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sexta-feira, abril 25, 2025

Mais um dia - conto



- Bom dia. Falei com a pessoa que cruzou comigo na calçada sob as árvores.

Não houve resposta, ela seguiu como se nada tivesse ouvido.

Continuei até o ponto de ônibus. Peguei o primeiro que passou, estava quase cheio, consegui sentar após a porta de saída do meio do veículo de passageiros.

Quase todas as pessoas no ônibus estavam no celular, ninguém conversava. Alguns mais jovens com fones de ouvido.

A cobradora, que controlava os passageiros que passavam na catraca, também em seu aparelho de soslaio olhava quem passava.

Mesmo algumas pessoas que estavam em pé miravam a tela do celular.

Via-se nos olhares dos passageiros total concentração nas telinhas do aparelho, não mais apenas um telefone, nele se podia quase tudo, principalmente dominar almas, formar valores, controlar movimentos.

Nos automóveis que pararam no farol, os motoristas não perdiam tempo, pegavam o celular e olhavam a tela brilhante do celular.

Ouvia-se apenas o barulho do motor e das rodas sobre o asfalto.

Mais um dia na capital federal, onde a solidão se misturava com a total concentração naquela poderosa arma.

O ônibus seguiu.

Pedro César Batista