifica, destituiu o primeiro presidente eleito após esse triste periodo ditatorial. Decorridos pouco mais de uma década, colocou no principal cargo eletivo do país um dos principais líderes da resistência. Lula, dirigente sindical, líder de grandes movimentos grevistas no final dos anos 70 e fundador do PT, elegeu-se presidente. Cumpre o segundo mandato, com uma aprovação do eleitorado, segundo todas as pesquisas de opinião, de mais de 70%.
Apesar de todo esse avanço democrático, foram poucas as mudanças estruturais ocorridas, especialmente no campo economico. Os ricos continuam controlando a maior parte da riqueza, mesmo tendo havido um crecimento da classe média e uma redução da miséria, a riqueza continua concentrada nas mãos de poucos.
Entretanto, o que mais indigna é a adoção de certas práticas por todos que se dispõe a disputar algum cargos eletivos. Setores que antes combatiam o clientelismo e a existência do voto de cabresto, passaram a utilizar a mesma prática que antes apenas os mais reacionários - conservadores - direitistas, representantes das oligarquias usavam.
Em 2008 serão eleitos prefeitos e vereadores nos municípios brasileiros. Verifica-se que apenas os candidatos com dinheiro para comprar votos estão em melhores condições de conseguirem vitorias nos pleitos. Pagam-se de R$20,00 a R$50,00 por voto. Usam-se vários argumentos para burlar a legislação que, em alguns aspectos, tornou-se mais rígida. A eleição se tornou um leilão, disfarçado de mercado de mão de obra. Contratam-se pessoas para segurar bandeiras, paga-se para colocar propagandas em veículos, em muros, residências e distribuir materiais. É uma feira livre de votos. Há candidatos que contratam o dobro de pessoas dos votos que são necessários para serem eleitos. Contam com uma quebra de 50%. Contam com sua eleição assegurada. Essa prática se dá em todos os partidos, com exceção dos considerados de ultra esquerda, que ainda mantêm a prática da militância e do debate com a sociedade. Partidos que se dizem da esquerda tradiconal ou da velha direita disputam a cada lance a compra do eleitado nas ruas, bairros ou residências, como se fossem balcões ou feiras.
Por outro lado, passa-se para a sociedade que a população, por meio do voto, poderá controlar o Estado, escolhendo livremente os governantes e legisladores. Engano. Há um cinismo assustador e uma cumpricidade suicida. Os candidatos sabem que estão comprando votos e manipulado o pseudo processo "democrático". A população faz de conta que tem consciência e escolhe livremente. É um teatro histórico. Enquanto isso a elite conserva seus privilégios e se diz alheia a tudo isso. Como dizia Brecht, chega a "estufar o peito e dizer que odeia a política", enquando seus sicários, jornalistas de plantão nos telejornais continuam repetindo um discurso alienador e fortalecendo a ignorância e assegurando a miséria.
Onde vamos parar? Os movimentos sociais, sindicatos e outras organizações de massa, em sua maioria, nada fazem para mudar isso. Ao contrário, muitos chegam a aproveitar a "boquinha".
Se o sonho de uma sociedade mais justa, mais fraterna, onde não seja aceito a exploração, onde os governantes corruptos, que tudo fazem para ter acesso ao poder, sejam varridos e colocados em seu lugar da história, o lixo, não for resgatado para onde seguiremos? O vale-tudo que se torna uma regra no jogo politico precisa ser combatido, sob o risco de o fascismo prevalecer. A democracia direta e participativa deve ser aprofundada, assegurando para toda a população uma vida digna e respeitosa, onde cada cidadão ou cidadã, nos períodos eleitorais ou não, tenham discernimento de seus direitos e deveres, principalmente o de assegurar um Estado democrático, repúblicano, com uma sociedade justa, onde o trabalho seja o determinante e não o capital.
O socialismo é o único caminho para se contrapor a esse capitalismo contemporâneo que torna as pessoas insignificantes e objetos nas mãos de pretensos líderes, que na realidade não passam de aventureiros em busca de poder e dinheiro. Só o povo organizado poderá mudar o rumo da história.

quarta-feira, setembro 17, 2008

A POLÍTICA DOS EUA NA BOLÍVIA*

Os movimentos de um embaixador especialista em conflitos separatistas

Deputados bolivianos divulgam documento denunciando as articulações promovidas pelo embaixador dos Estados Unidos na Bolívia, Philip Goldberg, contra o governo de Evo Morales. Considerado um especialista em conflitos separatistas, Goldberg foi enviado a La Paz depois de chefiar a missão dos EUA no Kosovo, onde trabalhou para consolidar a separação e a independência dessa região, depois da Guerra dos Balcãs.

Marco Aurélio Weissheimer

Quatro deputados do Movimento ao Socialismo, partido do presidente da Bolívia, Evo Morales, divulgaram um comunicado denunciando ações do governo dos Estados Unidos, por meio de seu embaixador em La Paz, Philip Goldberg, para derrubar o governo eleito do país. César Navarro, Gustavo Torrico, Gabriel Herbas e René Martinez relacionam um conjunto de fatos ocorridos nos departamentos da região leste do país que obedeceriam a uma estratégia fixada pela oposição em conjunto com o embaixador Goldberg.

