Páginas

sexta-feira, julho 24, 2020

A máscara mostra a cara



Segundo a ciência os meios para enfrentar a covid-19 são simples: uso de máscara, distanciamento, higienização das mãos e o isolamento social. Nada além foi indicado. O que vai além disso é crendice popular ou charlatanismo.

Aqui, entretanto, quero falar de máscaras.

Não sei dizer de outros países, não tenho conhecimento.

O que vemos no Brasil é um desfile de tapa-bocas, como se diz em espanhol.

O vice-presidente, general saudoso da ditadura, vai a atos oficiais com a máscara de seu time preferido. O presidente, o capitão fascista, mesmo com covid-19, segue espalhando a morte, circula em público sem máscara, satiriza a dor das famílias enlutadas e tenta usar a ema do Alvorada como garota propaganda da cloroquina.

Enquanto isso, por onde se passa, não faltam máscaras de todas as cores, tecidos e estampas. O uso indica o gosto da boca tapada.

As mortes batem a tenebrosa marca de 85 mil vítimas, a imensa maioria pobres e negros. Para os povos indígenas parece existir um plano especial. O presidente vetou a distribuição de água, cestas básicas, sementes e ferramentas agrícolas nas aldeias. Já passam de cem os povos com casos de contaminação e mortes. É hora de seguir o genocídio com quem incomoda a opulência e os poderosos.

A maior parte das residências no país segue sem saneamento, milhões de famílias não possuem nem mesmo água para lavar as mãos. O auxílio estatal segue sendo um alvo inacessível para mais de 10 milhões de pessoas. Filas intermináveis se formam na frente da Caixa Econômica.

Mas o assunto aqui são as máscaras, os tapa-bocas. Parece um desfile de moda. Senhores e senhoras mandam suas costureiras produzirem máscaras com tecidos caros, seda, linho e de acordo com a estampa que mais combina com seus luxuosos trajes.

A Casa Grande segue sua trajetória neste imenso território tupiniquim. Os moradores da Senzala que se virem, não importa que suas máscaras são reutilizadas, não tem álcool, suas casas não têm janelas para ventilação, não podem manter o distanciamento ou menos ainda o isolamento, pois não pode parar a economia.

Este é o novo que se apresente pós pandemia. Este é o século XXI.

Pedro César Batista

Nenhum comentário: