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terça-feira, fevereiro 19, 2013

Igualdade x Liberdade

Aos nossos filhos

Por Pedro César Batista

É bastante antiga a discussão sobre o que é mais importante, se a igualdade ou a liberdade. Os defensores de cada uma das posições usam os mais variados argumentos. Desde a busca pela explicação da existência humana, com os religiosos dando sua versão, ou com a fundamentação liberal de que cada ser deve se preocupar em ser produtivo e capaz de estar inserido e com sucesso no mercado. Os mais diversos argumentos são utilizados para privilegiar a liberdade. A pós modernidade trouxe a certeza de que se precisa apenas viver o momento, o passado e o futuro não importam. A igualdade é um retrocesso, alguns chegam a dizer.

Cresce a defesa da liberdade, fundamentada no direito de consumir, usufruir os bens descartáveis produzidos pela revolução tecnológica, de vivenciar cada vez mais as oportunidades que fortalecem o individuo em detrimento da comuna, dos grupos sociais, especialmente os mais fragilizados econômica e intelectualmente. A liberdade propalada é do tamanho do poder aquisitivo de quem poderá usufruí-la, compra-la em lojas de magazine em luxuosos Shoppings Centers.

O Estado que deveria servir a toda à sociedade, especialmente aos mais necessitados, cada vez se torna mais excludente em suas ações, mais eficaz no atendimento aos interesses dos que controlam a riqueza, o conhecimento e à política. Os governantes, independente de partidos, transformam-se em serviçais dos valores do sistema que se sustenta no individualismo e consumo.

O personagem representado por Maria de Medeiros, na peça Aos nossos filhos, de Laura Castro, afirma durante um diálogo para a sua filha: “Hoje vocês podem escolher, no passado, nem isso podíamos”. Usou o argumento para mostrar que os que lutaram contra a ditadura e foram obrigados a enfrentar as piores adversidades, tais como a tortura e a morte, não tinha outro caminho, a não ser o da luta renhida e dura. Enquanto a juventude da atualidade preocupa-se predominantemente pelas questões da individualidade, em detrimento da busca de um sonho coletivo.

Claro que esse comportamento não se limita a juventude, assim como os que ainda combatem os conceitos propalados pelo liberalismo são de todas as idades. O que importa não é a faixa etária, mas a necessidade de se romper os valores que se sustentam no lucro e no consumo. É preciso resgatar a história, os sonhos e a utopia em um mundo onde todos tenham a igualdade de oportunidades de acesso ao conhecimento, à dignidade e aos sonhos.

O texto da peça Aos nossos filhos mostra o que conquistamos e entregamos aos jovens da atualidade, apesar de estar literalmente tudo dominado pelos valores liberais, pode-se viver a liberdade do debate e das discussões, sem o medo do “desaparecimento”. Diante desse quadro qual será a herança deixada aos meus netos, bisnetos e tataranetos. O que virá?

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