Os fatos apontados pelos parlamentares bolivianos são os seguintes:

No dia 13 de outubro de 2006, os Estados Unidos enviam a Bolívia, como embaixador, Philip Goldberg, um especialista em fomentar conflitos separatistas. Entre 1994 e 1996, foi chefe da secretaria do Departamento de Estado para assuntos da Bósnia (durante a guerra separatista dos Bálcãs). Entre 2004 e 2006, Goldberg foi chefe da missão dos EUA em Pristina (Kosovo), onde trabalhou para consolidar a separação e a independência dessa região, marcada por uma luta que deixou milhares de mortos.

Segundo os deputados, Philip Goldberg foi enviado a Bolívia com a missão de desestabilizar o governo de Evo Morales, principalmente incentivando o separatismo das regiões orientais. Na Bolívia, depois do triunfo de Evo Morales na eleição de 18 de dezembro de 2005, os partidos tradicionais e as elites sofreram um duro golpe, Goldberg se encarregou de reorganizá-los e de construir um caminho conspirativo para desgastar o novo governo.

Plano midiático de desinformação
Goldberg organizou uma grande coordenação com empresários do leste, com donos de meios de comunicação e políticos do movimento Podemos para colocar em marcha um grande plano de desinformação com respeito à gestão de Evo Morales, tudo isso dentro do marco de uma intensificação das lutas regionais contra o Estado boliviano. Esse plano de desinformação era constituído pelos seguintes passos:

a) Mostrar que o narcotráfico estava crescendo na Bolívia;
b) Os meios de comunicação precisavam mostrar que Evo estava governando mal e que a inflação, a corrupção e o desgoverno estavam crescendo;
c) Os meios de comunicação também deviam imputar ao governo a responsabilidade pela violência no país. Começou a ser difundido aí o conceito de que “Evo dividia a Bolívia”.

Consolidados esses passos, Goldberg reúne-se, na primeira semana de maio, com Jorge Quiroga e acertam a aprovação, no Senado, do referendo revogatório.

Eles estavam convencidos que Evo Morales não conseguiria obter mais de 50% dos votos e, uma vez deslegitimado nas urnas, a oposição e os prefeitos da chamada “Meia Lua” pediriam a renúncia do presidente por “ilegítimo, mau governante e por dividir a Bolívia”. No entanto, os prefeitos dos departamentos (equivalentes a governadores) não foram consultados sobre este plano e acabaram se opondo a ele, por achar que não daria certo. No dia 23 de junho, reúnem-se em Tarija e elaboram um pronunciamento escrito para rechaçar o referendo revogatório. Dias antes, em 17 de junho, Philip Goldberg viajou para os EUA, alegando uma suposta crise diplomática.

O objetivo real de sua viagem, dizem os deputados, foi definir um plano, junto a agências publicitárias, para desenvolver uma guerra suja que pudesse causar a derrota de Evo no referendo. No dia 2 de julho, Goldberg regressou a La Paz e, imediatamente, reuniu-se com cada um dos prefeitos opositores para convencê-los a aceitar o referendo. No dia 5 de julho, os prefeitos opositores anunciam que aceitam disputar o referendo.

Os donos das grandes empresas de comunicação também participaram deste plano, denunciam os parlamentares. Isso explicaria, por exemplo, porque nos principais programas políticos destes meios as pesquisas sempre apontavam Evo Morales com cerca de 49% dos votos. A tentativa de derrubada do governo pelo voto estava em marcha. Além desta campanha nos programas políticos, também foi executada uma outra no terreno da publicidade. A oposição contratou uma agência de publicidade para elaborar os primeiros spots contra Evo Morales. Ao dar-se conta que os roteiros e o dinheiro vinham dos EUA, esta agência decidiu não produzir mais os comerciais.

O Plano B do embaixador
O plano para tirar Evo do governo acabou sendo frustrado pelo resultado do referendo. O presidente se legitimou com mais de 67% dos votos e Goldberg passou então a colocar em marcha um Plano B, que incluem greves, bloqueios e ações violentas que buscariam dois resultados alternativos.

1) O conflito se generaliza e obre o leste e parte do oeste do país. A população começa a se cansar, as forças da ordem entram em ação, com muitas mortes. Neste caso, Evo teria que convocar eleições ou deixar o governo depois dos conflitos com mortes. A insistente provocação para que as forças policiais e as forças armadas atuem se encaixa neste plano.

2) Caso não ocorra o cenário anterior, a oposição contaria ainda com uma segunda possibilidade: uma vez desalojada a polícia e o Estado Nacional das regiões, em meio à violência, Goldberg oferece aos prefeitos opositores a vinda de mediadores internacionais, inclusive tropas da ONU para concretizar o separatismo dos quatro departamentos rebeldes, como fez no Kosovo.

