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quinta-feira, setembro 03, 2015

Mar-morto






Nem bem comecei a viver,
aprendia a descobrir o calor e a cor do sol,
sentir o cheiro do vento.

Começava a olhar o horizonte,
a aprender a navegar,
a buscar a vida,
que começava a se desvendar
aos meus olhos marejados.

Meu tempo foi encurtado,
mal havia começado a andar,
a dar os primeiros passos,
falar minhas primeiras palavras.

Nem descobri a vida,
tentei escapar da fome,
sobreviver a guerra,
esconder-me das balas assassinas,
financiadas pelos ricos de países ricos.

Chorei de medo,
chorei devido o frio,
chorei sem entender que a morte chegava.

Tudo porque saquearam minha terra,
massacraram meu povo,
destruíram nossa comunidade.

Dizimaram a vida sem dó,
destruíram tudo,
roubaram nossas riquezas,
somente isso interessava ao invasor.

Nem cheguei a aprender a gritar,
não aprendi a repudiar a mentira,
nem a combater o opressor.

Terminei na beira da praia,
jogado pelas ondas do mar.

Nem cheguei a aprender a cantar,
não cantei a vida,
não cantei a liberdade,
nem conheci a esperança.

Meu fim chegou antes do meio dia,
como fosse uma pétala,
arrancada e jogada ao mar.

Pedro César Batista