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sábado, julho 10, 2010

Um povo que tem muito a ensinar.


“Dame La mano y danzaremos;
Dame La mano y me amarás.
Como una sola flor seremos,
Como una flor, y nada mas...

Gabriela Mistral

Conhecer a terra de Manuel Rodriguez, Gabriela Mistral, Pablo Neruda, Victor Jara e Violeta Parra foi mais um passo na busca de inspiração para a caminhada na construção de um mundo melhor. Mais uma oportunidade para fortalecer laços e criar amizades na luta do povo latinoamericano, alimentando sonhos e fortalecendo a resistência ao neoliberalismo.

O Chile tem uma história rica, cheia de conquistas e com muitas experiências de lutas populares. Em 1818 proclamou a república, tendo vivido ao longo da história a liberdade e a democracia. O seu povo sempre respirou a democracia e foi politizado, mesmo enfrentando a violência dos poderosos, como o massacre no início do século XX, em Santa Maria de Iquique, quando milhares de trabalhadores que lutavam por condições mínimas de sobrevivência foram mortos.
O golpe de 11 de setembro de 1973, dado por um grupo de militares, comandados pelo sanguinário Pinochet, coordenados pela CIA EUA, tomou o poder e impôs a violência desmedida, o obscurantismo e a dor. Foram longos 17 anos com os militares no poder, perseguindo, prendendo, torturando e matando. Deixaram um saldo de 30 mil mortos em um país com uma população de cerca de 17 milhões de habitantes (2010). Mais um massacre na história dos chilenos.

(O Brasil somente implantou a república em 1889 - quase 70 anos após o Chile. Em nossa história conhecemos espasmos de liberdade. As ditaduras e a opressão predominaram. Durante a última ditadura no país os militares brasileiros, através da Operação Condor, chegaram a treinar os torturadores de Pinochet. Felizmente estamos sustentando a democracia, apesar de ainda faltar muito para uma sociedade justa como necessitamos.)

O Presidente socialista Salvador Allende resistiu ao golpe de 73, sendo assassinado dentro do Palácio de La Moneda. Mesmo com milhares de mortos, os chilenos resistiram e derrotaram a ditadura em 1990. Assim tem sido a luta desse povo irmão, buscando preservar a democracia e a liberdade.

A hospitalidade dedicada lembra o povo brasileiro. Tem suas características próprias, certo jeito europeu, misturado com as culturas indígenas ao sul da América. Apaixonado pelo futebol, mas capaz de colocar em primeiro lugar seu patriotismo e a defesa nacional, sem deixar de lado o fortalecimento de sua cultura e seus ideais de justiça.

Todos os governos após Pinochet foram de uma aliança de centro esquerda, denominada Concertácion, que preservou a política econômica da ditadura e consolidou o neoliberalismo. Na eleição presidencial de janeiro de 2010 foi eleito, em segundo turno, Sebatian Pinera, remanescente do grupo do grupo pinochetista. Pinera, inclusive, é dono do time de futebol Colo Colo e um milionário.

Uma terra de grandes poetas. Gabriela Mistral fala do sonho de um mundo melhor, assim como Pablo Neruda – que morreu dias depois do golpe militar, ainda hoje inspira sonhos, esperança e resistência. Ambos receberam o Nobel de Literatura. As canções de Victor Jara e Violeta Parra continuam sendo cantadas e animando a resistência chilena e popular em todo o mundo.
As políticas neoliberais impostas por vários governos na América Latina sustentam-se no consumismo. Muitos turistas não conhecem a história da luta do povo chileno, mas voltam aos seus países lotados de compras.

As elites evitam debater e resgatar a vida de seus mártires, mesmo tendo tornado público os arquivos da ditadura, o que no Brasil ainda é heresia até mesmo falar. Governantes serviçais ao neoliberalismo em todo o continente tentam impedir o povo de conhecer os crimes praticados por ditadores a serviço dos EUA.

O Chile é uma terra de vinho, poesia, resistência e luta. Mesmo com toda a força do sistema seu povo segue glorioso em sua caminhada. Temos muito a aprender com eles.

Por Pedro César Batista

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