Seguindo esse plano, Goldberg viajou a Sucre e se reuniu com a prefeita Savina Cuellar, que pediu a renúncia do presidente. No dia 21 de agosto, o embaixador encontrou-se clandestinamente com o prefeito de Santa Cruz, Rubén Costas, e com quatro congressistas norte-americanos. No dia 25 de agosto, mais uma reunião com Rubén Costas. Paralelamente, a oposição rejeitou o chamado de diálogo feito pelo governo e, no dia 24 de agosto, convocou uma greve geral. Seguindo a linha proposta por Goldberg, denunciam ainda os parlamentares do MAS, os prefeitos impuseram um plano de desgaste de médio prazo, incluindo destruição de instituições públicas e provocações à polícia e às forças armadas.

Na mesma linha golpista, em Santa Cruz e em Tarija começou-se a falar de federalismo e até de independência. Como o empresariado cruceño estava mais interessado na Feira de Santa Cruz (que deve iniciar no dia 19 de setembro) que nas greves e bloqueios, o Departamento de Estado convocou Branco Marinkovic para uma conversa nos EUA. No dia 1° de setembro, em um pequeno avião Beechcraft, matrícula C-90A, Marinkovic viajou aos Estados Unidos onde o convenceram de que o plano estava em sua trama final e que era preciso jogar-se todo nele. No dia 9 de setembro, horas depois do regresso de Marinkovic a Santa Cruz, iniciam protestos violentos, com invasão e queima de instituições públicas e novas agressões às forças armadas e à polícia.

Este é o plano golpista que está em marcha com o apoio da embaixada dos EUA, dizem os deputados. Foram essas razões, asseguram, que levaram o governo boliviano a pedir sua saída do país. Eles manifestam confiança que esse plano fracassará porque o governo de Evo Morales segue controlando o conflito, com paciência e dentro da legalidade, mantendo-o em sua dimensão regional. “A violência gerada por grupos impulsionados por este plano golpista é a forma pela qual os setores conservadores mostram sua decisão de acabar com a democracia, já que ela não serve mais aos seus interesses”, concluem.


* Extraído da lista da Assembléia Popular, em 15/09/2008.

terça-feira, setembro 02, 2008

Candidatos superam diferenças eleitorais e se unem ao reverenciar a memória de parlamentar assassinado

Candidatos à prefeitura de Belém, autoridades e lideranças populares se mobilizaram para prestigiar o lançamento do livro João Batista, mártir da luta pela reforma agrária. Violência e impunidade no Pará. O ato mostrou que mesmo depois de vinte anos do assassinato do advogado João Carlos Batista, ocorrido em 6 de dezembro de 1988, a sua memória ainda contribui para mobilizar a esquerda e o povo paraense.

Numa quente noite de quarta-feira, 27 de agosto, em plena campanha eleitoral, Arnaldo Jordy (PPS) e Leila Márcia (PC do B), candidatos a prefeito e vice – prefeita, respectivamente, mesmo em chapas diferentes, deixaram a disputa pelo voto e se uniram para falar da importância que o biografado teve na luta do povo. Além dos candidatos majoritários, sentaram a mesa oficial do auditório deputado João Carlos Batista, na Assembléia Legislativa do Pará, o secretário de Estado de Cultura, Edílson Moura (representando a governadora Ana Júlia Carepa), o vereador Paulo César Fonteles (PT), João Leonardo e Márcia Maria, filhos de Batista, o autor e Ney Leal, que coordenou o evento. O representante da Comissão de Direitos Humanos da OAB/Pará, Dr. Paulo Barradas também se fez presente.

Inúmeros discursos foram realizados. Muitos recordaram o tempo da militância de Batista, como o do professor de sociologia da UFPa, o antropólogo Alexandre Cunha, fundador e presidente do Comitê Paraense pela Anistia, no final da década de 70, que destacou a importância daquele jovem estudante nas lutas daquele tempo. Segundo o professor a militância de Batista rompeu todas as barreiras e paradigmas, conseguindo aglutinar lideranças e populares ao seu redor. Falas de vários jovens, filhos de companheiros do advogado, mostraram que a luta pela reforma agrária, contra o latifúndio, a impunidade e a violência permanece com a mesma força. Os jovens Josélio, Samir, Benildo e Marcos reafirmaram a disposição de continuar a luta e seguir o exemplo de Batista. Deixaram claro que não deixarão a memória desse mártir da luta pela reforma agrária se tornar instrumento a serviço da demagogia e ou ser colocada no ostracismo.

João Batista, mártir da luta pela reforma agrária. Violência e impunidade no Pará é uma biografia que cumpre importante papel na formação histórica e política do povo brasileiro na atualidade. Segundo João Pedro Stédile, prefaciador, “é o retrato da vida e dedicação de um dos melhores filhos da classe trabalhadora – que pagou com a própria vida por sua coerência”. E neste momento de crise ideológica para certos setores da esquerda, resgatar referenciais que apontem à importância da luta do povo é fundamental. O livro mostra as entranhas dos movimentos ocorridos no campo entre 1965 e 1988, possibilita a descoberta da importância da luta para alguns e aviva a memória daqueles que esqueceram o caminho percorrido para se chegar nos dias atuais.

João Batista, mártir da luta pela reforma agrária. Violência e impunidade no Pará
Expressão popular
280 páginas
R$ 30,00
Pedidos: pcbatis@gmail.com