Por Pedro César
Batista
Um novo ano se
aproxima. O ano que fica deixará ensinamentos sobre a necessidade de
se conhecer a história do desenvolvimento humano e da sociedade.
Reafirma-se a necessidade de se saber de onde viemos, como aqui
chegamos e ter claro para onde desejamos ir. Em algumas horas
entraremos no 16º ano do século XXI, meu 52º ano de aprendizados e
descobertas, mais de meio século de vida e sonhos.
Na adolescência
acompanhei os estertores da ditadura de 1964. Presenciei a polícia
com seus cães nos atacar porque queríamos democracia. Quantas vezes
a polícia esteve em nossa casa para intimidar e ameaçar. Conheci o
arbítrio, com invasões de domicílios, prisões arbitrárias,
espancamentos, torturas e mortes. Certa vez fui agredido fisicamente
pelo delegado Mário Malato, dentro do DOPS, após ser preso devido
uma greve, enquanto outros companheiros eram brutalmente espancados.
A luta do povo levou
a mudanças, as quais foram conquistadas e legitimadas pela
Constituição de 88, que trouxe um arcabouço jurídico assegurando
a liberdade, direitos e o direito a participação na definição dos
rumos do país. Trouxe uma democracia que manteve o controle nas mãos
de poucos, apesar de assegurar a liberdade de se organizar,
manifestar e pensar. O voto não mexeu com nenhuma estrutura.
Dias depois da
promulgação da Constituição a UDR, comandada por Ronaldo Caiado,
matou meu irmão, João Batista. A UDR, organização paramilitar,
impediu importantes avanços durante o processo constituinte, além
de ter assassinado centenas de defensores da reforma agrária.
Assassinos e torturadores, no lugar de serem punidos, tornaram-se
parlamentares, seguiram impunes.
Ainda assim,
companheiros chegaram ao governo, mudanças ocorreram, nenhuma
estrutural, consolidando a liberdade, apesar do mercado e dos EUA
seguirem controlando sonhos, desejos e almas. Cada vez mais sutis e
poderosos. A Guerra da Quarta Geração segue em curso, destruindo
nações, propagando mentiras e arregimentando seguidores. A luta de
classes não deixou de existir, apenas adquiriu novos formatos.
Os novos tempos
trouxeram novos paradigmas, propagados e sustentados pela mídia,
igrejas e a educação, baseados no individualismo e no
desconhecimento do passado da história, provocando uma ruptura com o
tempo de desenvolvimento social que nos permitiu chegar aos dias
atuais. Predomina, em muitos casos, o imediatismo, hedonista e
dissimulado, criado pela sociedade de consumo, unicamente voltado
para a satisfação de interesses privados e conservadores.
Se em 2015 vivemos o
surrealismo de jovens defendendo a volta dos militares e a propagação
avassaladora de mentiras históricas, torna-se premente retomar o fio
do tempo, dar-lhe uma direção que priorize a continuidade do
desenvolvimento das liberdades, do respeito e da dignidade humana.
2016 será um ano de intensos combates, dos quais não fugiremos,
somente reforçaremos nossas trincheiras, nossos ideais e sonhos. O
tempo segue, há muitas sementes para espalhar, muitas luas para
vivenciar e muita poesia para germinar.
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