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quinta-feira, setembro 29, 2005

CORAÇÃO DE BOI - 1984

Dedico á Ogma,
Uma flor
Que me deu
Nova vida.



******


Pedro César Batista, nascido em 26/06/1963, em Álvares Florence- SP, veio para o Pará aos dois anos. Aqui vive ate hoje e daqui não pretende sair.

É militante do Movimento Popular, ex- Diretor da UBES- União Brasileira dos estudantes Secundaristas (gestão 83/84), eleito pelo movimento Estudantil AVANTE, do qual foi fundador. No primeiro Congresso Paraense de Escritores, ficou na suplência do Conselho Provisório.

Começou a publicar no mimeógrafo (março de 80), em Belém, o livreto “Tudo Tem”. Em junho do mesmo ano publicou “E aí?”, em Brasília. Na capital do Pará, publicou “Poesia Matutai”, e “Letras Livres”, com dois companheiros. Participou das coletâneas: “Revoada de Poetas em Ilhéus” (Bahia), “Os Inéditos” (Brasília) e “Enluadonovo” (Pará).

Seu livro “Coração de Boi” sai agora em 2ª edição ampliada e ilustrada, desde que a 1ª foi feita no Maranhão, em fevereiro de 1983.


*******


A
Todos
Os trabalhadores
(Lavradores,
Pescadores,
Sofredores,
Pensadores)...
Do Maranhão,
Do Brasil,
Do mundo:
Coração de boi!




*****


Um coração bem grande
Revoltado
Ansioso
Corajoso
Como o do nosso povo.




***


Passou-se a eleição
O gado
Vive a seca
O pasto
Está pisado
E nada bom
Foi o resultado.

Quem ganhou
Foram os culpados
Da seca.

Virá chuva
Com luta do povo
Unido lado a lado
Derrotar os safados.

Do sangue do coração
Nascerá
Uma bela plantação.




***


Música é lira
Lira e seca.
Boi morto
Coração grande,
Como vida
Da música da seca.
Aqui
No maranhão sempre ação,
Como luta,
Balaiada,
Fazendo o novo povo.
Povo com nova música,
Com coração grande
De boi.




***



Noite de calor,
Caminhar,
Respirar...
No mar
O dia raiando...
Como viver
A trabalhar
Para o mundo
Em flores
Transformar.

Mar mundo
Cheio de flores,
De vida...




***



Trazer o rango,
Como boi
Sem coração
(fígado)
Com coisa
De rio
chorando
Por vida.




***


Vi o ar olhar
O rio
Sangrava
Meu
S
A
N
G
U
E....




***


...por olhar
Meu coração
Gritei:
Paixão é você
verde
mar
Com dor de amor.




***

Cana
Com
Mãos
Dadas
Com
Cachaça
Com desejo
Proibidos.
Você
Campo
De flores.


***


Rapte-me
Menina boa
Com sangue
Jorrando
De vida
Nova
Cheirando
Campo
Florido.



***



Ter ¼ de coração
Comprado no açougue,
Quero inteiro
Vindo do coração.



***


Alcântara

Pedra sob pedra
Vidas velhas
Nas lembranças.
Jovens em rodas:
Um mais um...
A chegar de todos
Os lugares.
Belos, vivos, novos
Olhos
Para o mar
Fazendo
Vida ter o ar.




***


Um velho
De um coco
(talhado)
Parecido gente,
Da prateleira do bar
Olhava todos
Com olhos fechados




***



Nu

Eu nu na rua
Sem rosto,
Sem braço,
Sem mão,
Sem pé,
Sem boca,
Sem ouvidos,
Sem olhos,
Sem pernas,
Sem você
Olhando a lua.


***



Dor

Olhos cheio de dor,
Horror do amor,
Por traz o pavor
Da fome,
Da morte,
Sedenta de vida,
Livre,
No canto de rua,
Sem luz, escura,
Sem sol, enluarada,
Com estrelas andando,
Só.
Olhos nos ares,
Sem falar da dor.


***


A
mar
Ar
Pela vida
Para viver...

A
Mar
Ar
Respirar...



***



Dá-me a mão,
Como se fosse flor,
Jasmim,
Colhido no coração,
Com olhos acreditando
Nas mãos
Que semeiam
A nova plantação.


***


A flor
Nasce
Como a vida
Para amar
As flores.

***


Boi sem coração
Apaixona
Deixando-se
Sangrar
Ficando
De coração grande
Sem saber sal força
Não estourando a cerca
Para com coração ficar.


***



Parado
Na estrada
Parado
Entro eu
Muito boi
Muita coisa
Muita cor
Muito amor
Por você
Flor
Nova de vida.


***



Coroatá
Como você
De repente
Coração de boi
Sonhos
Amores
Beijos
Você.



***
Paixão é você
Olho
De coração
Com amor
De vida
De beijar eu
Sem você
Sentindo tu...



***



Nova flor
Vida flor
Criança flor
Chora como o sol
Ao ver
A lua
Tendo que se ir
De meus olhos
Criança fofa.


***


Vi minha cabeça rolar.
Estava decapitada.
Vi meu sangue saltar.
Estava embriagado.

Ao nascer do dia
Bebeu sangue
Olhando a trilha
Para seguimos:
Unidade contra a situação.
Sem coitado
Nem miserável.
O coração com todos dentro
Fazendo o sangue vivo
Fertilizar a justiça
Estava ao teu lado
E agora...

***

Olhos do coração
Fazendo canção
Para
A nova Plantação.




Lacerda Alencar, poeta-irmão,
Cearense-candango, tem seu poema “Espia” a seguir, junto ás declarações de Jorge Alcântara, irmão do Maranhão.




Espia

Olha!!
Você um dia me sorriu.
Noutro dia falou comigo.

Fui te procurar,
Não te encontrei.
Minha sina é viver assim.
(Lacerda Alencar)

***
O gostar é tão louco
Que
Nos apavoramos
De gostar
Tanto.
(Jorge Alcântara)




A edição desta obra pela
Imprensa Oficial do Estado, encaixa-se
no plano desta Autarquia, de apoio
aos novos valores da cultura local.

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