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segunda-feira, maio 14, 2007

FRIO PREOCUPANTE

Pedro César Batista

Certo dia, depois de sair de uma licença médica de duas semanas, fui acometido por um profundo e assustador sentimento de impotência diante da insensibilidade da juventude nos dia atuais.

Como privilegiado que sou retornei às aulas da faculdade. Agora, curso direito. Não que eu seja uma pessoa torta. Optei por esse curso por me considerar uma pessoa sensata e preocupada com a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Advogando poderei ser mais útil à sociedade, especialmente aos mais necessitados. Não tenho o interesse em ser juiz, procurador em nenhuma escala ou delegado de qualquer polícia. Não tenho pretensão em fazer concurso público. Pretendo exercer essa profissão utilizando-a como uma ferramenta concreta na defesa do Direito. Direito tão distante e usurpado da maioria do povo.

Deixando essas coisas de opções pessoais de lado, a finalidade deste artigo é falar do susto que tomei. Durante uma aula de Direito Civil I, perguntei para a professora, em voz alta, como é meu costume, qual procedimento deveria ter para justificar minha ausência durante 15 dias, pois faria uma cirurgia e teria que me afastar das aulas. A professora, chamada Ana, lembra uma “tia”, como as crianças costumam chamar seus professores, graças ao método que ela utiliza em sala, secamente, respondeu-me que deveria procurar a coordenação de curso e obter a informação que estava pedindo.

Depois da cirurgia, quando tudo transcorreu bem, retornei a sala de aula. São aproximadamente 60 alunos. Sentei e ninguém se interessou em saber como havia sido a internação, o tratamento, o que tinha ocorrido, qualquer coisa relacionada à minha ausência da sala naquelas duas semanas. Apenas dois colegas fizeram-me perguntas e desejaram saúde, atitude que deveria ser comum a todas as pessoas com um mínimo de educação, independente do nível de relacionamento que essas pessoas possuam. A frieza da turma e da “tia” Ana deixou-me assustado. Porque será?

No dia seguinte, em outra turma que estuda Teoria Geral do Processo, aconteceu o oposto, o professor Mário e meus colegas chegaram a fazer circulo ao meu redor para saber como estava depois da cirurgia. Fiquei pensando o motivo daquela contradição. Talvez seja o método utilizado em aula pelos professores, enquanto uma aplica a discórdia, a competição e o terror como método, a aula do outro se dava com entrosamento e respeito entre alunos e o professor.

Se estudantes e docentes de nível superior são tão frios com seus colegas, preocupa-me qual será o comportamento desses profissionais quando forem advogados, juízes, delegados e promotores. Será que terão como parâmetro a efetivação do direito ou apenas a satisfação pessoal de seus interesses, nesse mundo onde o salve-se-quem-puder somente avança?

O futuro da humanidade será bem melhor se repensarmos a nossa prática cotidiana, sabendo que o cuidar do universo passa pelo cuidado e a relação entre as pessoas, à natureza e o planeta, principalmente com os que tiveram o privilégio de serem privilegiados nesse mundo repleto de injustiças e exclusões.

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